Não há rosa sem espinho

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Os tremores tornam impossível a simples tarefa de abrir minha capinha e por isso o desespero me toma.

— O que você está tentando fazer, Mari? — A loura pega o celular e olha a tela, mas bato em sua mão para o aparelho cair ao meu lado no sofá.

Ti-ra. — Balbucio com a língua dormente — Ti-ra.

— Tirar o que, Mari?

Alguém toma o celular de novo da minha mão, mas dessa vez vejo meu sachê de glicose entre os dedos do indivíduo.

— O que é isso? — Will estuda o líquido avermelhado, desconfiado.

— Deve ser açúcar líquido, tem cheiro bem doce. — Kai responde após arrancar um pedaço do canto do plástico com o dente e escorrer o líquido na minha boca.

Minha visão continua turva e cheia de pontos luminosos, no entanto posso respirar aliviada conforme sugo o sachê com força e rapidez. Fecho meus olhos de novo, os pontos ainda não somem, mas é apenas para evitar tantos olhares. Me dou conta que a música está parada como os barulhos e conversas, dando espaço apenas a burburinhos.

Ou seja, eu virei a atração principal.

Levo minhas mãos ao meu rosto e esfrego com raiva para soltar um grunhido que mais parece um rosnado.

— Ela está melhorando. — Will atesta.

— Você precisa ir ao hospital. — Ouço a voz de Damon atrás de mim, tiro as mãos do rosto e alí está ele, como um anjo da morte pairando sobre mim.

— Não, eu pre- preciso ir para casa. Ho-hospital só vai me deixar ansiosa e piorar tu-do. Preciso de ma-is dois desses e me deitar. — Deus, odeio quando fico desse jeito e não consigo pronunciar uma frase simples porquê meu cérebro não tem energia para mandar os comandos ao restante do meu corpo, nem mesmo à minha língua.

O sabor do morango melado gruda em meus lábios e a mucosa do interior da minha boca está seca demais para dissolver mais rápido a camada pegajosa colando as bochechas e dentes por dentro.

Solto o plástico vazio no meu colo, desejando pular a etapa da dor de cabeça que está prestes a chegar com a melhora. Will pega o plástico e espreme para que a última gota caia em seu indicador, levando-o assim até a boca para provar.

— Por isso que é vermelho, é açúcar de morango. Onde você arranja isso? Eu quero alguns. — Ele questiona de um jeito tão genuíno que me faz rir enquanto seus amigos o encaram de um jeito sério.

— Não compre tudo à toa, é gli-cose com sabor para emergências dia-béticas.

— Vem, vou leva-la para casa.

— Vou avisar a galera então, Kai. — Michael se pronuncia.

— Não, vocês podem ficar. Já deu por hoje para mim de qualquer forma, são quase cinco da manhã, quero voltar a tempo de me despedir dos meus pais antes que viagem.

— Você que sabe, mande um beijo pra sua mamãe querida.

— Vá se foder, Michael.

Com o corpo mole e ainda em recuperação, é claro que eu não conseguiria andar por enquanto. Kai decide que vai me levar mesmo assim e me pega em seus braços como se eu pesasse tal qual uma boneca. É embaraçoso, porém é melhor do que continuar aqui.

— Esconde seu rosto. — Ele sussurra quando já estamos há uma distância segura de seus outros amigos.

Não estou afim de pensar no porquê, por isso apenas obedeço enterro meu rosto em seu peito, notando que ele não veste sua camisa. Só então me dou conta que a camisa está em mim, abotoada por cima das máscaras.

Lilith's nightOnde histórias criam vida. Descubra agora