Cutucando a onça com vara curta

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Kai tem esse dom de interpretar qualquer sinal corporal, se ele tem uma oportunidade para seguir em frente, assim ele faz.

Claro.

Também não posso dizer que não dei nenhum sinal verde até agora, meu corpo sempre fala por mim. Kai sabe melhor disso do que ninguém.

Além disso, ele está instigando cada parte do meu ser para ver até onde eu consigo aguentar. Estou em luta constante entre minha luxúria e minha moral, e não é nada simples quando está vivendo com a cobra e o fruto proibido sobre o mesmo teto há dez dias — que pasmem, ambos são a mesma pessoa.

O jeito que arrumei foi evitar estar no mesmo cômodo que ele, o que parece bem rude, mas não me importo, preciso evitar suas investidas.

O MacBook que ele me deu está sobre meu colo e sei que ele saiu há uma hora, portanto tenho um pouco de paz para escrever e ouvir minhas músicas. Ele sempre demora cerca de quatro horas no dojo, dando aulas de artes marciais, pelo menos foi o que me disse.

Meu pen drive secreto pisca na entrada USB, estudo seu conteúdo mais uma vez, mesmo que meus arquivos sumam, terei eles gravados na minha cabeça.

Meu conhecimento é minha arma mais poderosa, especialmente agora nessa roleta russa que se transformou minha vida. Não sei como vou sair dessa, mas procuro pensar nisso o mínimo possível para não acabar com um colapso mental.

— Acho que você deveria treinar com ele, pode ser bom saber se defender. — Dou um salto na cama quando a voz de Will toma o espaço da música assim que ele arranca meu fone de ouvido ao meu lado.

— Quer me matar do coração? — Empurro o garoto dos olhos verdes e ele ri orgulho da própria proeza — O que você está fazendo aqui, afinal?

— Kai vai ficar umas horas fora. — Will se aconchega de volta ao meu lado de braços cruzados, a manga da camisa de poliéster branca saltando sobre os bíceps marcados — Até lá, você é toda minha.— Seu timbre sai num sussurro rouco e tentador.

Não posso evitar rir e morder entre meu lábio inferior.   Isso de atirar uma cantada entre as palhaçadas está entre meus flertes favoritos.

— Ou você é todo meu. — Jogo de volta.

Pela primeira vez vejo Will ficar em silêncio, pensativo. Também gosto disso.

Pode ser um blefe bobo, algo que eu não diria em um dia comum. Mas foda-se, posso acabar em uma vala hora que eu menos esperar, certo? Um pouco de diversão com o mais inofensivo deles não me soa tão ruim assim.

Não mais.

Porra, estou há dias trancada nesse forte, como a maldita Rapunzel. É um alívio finalmente ver outra pessoa.

— Ora, ora, a bonequinha de repente ficou mais encrenqueira? Pensei que ele fosse te por nos eixos. — Sua cabeça debruça em meu ombro ao passo que ele começa a querer ler o que faço no computador.

Não sou estúpida, a tela aberta está em um artigo qualquer de um dos trabalhos mais bobos que já fiz, onde explico a diferença entre a linguagem inglesa e a americana. Eu sequer me importo com isso, ainda assim, finjo incômodo e fecho a janela.

— Eu quis dizer que vai fazer tudo pra mim, se veio tomar conta, vai ter que evitar que eu morra, não acha? — Também cruzo os braços e o lanço um olhar desafiador.

— Não se preocupe, eu vim preparado. — Ele empurra  o MacBook do meu colo para o colchão — Kai acredita que está mais segura com ele, mas se quiser podemos arrumar um lugar melhor pra você.

— Por que está preocupado com isso?

— Porque não é justo ele ficar com você aqui, só para ele, enquanto o resto de nós não tem chance de virar o jogo.

Lilith's nightOnde histórias criam vida. Descubra agora