consigo um emprego

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Termino de esvaziar minhas malas e espalhar organizadamente seu conteúdo pelo meu novo quarto, eu realmente não vejo sentido nisso já que daqui há alguns meses provavelmente vou ter de fazer esse trabalho ao contrário, mas minha mãe sempre insiste que devemos nos esforçar para fazer do novo lugar o nosso lar. Por fim, tiro uma foto que estava no fundo da mala, encaro a imagem de Bianca e eu sorrindo para a câmera com sorvetes na mão, nenhum lugar será meu lar se ela não estiver, a guardo no fundo da gaveta e resolvo não pensar mais nisso, é horrível me forçar a não pensar nela, mas sei que minha mãe não iria aguentar me ver chorando outra vez.
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Meu despertador toca e eu o ignoro, então Hades entra em meu quarto para me fazer levantar e ir para o colégio.
-Por que eu não posso estudar em casa?
- Porque você não teria disciplina e é importante fazer amigos.
- Você nunca me deu a chance de provar que daria conta, e além do mais eu não vou fazer amigos só para ter que dizer adeus para eles daqui há não sei...três meses? Quanto tempo vamos ficar dessa vez?
- São 7h da manhã, Nico. Eu não vou ter essa discussão de novo em plena manhã.
- Eu fiz uma pergunta simples. Quanto tempo vamos ficar nessa cidade até sua ambição falar mais alto e aceitar outra proposta que faça a gente se mudar?
Ele fecha os olhos e massageia as têmporas.
- Te espero para o café em 15 minutos (diz baixinho antes de sair e fechar a porta)
Me jogo novamente na cama e penso em não ir, simplesmente voltar a dormir, mas sei que iriam me chamar outra vez e realmente é muito cedo para continuar brigando.

O colégio Olimpus faz jus ao nome, é imponente e seus troféus espalhados por todo lugar declaram sua eficiência, observo os alunos passando apressados para suas salas com os rostos grudados no celular, conversando animados, e outros com cara de esnobes riquinhos, tenho certeza que não tem ninguém que valha a pena conhecer. Quando os corredores esvaziam, vou até minha sala, não me importo em chegar atrasado já que o professor iria me apresentar de qualquer forma como o aluno novo, observo os olhares curiosos sobre mim, e faço uma breve apresentação.
A aula é sobre algo que já tinha estudado, então me distraio desenhando no caderno o personagem Tanjiro.
- Demon Slayer é muito bom, mas essa matéria vai cair na prova ( alguém se aproxima e diz perto do meu ouvido)
Me viro e encontro um garoto de cachos loiros, olhos azuis divertidos e sardas na pele bronzeada, me pergunto internamente como alguém consegue estar bronzeado no outono de Nova York.
- Já estudei isso (rebato e volto a desenhar)
- Então pode me ajudar a entender, porque estou perdido. Sou o Will, seu nome é Nico, né?
- Então é melhor prestar atenção, Will (digo olhando para trás uma última vez)

Durante o intervalo, todos já tem seus lugares com seus amigos nas mesas do refeitório, eu sou o garoto novo e não quero repetir aquele clichê de filme americano em que se é excluído e  se vai comer escondido no banheiro, então pego minha comida e me encaminho para a sala, ei, é melhor que o banheiro. Estou terminando de comer enquanto vejo vídeos, quando o garoto de mais cedo aparece junto com outras pessoas.
- Então gente, esse é o otaku, nerd que eu falei com vocês. O Nico vai nos ajudar a entender  o que Derli passou hoje.
Me sinto atacado e olho desconfiado para aquele grupo, então mais cedo eu ignorei um bullie?
- Oi Nico, eu sou o Jason, desculpe pela idiotice do Solace, você pode nos dar uma força nessa matéria?
- Eu não sei o que o loirinho andou falando, mas eu não sou  um gênio, apenas já tinha estudado isso antes.
- Toda ajuda é bem vinda, é sério. Estamos te abordando assim porque foi a única pessoa que não ficou desesperada na aula hoje, a prova final está chegando e Derli é o professor que mais reprova. (Diz um garoto moreno de olhos verdes)
- E o que eu ganho com isso?
- Vamos ser seus amigos, imagino que deve ser bem ruim ser o garoto novo. ( O loirinho diz confiante)
- Não é tão ruim assim, já estou acostumado, não costumo ficar mais de três meses em um lugar. Então dispenso sua oferta generosa.
- Vamos ficar te devendo um favor (diz Jason em nome de todos)
- Isso pode ser útil, mas eu prefiro dinheiro, 100 de cada um (digo minha oferta)
- E se a gente não passar? Não vou te pagar para repetir no final, você mesmo disse que não é um gênio (o moreno refuta)
- Então estão por sua conta.
- 70, e é melhor a gente passar (diz Jason olhando em meus olhos)
- Eu não tenho controle sobre a capacidade cognitiva de vocês.
- É por isso que você não tem amigos, não tem nada haver com não parar em um lugar. Na saída vamos para sua casa ( Will diz e sai da sala com os meninos em seu encalço)
- Bem que eu desconfiei que vocês erão um bando de bullies (grito para eles, reagindo tardiamente quando já estão fora da sala)

Me sinto incomodado com o escrutínio que Will faz no meu quarto, não há nada muito pessoal visível já que desfiz as malas ontem, mas fico curioso sobre o que ele tanto olha. Me volto para os meninos e pergunto se eles estão conseguindo fazer o exercício.
- Imaginava que o quarto de alguém que desenha tão bem teria mais personalidade, nem tem um funko de anime.
- Primeiro que desfiz as malas ontem, e segundo que ter funko não é prático para alguém que vive colocando a vida em malas, eles iriam ficar para trás.
- Por que você se muda tanto?
- Porque meu pai é um babaca (dou de ombros)
- Isso eu posso entender (diz Jason tirando os óculos e esfregando os olhos)
Volto a tirar dúvidas e explicar o conteúdo,  quando sou interrompido de novo pelo Solace.
-Onde você estava antes de vir para cá?
- Califórnia.
-Pálido demais para a Califórnia (ele resmunga)
- Você gosta de ser irritante, ou eu estava certo quando supus que era um bullie?
- Referência a You, cara. "Bronzeada demais para Stephen King".
- Você não sabe flertar (diz Jason divertido e posso ver o loiro ficar ruborizado)
Ignoro isso e volto a garantir meu dinheiro, para minha sorte Will não voltou a me incomodar, e logo já pude dispensar eles, ou isso era o que imaginava. Já  que minha mãe ofereceu biscoitos para os meus "amigos" e os oportunistas aceitaram, ficamos comendo e conversando sobre o porquê de todos temeram a prova final do professor Derli, e quando o loiro estava propondo que jogássemos vídeo game eu gentilmente os expulsei da minha casa.


 Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora