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VINNIE

América estava mais silenciosa do que o comum. Eu estava acostumado a ouvir todas as suas perguntas e exclamações sobre coisas que ela achava incrível. Mas era claro que ela se lembrava de muito mais sobre o mundo agora e que por essa razão não precisava mais dos seus tantos questionamentos. Mesmo assim, seu olhar era curioso e admirado sempre que passávamos por algum lugar diferente. Naquele momento estávamos no aeroporto aguardando o vôo para Boston e ela olhava para tudo como se fosse a primeira vez que estivesse ali. O estranho era que não era a primeira vez.

— Como foi o seu primeiro vôo com o Zyan? — eu perguntei para ela.

— O que? — franziu a testa.

— Quando ele te levou de Boston, lembra? Como foi?

— Ah! Claro. — assentiu. — Foi... novo.

— Novo? — estranhei a resposta rasa.

— É.

Nada de "muito legal" ou "eu achei que iria morrer". Minha teoria era de que sua real personalidade estava mais dominante agora e que provavelmente ela era menos eufórica.

Nosso vôo foi chamado e todos embarcamos no avião. Fiquei em um assento entre América e Jacob. Ela estava olhando pela janela, totalmente absorta ao ambiente e desinteressada sobre as pessoas ao redor. Vez ou outra ela olhava em meus olhos de maneira intensa e eu sentia um alívio por aquele olhar ainda ser o mesmo, por mais que parecesse um pouco mais analisador.

Como esperado, Jacob tomou um sonífero porque odiava vôos e preferia ficar inconsciente durante toda a viagem.

— Sabe, eu fiquei muito surpreso em saber que você e Jacob são irmãos. — puxei conversa com a América. — E eu com ciúmes dele. — ri.

— Consanguíneos. — corrigiu-me. — Família é uma construção social e não vivemos assim na Colmeia.

— O Zyan disse que te criou assim. — franzi a testa.

— Quis dizer Jacob e eu. Não vivemos como irmãos.

— Entendo. Mas isso pode mudar, não? Eu ainda estou bravo com ele por ter tido más intenções ao facilitar a sua volta para a Colmeia, mas eu acredito que o conheço e que ele é uma boa pessoa.

— Acho que isso terá que ser diferente de qualquer maneira. — deu de ombros. — Viver no mundo exterior requer mais empatia.

— Mas você tem muita empatia. — pousei a minha mão sobre o seu joelho. — Lembra-se de todas as vezes que derramou lágrimas com aqueles filmes românticos? — sorri.

América desviou o olhar para a minha mão em sua perna e respirou fundo com os lábios entreabertos. Quando voltou a sua atenção para o meu rosto, a sua única resposta foi assentir positivamente.

Não podia negar que alguma coisa estava me dizendo que tinha algum problema com ela. Não era mais a mesma, isso me fez pensar que vida ela levava naquele lugar e o que a forçaram a fazer quando retornou.

— Eles te trataram muito mal quando você voltou? O Jacob disse que você seria punida.

— Primeiro eu fui para o quarto preto, uma espécie de sala de castigo. Não tem nenhuma luz e tudo o que se houve é o barulho de um trovão, mas não um trovão qualquer. O barulho simula como seria estar dentro de uma nuvem durante uma tempestade. É muito alto e quase irreconhecível como um fenômeno natural. Não há tantas tempestades naquela região, então eu não conhecia trovões tão altos, tinha medo do quarto preto. Mas quando eu voltei não tinha mais.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora