alguém finalmente me entende

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Quando aceitei esse emprego não imaginava que minha assistência seria requisitada em cada aula que compartilhasse com algum membro do trio, especialmente quando essa aula é a do professor Derli, e especificamente nessa manhã de segunda em que assisto a essa aula com os três. A cada explicação e exercícios, eu preciso fazer na frente deles dizendo em voz alta, confesso que agora não me incomoda tanto, assim também consigo ficar melhor já que isso realmente se mostrou ser difícil.
No intervalo minha vã esperança de que iria ter um minuto de paz e solitude é destruída, pois um loiro animado demais em uma segunda de manhã no meio do refeitório cheio de adolescentes me chama para me juntar a eles, e por pura pressão já que muitos nos observam, eu vou em direção a sua mesa, o trio me aguarda sorrindo, um garoto de cabelo castanho não tira os olhos do prato, e uma garota de olhos azuis e cabelo castanho escuro quase preto me estuda curiosa.
- Estou contando para a Lou como você salvou nossa vida ao explicar como se calcula log (diz o loiro animado)
- Não foi tão difícil, basicamente repeti o que o professor disse ( respondo dando de ombros)
- Agora tenho alguma esperança de não ser reprovado, e que Apolo me deixe escolher um carro. A vida voltou a ser boa ( diz sorrindo e abrindo os braços para nós)
- Se você continuar tentando me contaminar com essa positividade, eu juro que te dou um soco. Segundas são cinzas e tediosas, deveria ser um crime alguém estar tão feliz no começo da semana ( ela diz antes de morder sua maçã)
-Sim! Finalmente alguém está sendo sensato. ( Concordo agradecido)
- Vai começar a guerra ( o garoto de cabelo castanho resmunga)
- Não tem guerra nenhuma Cecil, esses dois amargurados e segundafóbicos não vão estragar meu dia.
- É que não entendo como você pode estar tão animado na manhã de uma segunda- feira. (Argumenta a garota)
- Eu comentei que vou ganhar um carro caso seja aprovado?
- Não consigo pensar que "a vida voltou a ser boa" só porque mais um riquinho vai ganhar um carro do pai (digo enquanto checo se não tem cebola no sanduíche)
- Vocês deveriam ficar felizes por um amigo, principalmente considerando que agora posso dirigir e nos levar nas festas.
- Não gosto de festas.
- Não somos amigos, e não vou em festas (digo ao mesmo tempo que a menina)
- Encontramos uma versão masculina da Lou Ellen,o mundo já pode acabar ( Percy diz olhando para o céu)
- Eu estou feliz por você ( diz Jason dando tapinhas nas costas do Will)
  Observo o garoto loiro de óculos e me sinto um babaca, o cachinhos não tem culpa de eu achar a vida uma droga desde que tive motivos para isso, e vendo a gentileza do Jason mudo de ideia sobre não ter ninguém nesse lugar que valha a pena conhecer. Deixo de implicar com o Solace, e começamos a conversar sobre filmes e séries, logo estamos falando de assuntos diversos e Lou conta que também não para em um lugar.
- Aqui é onde estou ficando mais tempo, deve ser por isso que me permiti fazer amigos, mas vai ser uma merda quando eu precisar ir embora.
- Por isso eu nem me incomodo, vou ter de me despedir e vamos parar de nos falar, já passei por isso vezes demais ( digo e me surpreendo por estar sendo tão sincero)
- É horrível ficar tão próxima de alguém e depois nunca mais a ver ( ela diz terminando de beber seu refrigerante)
- Não precisa ser assim com a gente, vamos manter contato e viajar para se encontrar.
  Jason diz, e fico em silêncio porque sei que ele disse isso para a gente se sentir melhor ou ele acha que isso pode mesmo acontecer, olho para a garota e a vejo dar um sorriso triste para ele, e sei que ela pensa o mesmo que eu, finalmente encontrei alguém que entende o que é não ter um lugar, viver dizendo adeus para pessoas que são partes importantes de você.

Três semanas se passam desde que cheguei aqui, passo meus dias quase sempre sozinho em casa já que meus pais não ficam aqui, e meus " amigos" insistem em estar presentes na minha vida por mais que eu os tenha avisado que eu não valho o esforço,mas eles parecem não acreditar em mim, principalmente Lou e Will. A garota entende minhas frustrações, temos gosto parecido e o mais importante, eu me sinto a vontade para dizer o que penso para ela, é bom sentir que alguém me entende. E Will, eu não sei decifrar esse garoto, ele insiste em fazer parte da minha vida por mais que eu o afaste, não temos nada em comum, vivemos discutindo, e nossa relação se baseia em implicâncias. Mas confesso que isso anima o meu dia, chego a sentir falta do seu bom humor constante e irritante, e das suas falas que parecem querer me provocar, porém são seguidas de algum elogio aleatório ou o contrário, talvez seja por isso que eu esteja tão habituado a ele que chego a sentir falta, o cachinhos não me deixa em paz.

 Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora