errar duas vezes

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Observo o céu ficar alaranjado conforme o sol se põe, e em seguida olho o garoto radiante ao meu lado, seus fios loiros e seu sorriso parecem possuir um brilho próprio, não resisto e o puxo para um beijo.
Sinto seu cabelo sedoso entre meus dedos e aperto sua cintura por baixo da camisa, eu o quero aqui e agora, mas infelizmente não é o lugar adequado. Eu adorei a ideia de fazer um piquenique no parque, e nosso dia juntos foi perfeito, mas estaria mentindo se não admitisse que gostaria que estivéssemos dentro de um quarto mal iluminado agora.
- Nico (ele se afasta alguns centímetros e me olha ofegante) Eu te amo!
- Eu também te amo (digo sem imaginar que seria tão fácil ser sincero dessa forma)
- Quer ir ao baile comigo?
- Nem precisava perguntar (respondo rindo)
- Claro que precisava! Você não sabe o quanto eu sofri por não poder te convidar naquela época.
- Quando? Daquela vez que a Lou perguntou se eu iria?
- Nossa, nem me lembre! Eu fiquei tão frustrado, que quis socar alguém.
- Caramba, Will!
Ainda estou rindo dele, quando ele segura meu rosto com as mãos me paralisando.
- Eu gosto de você desde o primeiro dia em que te vi (ele diz antes de me beijar impedindo qualquer reação)
Nos afastamos, mas continuamos nosso piquenique entre risadas e beijos ocasionais. A tarde não poderia ser mais perfeita.

##
- Já faz vinte minutos!
- Você demorou bem mais! (Hazel rebate)
- Vamos te deixar para trás!
- Vão sem mim!
- Querida, eu preciso usar o banheiro.
Finalmente Hazel abre a porta emburrada, deixando minha mãe entrar.
- Por que demorou tanto? Você já está arrumada!
- Estou bonita? (Ela pergunta e estranho sua aparente insegurança)
- Claro, você está sempre linda!
- Estou falando sério, Nico! Eu vou para casa do Frank depois da aula, e...a vó dele me convidou para almoçar.
- Então as coisas estão ficando mais sérias (digo cutucando ela)
- Desde que a gente voltou, parece mais certo, sabe? Eu não quero estragar tudo de novo.
- É impossível não gostar de você, Haz. E você está linda!
- É bom que não esteja mentindo só para me agradar! (Ela diz séria e em seguida me empurra saindo apressada) O banco da frente é meu!
- Sua...(Saio correndo atrás dela)
##
As aulas passam lentas e monótonas, mas felizmente tive aula do professor Derli junto ao trio apocalíptico. Agora estou esperando Hazel no estacionamento, já que de forma muito convincente ela me fez concordar em ir nesse almoço com ela. Vejo meu namorado dirigir seu carro vermelho com nossos amigos e aceno em despedida me arrependendo de não estar com eles, sento no meio fio e continuo esperando, sem entender o motivo deles estarem demorando.
Um carro preto estaciona a poucos metros de distância e estranho ninguém descer, também não reconheço ele. Checo minhas redes sociais enquanto minha irmã e seu namorado não dão o ar da graça, sério, estou pensando em ir atrás deles.
De repente percebo alguém se aproximando e levo um susto, ao erguer a cabeça e ver meu pai diante de mim.
- Oi, filho! Podemos conversar?
- O..o que você está fazendo aqui?
- Eu vim ontem, mas não te encontrei.
Ele diz como se isso respondesse à minha pergunta. Me levanto e dou alguns passos para trás.
- Nico, por favor, eu só quero me desculpar!
- Eu não te desculpo! Pode ir embora agora.
- Olha eu sei que cometi alguns erros. Mas você não vai deixar eu me explicar? Essa vai ser nossa última conversa? Eu estou saindo da cidade!
- Para onde você vai?
- Itália, para a cidade da sua vó.
- Então está saindo do país, não da cidade.
- Sim. Eu quero me despedir direito, filho. Quero me desculpar e que a gente fique bem novamente.
- Nunca estivemos bem!
- E a culpa é minha?
- É SIM! A culpa é sua!
Sinto meus olhos matejarem conforme minha raiva aumenta. E fico ainda mais indignado ao perceber que ele olha em volta incomodado que alguém possa nos ouvir.
- Não dá para conversarmos aqui fora. Entra no carro!
- Eu não vou entrar em um carro com você!
- Eu não estou pedindo, Nicholas. Entre nesse maldito carro!
- Você não tem o direito de me obrigar!
Ele agarra meu braço e começa a me arrastar em direção ao carro, eu tento me soltar sem sucesso, então com o braço livre dou um soco no rosto dele. Ele me olha em choque e raiva, e me agarra tentando me imobilizar.
- Eu pretendia fazer as pazes e te chamar para ir comigo. Mas agora, você vai sem direito a conversa!
- Você está maluco? Por que está fazendo isso?
- Eu não vou ficar sozinho! Depois eu convenço Maria a nos encontrar. Mas você é o meu filho, e vai fazer o que eu mandar.
- Você enlouqueceu!
Ele abre a porta do carro e tenta me fazer entrar, consigo dar uma cabeçada em seu nariz, fazendo com que ele me solte, saio correndo mas logo sou derrubado.
- Eu não quero te machucar, Nico. Só entra no carro!
- Eu não vou cometer o mesmo erro duas vezes de entrar no carro de um bêbado!
O impacto no meu rosto quase me apagou, mas o segundo me deixou alerta. Me contorci até tirar ele de cima de mim e revidei seus ataques, não vou mais ser seu saco de pancadas.
De repente alguém entra no meio da gente e nos separa, vejo com a visão ensanguentada meu cunhado empurrar meu pai para longe e gritar com ele.
Hazel vem até mim examinado meu rosto e perguntando se estou bem. Observo confuso Frank segurar meu pai e pedir para minha irmã ligar para a polícia.
Ele se contorce no início e sua expressão insandecida da lugar a um olhar perdido, seu nariz está sangrando e seu olho começando a inchar.
- Solta ele! (Digo sem reconhecer minha voz, tudo parece oco e distante)
- Nico, ele te atacou! Eu vou chamar a polícia ( Hazel diz de forma nervosa)
- Pai! (Chamo inseguro) Você vai mesmo sair do país?
Ele me olha por alguns segundos antes de desviar o olhar derrotado e assentir.
- Eu sei que você só não quer ficar sozinho, mas eu nunca mais vou cuidar de você. Procure ajudar por si próprio.
Me aproximo e o abraço, ele me segura como se nunca pensasse em me soltar.
- Me desculpa! Me desculpa por tudo! Eu sinto tanto... (Ele diz abafado e sinto suas lágrimas molharem minha camisa)
- Eu te perdôo! Mas eu preciso que você vá embora agora.
Ele me solta e se afasta sem olhar para trás, observo ele entrar no carro que tanto insistiu que eu entrasse, e partir sem mim.

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