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VINNIE HACKER

Eu escrevi todo o alfabeto em uma folha de caderno e pacientemente apresentei cada letra para ela. Fiquei impressionado quando vi que ela decorou tudo rapidamente. Passamos para as sílabas de B, C e D. Ela também aprendeu aquilo rápido e começou a adivinhar como seria com as outras letras. Talvez ela apenas não se lembrasse, mas já soubesse ler.

À noite, eu preparei um dos quartos de hóspedes para ela. A acompanhei até lá e fui explicando onde os outros lençóis ficavam caso ela precisasse de mais, a ensinei a trancar e destrancar as janelas e também mostrei onde ficavam as coisas do banheiro.

— Meu quarto é o da frente. — apontei para a porta. — Se precisar de alguma coisa, pode me chamar.

Observei quando ela levantou o lençol e foi para debaixo dele, puxando-o até o seu queixo.

— É confortável. — afundou-se no travesseiro.

— Vou te deixar dormir. — fui em direção à saída e antes de ir embora, apaguei a luz do quarto.

Assim que comecei a fechar a porta, ela saiu da cama em um pulo e veio correndo até mim, puxando a porta antes que eu a fechasse.

— O que foi? — fiquei alarmado.

— Eu não gosto do escuro. — ofegou.

— Ah. — aquilo explicava as coisas. — Você pode deixar a luz do abajur acesa. — retornei para dentro do quarto e fui até o abajur, o acendendo em seguida.

Olhei para ela que entrou novamente com um olhar de desconfiança, abraçando a si mesma como se estivesse com medo.

— Está tudo bem agora. — tentei confortá-la, mas ela não se moveu. — Vem. — ofereci minha mão para ela.

Ela olhou para mim por alguns segundos antes de esticar o seu braço e segurar a minha mão. A guiei até a cama, onde ela se deitou novamente. A cobri enquanto ela me observava atentamente quase sem piscar. Era estranho o jeito como ela ficava constantemente me encarando e eu não sabia se iria me acostumar com isso.

— Deixa a porta aberta? — ela pediu quando eu me virei para ir embora.

— Vou deixar.

A porta do meu quarto também ficou aberta. Ela poderia me ver e eu também a veria. Senti que ela precisava se assegurar de que não estava sozinha. Dormi por poucas horas, como vinha sendo nos últimos dias. Levantei quando o sol estava começando a nascer. A observei no outro quarto, dormindo de maneira pesada e parecendo tranquila enquanto respirava fundo. Aquele era o momento de ir atrás de alguma coisa que explicasse quem ela era.

Antes de sair, deixei o café da manhã pronto e também deixei o caderno que usei na noite passada quando comecei a ensiná-la a ler. Achei que ela pudesse querer treinar o alfabeto quando acordasse. E era estranho eu estar pensando nisso quando eu nem a conhecia e não deveria fazer coisas que significassem que ela podia ficar, porque eu ainda não tinha certeza se era correto.

O Vinnie de duas semanas atrás jamais abrigaria uma estranha que apareceu num lugar como aquele, pouco habitado e praticamente no meio do nada. Por mais que ela pedisse, aquele Vinnie ligaria para a polícia e não aceitaria lidar com quaisquer problemas que não fossem dele. Mas o eu de agora parecia querer desesperadamente se agarrar a algo que fugisse da realidade. Eu queria uma fulga do que a minha vida se tornou.

Andando pelo vilarejo, procurei por algum sinal de que havia algo diferente, tentei ouvir nas conversas matutinas se estavam procurando por alguém. Entretanto, tudo parecia o mesmo desde que cheguei. As ruas estavam calmas, as pessoas eram gentis e me cumprimentavam quando me viam e nenhum resquício de preocupação estava no rosto de alguém.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora