uma noite

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A adrenalina é algo surpreendente, eu realmente não tinha percebido que o sangue naquela faca era meu, agora que me dei conta que estou ferido, posso sentir uma dor aguda e nem mesmo posso mexer o ombro direito sem senti-la.
Hazel olha apavorada para minha mão suja e começa a balbuciar algumas coisas inteligíveis apressadamente, levo minha mão esquerda ao ombro e posso sentir a jaqueta molhada, quando a retiro e encaro a cor vermelha na minha palma me sinto distante de tudo aquilo, minha irmã agora está falando algo para mim provavelmente perguntando se estou bem, fecho os olhos e respiro fundo tentando pensar em uma solução.
- Calma Hazel, está tudo bem (digo sem saber ao certo a o que estou me referindo )
Limpo minhas mãos na calça e volto a dirigir, pelo canto do olho vejo ela gesticular enquanto fala algo, mas mal escuto ela. Paro em frente a casa do Will e ligo para ele.
- Você vai ficar aqui essa noite. Se precisar diz que é uma amiga de Kayla ou sei lá.
- Você está me escutando? Precisamos ir para um hospital! Quem diabos é Kayla?
- Eu estou bem, não se preocupe comigo. Foi de raspão.
- Você é maluco? Eu não vou ficar aqui e deixar você ir embora desse jeito!
- Hazel, é sério eu... (Me interrompo quando ele atende a ligação)
- Nico? Por que está ligando essa hora? (Sua voz sonolenta e confusa soa)
- Eu...Hazel pode passar a noite na sua casa? Por favor?
- Hã, acho que sim. O que aconteceu?
- Estamos na frente da sua casa.
- Tá bom, estou indo (ele diz e desliga)
- Mas que poha! (Ela exclama e segura o cabelo o puxando)
- Hazel, me escuta! (Digo fazendo ela olhar para mim) Você não pode falar nada do que realmente aconteceu e que eu estou machucado, ouviu? Ou sua mãe vai ter que responder por isso e você vai ir para um abrigo.
- Me desculpa (ela choraminga) Você está bem mesmo?
- Estou (respondo com toda a certeza que não tenho) Qualquer coisa vou no hospital e invento alguma desculpa.
- Deixa eu ver seu ombro (ela exige se aproximando e eu a afasto)
- Sai, eu já disse que estou bem!
- Então me mostra (ela insiste)
Mas Will bate no vidro da janela e nós nos recompomos imediatamente antes de baixar o vidro.
- Nico, está tudo bem?
- Sim. Ela pode passar a noite só hoje?
- Claro! Mas o que aconteceu?
- Minha mãe tem problemas com drogas ( ela responde por mim)
Ele assente e olha para mim.
- Posso falar com você um segundo?
Assinto e saio do carro, o vento frio me faz ter um calafrio e isso causa uma pontada no meu ombro.
- Está tudo bem? ( Ele pergunta ao ver minha expressão)
- Só está frio hoje (digo sem importância)
- O que aconteceu, Nico? Ela pode ficar é claro, mas meus pais vão fazer perguntas e Kayla não é a pessoa ideal para receber amigas.
- A mãe dela ficou agressiva em uma crise de abstinência. Só...eu sei que as coisas são complicadas com seus pais. Diz que ela é sua namorada se for preciso, ela não pode voltar para lá hoje.
- Eu não vou fazer isso com você! Desculpa, é claro que ela não vai voltar para lá. É que eu não...
- Will? (Uma voz masculina nos interrompe)
Um homem alto e loiro se aproxima com uma carranca.
- O que você está fazendo aqui fora?
- Desculpa. Meus amigos beberam um pouco demais e Hazel perdeu a chave de casa, ela pode dormir aqui só hoje?
Ele diz com a cara mais inocente possível e eu fico impressionado com sua capacidade de inventar algo tão rápido.
- Não tem como ligar para os pais dela?
- Eles não estão em casa (respondo completando a história do cachinhos)
Apolo olha para a garota dentro do carro e em seguida para mim.
- Você é aquele garoto que dormiu aqui daquela vez? ( Ele parece examinar meu rosto e franze as sobrancelhas) Encheu a cara e estava dirigindo? Porquê não leva sua namorada para sua casa?
- Meus pais iriam me matar e ela não é minha namorada ( digo trocando o peso de um pé para o outro)
Posso sentir seu olhar nos analisar e tomo o cuidado de esconder minhas mãos que podem estar um pouco manchadas
- Vamos entrar! Nenhum de vocês vai embora, não vou deixar um garoto que mal está se aguentando em pé dirigir.
Faço um sinal para a Hazel vir ao nosso encontro e vejo de relance Will me olhar preocupado com a observação do seu pai.
Apolo manda seu filho nos preparar um café bem forte enquanto começa seu interrogatório. Tomo o cuidado de não encostar em nada e sentar na beira do sofá, não quero que uma de suas perguntas seja o motivo do sofá estar sujo de sangue, felizmente minha jaqueta e roupa preta estão escondendo bem.
- Bebemos um pouco demais e não percebemos que nossos amigos já tinham ido embora (Hazel está inventando as desculpas por mim)
-Eu terminei com meu namorado, por isso estou com essa cara ( ela responde sem graça e Apolo demonstra se sentir mal pela pergunta que fez)
  As vozes parecem estar ficando abafadas e me sinto fraco e com sede.
- Me dê um copo de água, por favor (digo um pouco mais baixo do que queria)
- Traz água para o seu amigo, Will ! Ele não parece bem. É por isso que não devemos beber demais, garoto!
De repente alguém me oferece um copo e quando eu vou pegar minha visão turva vê um filete de sangue na minha mão antes de eu apagar.

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