O amor é fácil

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Essa sensação de déjà vi é incômoda, meus amigos me visitando em casa depois de eu ter recebido alta do hospital,  agora parece um pouco pior já que veio mais deles, ou talvez isso seja melhor.
Engulo minha vergonha junto ao orgulho, e posso afirmar que é parecido com quando você tenta engolir um pedaço muito grande de carne, parece que vou engasgar mas me sinto aliviado quando consigo. E assim eu aceito as palavras de conforto e apoio dos meus amigos, e me sinto estranho com essa sensação de ser querido.
Tudo fica melhor depois que essa primeira sensação deles não saberem o que dizer e eu não saber como reagir, passa, e podemos voltar a ser os mesmos de antes. E logo parece uma tarde normal em que meus amigos vão até a minha casa jogar alguns jogos depois da aula.
A tarde é agradável ao ponto de eu me esquecer o porquê de estar apreensivo com as suas visitas. Mas antes de nos despedirmos, reúno coragem para falar sobre o elefante no meio do quarto. Relato como tudo aconteceu e as suas consequências, tudo para terminar pedindo para eles deixarem a minha irmã ficar uns dias nas suas casas.
Percy e Cecil imediatamente concordam, mas Lou, Jason e Will hesitam, não os culpo porque sei que a dinâmica nas suas casas é complicada. A mãe do cachinhos apesar de saber sobre nós, prefere fingir não saber e nem toca no assunto, o que eu particularmente acho melhor do que brigar com ele. E a garota e o Jason possuem pais rígidos que fariam muitas perguntas.
-Nico (ela começa sem jeito) meu pai ainda não aceitou bem isso de eu namorar a Kayla, não sei se ele aceitaria eu levar uma amiga para casa...mas por você eu posso tentar.
- Está tudo bem, Lou. Eu sei que é pedir muito para você e o Jason.
- Desculpa ( o loiro responde cabisbaixo)
Eu me sinto mal por colocar eles nessa situação, mas sei que ajudariam se pudessem.
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Os dias passam lentos demais enquanto me recupero em casa, porém o lado positivo é que me aproximo da minha mãe, e até conseguimos conversar sobre assuntos delicados como meu pai e Bianca, e ela parece finalmente estar bem com o meu namoro,  recebendo calorosamente o cachinhos sempre que ele vem me ver.
E com o passar do tempo e nossa aproximação, resolvo cruzar a linha. Sei que é uma situação complicada e ela não deve querer a filha da mulher que quase me matou na sua casa, mas eu preciso tentar, e peço para ela tentar pegar a guarda temporária de Hazel, para ela ficar uns dias aqui.
Sua primeira atitude foi se recusar, e confesso que precisei praticamente implorar por isso, mas no fim ela aceitou tentar.
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- Se não quiser ficar para trás, é melhor sair desse banheiro! (Grito enquanto pego minha mochila e vou até a porta)
Hazel costuma levar 30min todas as manhãs arrumando o cabelo no espelho, e a questão é que ela sempre acaba se atrasando.
Surpreendentemente nossa dinâmica familiar se completou com a sua chegada. No começo minha mãe e ela se tratavam como estranhas, mas aos poucos notei o carinho maternal que ela começou a demonstrar com a garota.
O processo demorou bem mais do que eu imaginava, mas finalmente meu pedido foi atendido e ela começou a viver conosco. Não saberei explicar os trâmites legais, mas aparentemente sua mãe já tinha perdido sua guarda, e ela estava apta para um lar temporário, a complicação no nossa caso foi toda a relação anterior.
- Seu cabelo está branco na ponta, querida (minha mãe diz ao olhar para trás)
- É culpa desse emo que ficou me apressando!
- Eu sempre falo para você levantar mais cedo.
- Se alguém não demorasse tanto no banho eu poderia entrar antes no banheiro.
- Pelo menos eu tomo banho!
- Olha aqui seu...
- Parem! Vocês dois! ( Somos repreendidos mas vislumbro o formar de um sorriso na minha mãe)
Estudar com Hazel é bom e ruim, bom porque sempre nos vemos e temos amigos em comum agora, e ruim porque ela parece esquecer que eu sou o mais velho, e constantemente tenta " cuidar de mim".
Enfim, não tenho do que reclamar. Finalmente minha família está reunida, não preciso me mudar, tenho amigos, e um namorado incrível.
Durante o intervalo me sento nas arquibancadas com meus amigos e começamos a planejar a próxima ida à praia. Sou abraçado por trás e o cachinhos se senta me abraçando e apoiando a cabeça no meu ombro.
- Tenho que te dizer uma coisa( ele sussurra no meu ouvido e sinto minha nuca arrepiar)
- Minha mãe está te convidando para jantar, hoje lá em casa.
- Sério? (Sou incapaz de esconder minha surpresa e animação ao me voltar para ele)
-Sim (ele diz baixinho e sorri pequeno ao olhar meu rosto)
- O que foi? ( Pergunto ao notar seu olhar culpado)
- Minha mãe é uma pessoa difícil. Não se anime demais.
- Tenho certeza que vai ficar tudo bem ( digo ao acariciar seu rosto)
- Eu é que devia te dizer isso (ele faz biquinho)
- Então diz ( rebato simplesmente)
- Vai ficar tudo bem ( ele diz sorrindo e eu o beijo)
- Parem de agarração! Ainda é 10h da manhã. Não comam na frente dos pobres ( Hazel nos repreende)
- Se você desse uma chance para o Frank... (começo e ela joga um papel amassado em mim)
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- Vai ficar tudo bem! ( Seguro a mão do cachinhos antes de sairmos do carro e entrarmos na sua casa)
Não tenho uma recepção calorosa, mas também nada ruim acontece como infelizmente imaginei dada a apreensão do Will.
Kayla me lança um olhar cúmplice e divertido quando percebe que eu não solto a mão do seu irmão diante do olhar incômodo de sua mãe.
O jantar acontece tranquilamente, os pais de Will falam sobre assuntos diversos de sua rotina e perguntam algumas coisas para os filhos, porém logo começam as perguntas direcionadas para mim.
- É bom te receber aqui sem que esteja ajudando meu filho a arrumar as malas da irmã ou que você esteja sangrando até a morte ( Apolo diz daquela forma que já associei particularmente a ele, sem maldade mas não deixando de cutucar o elefante no centro do cômodo)
- Também estou feliz por estar aqui sem ser por esses motivos (respondo sorrindo e sentindo meu rosto esquentar)
-Pai...
- O que foi Will? Ele não está mentindo, esse garoto está te colocando em problemas desde que chegou na cidade (sua mãe diz casualmente enquanto tempera sua salada)
- Querida, você sabe que nenhuma dessas coisas foi culpa dele. Diria até que admiro ele tentar ajudar o amigo a ajudar a irmã e se colocar em risco para salvar sua irmã também, ele preza pela família.
- O amor devia ser fácil e deixar a vida mais leve, mas só vejo os problemas que essa relação causou.
- O problema de vocês me expulsarem de casa ou dele pedir ajuda para ajudar a irmã? (Kayla diz usando o mesmo tom que a mãe)
- Ninguém te expulsou ( ela retruca desviando o olhar)
- Estou feliz que nossa filha tenha voltado para casa e Will esteja finalmente feliz agora que seu namorado não está correndo nenhum risco. ( Apolo diz de forma efusiva)
- Estamos todos felizes por isso ( Rachel diz e enche sua taça de vinho)
E assim o jantar termina sem mais discussões.
- Desculpa, eu não teria te trazido se soubesse que seria assim ( o cachinhos diz ao me levar para casa)
- Eu imaginei que seria pior. Está tudo bem, Will. Passos de tartaruga, uma hora ela vai aceitar.
Ele segura meu rosto com as duas mãos e me olha carinhosamente.
- Ela está certa. O amor é fácil e deixa a vida mais leve. Nada é mais fácil do que te amar, e nunca me sinto tão leve quanto quando estou com você.
- Céus, você é tão careta (digo rindo e sou surpreendido com seu beijo)
Quando ele se afasta penso que ela realmente estava certa.

 Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora