𝐔𝐌 𝐏𝐎𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐓𝐈𝐍𝐓𝐀 𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂𝐀.

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No dia seguinte, na escola, o dever na aula de artes era fazer uma pintura de alguma paisagem que você já tinha visto, e Melinda não era muito boa nessas coisas de artes.

Ela não conseguiu terminar o trabalho à tempo, mas prometeu para a professora que o traria completo no dia seguinte.

Na tarde daquele mesmo dia, não foi um período muito fácil na casa de Melinda. Seus pais tiveram uma discussão feia e seu pai acabou saindo de casa, sua irmã mais velha estava com tensão-pré-menstrual e tudo estava um saco naquele dia.

Sua mãe, com tudo o que aconteceu entre ela e seu marido, resolveu descontar toda a raiva na própria Melinda. Disse para ela que ela não tinha amigos e que se continuasse daquele jeito, nunca faria nenhum. Também disse que todas as coisas das quais ela gostava eram bobagens e ela devia aproveitar mais seu tempo como criança e não ficar preocupada com artigos de física.

Sheldon estava saindo de casa, em direção à casa de sua vózinha. Bateu duas vezes na porta e não obteve resposta, Sheldon cogitou que ela não estaria em casa naquele momento.

Se virou para trás para ir embora, foi quando encontrou Melinda saindo de casa com um balde de tinta branca na mão. Ele franziu o cenho, achou aquilo muito estranho.

A feição de Melinda estava vermelha. Logo Sheldon entendeu tudo.

— Ela tá chorando?

Sheldon iria em direção à ela, mas parou quando Melinda tropeçou e derrubou o pote de tinta que estava segurando. Ele hesitou um pouco antes de ir ver o que estava acontecendo.

— Droga... — murmurou Melinda.

— Ei, Melinda! O que tá acontecendo?

Sheldon era muito perceptivo, por isso conseguiu ver os olhos dela se encherem de lágrimas.

— Nada, Sheldon. Nada.

Melinda fungou o nariz e isso fez Sheldon ter mais certeza ainda de que estava acontecendo alguma coisa.

— Seus olhos estão lacrimejando e seu rosto está vermelho. Certamente está acontecendo alguma coisa, você só não quer me dizer.

Melinda olhou bem para o rosto de Sheldon, não conseguiu segurar o choro. A garotinha se sentou na calçada.

— Eu não tenho amigos, Sheldon. Ninguém gosta de mim e ninguém quer se juntar à mim porque sou desse jeito. As garotas de hoje em dia só pensam em maquiagens e sapatos novos, já eu, sou uma das únicas que penso nas baboseiras da física. Lá em casa também não está nada fácil, meus pais brigam o tempo todo e meu pai saiu de casa. Eu também deveria estar aproveitando minha infância do jeito certo, mas só foco em coisas de adultos.

— Quem disse isso para você? — perguntou Sheldon, sem entender.

Melinda suspirou e olhou para o lado.

— Minha mãe. Ela descontou toda a raiva em mim depois da briga com o papai.

Sheldon fez um movimento com a boca.

— Sua mãe só falou aquilo no momento da raiva. Eu já passei por isso também. Eu falo um monte de besteiras quando estou bravo com a minha irmã mais nova.

— Mas se ela falou aquilo, é porque ela realmente pensa isso de mim. Se ela não pensasse, não teria soltado no momento da raiva.

— Mas, sabe? O que a sua mãe disse não é verdade.

Melinda franziu o cenho.

— Como assim?

— Cada um tem seu jeito de ser, e você tem o seu. Se as meninas de hoje em dia gostam de sapatos e vestidos, você ser diferente não importa. Você não pode se forçar a gostar de coisas que você realmente detesta. E eu aprecio o seu jeito. Aprecio sua inteligência. E coisas de física com certeza são mais interessantes que fazer compras em lojas esquisitas.

Os olhos de Melinda brilharam por uma pequena fração de segundos.

— Sério? Você aprecia o meu jeito de ser?

— Sim — Sheldon sorriu — Você não precisa ligar para esses tipos de comentários. Acho que ser diferente e mais inteligente é muito mais válido do que ser igual a todos os outros. Eu, pelo menos, nunca tive essa vontade de ser igual as outras crianças.

— É, você está certo.

Melinda se levantou.

— Mas você disse que admira minha inteligência. Eu não esperava escutar isso de você, Sheldon.

— Não estraga o que eu acabei de fazer — Sheldon fechou a cara — Eu só disse isso pra fazer você se sentir melhor.

Melinda riu.

— Tá bom, Sheldon. Obrigada. Sua tática funcionou.

Sheldon sorriu de leve.

— Eu sei, elas sempre funcionam.

Os dois ficarem em silêncio por alguns segundos, mas logo, Sheldon perguntou:

— E o que é esse pote de tinta branca?

— Um pote de tinta branca — Melinda ironizou.

— Você entendeu o que eu quis dizer.

— Tá, entendi. Era para o trabalho de artes que não consegui fazer na aula.

— E por que você estava trazendo ele pra fora da sua casa?

— Minha mãe estava irritada porque eu tinha sujado o chão e pediu pra eu levar o pote de tinta pra fora, mas eu já tinha terminado o desenho.

Sheldon fez um "Ah" com a boca sem emitir som.

— Mas você está toda suja — ele apontou para as mãos e a roupa suja de Melinda.

— Eu sei, tenho que tomar banho. Eu já vou indo pra casa, depois eu dou um jeito nisso aqui na rua.

— Seria mais esperto se você tomasse banho depois de limpar isso para não se sujar de novo.

Melinda pensou um pouco.

— Certamente — respondeu.

— Eu posso te ajudar a limpar.

— Claro. Seria um prazer.

— Lá no meu quintal, tem alguns baldes de água que meu pai encheu e não vai precisar mais. Podemos lavar a rua.

— É, verdade.

— Eu vou lá pegar então.

— Tudo bem!

E nesse dia, Sheldon percebeu que talvez, poderia dar uma chance à garota que ele pensava que era um terror.

𝐒𝐌𝐀𝐑𝐓 𝐆𝐈𝐑𝐋, sheldon cooper.Onde histórias criam vida. Descubra agora