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AMÉRICA

O momento da troca de turnos começou. Eu teria exatos quarenta segundos para correr, entrar na prisão da ala leste e sair de lá com a Amy antes que os guardas tomassem seus postos.

O lugar era escuro e cheio de paredes de vidro que separavam os presos do corredor. Todos que estavam ali olharam para mim com curiosidade e estranheza, mas eu fui ignorando cada um até chegar à cela que Zyan disse que a Amy estaria.

A-016

Aproximei-me da parede de vidro e vi a mulher encolhida em um canto virada para a parede. Ela estava com um prego cravando um risco no concreto provavelmente para contar o tempo que passou ali, já que tinha um padrão igual por todo o concreto.

Sem tempo para cerimônias, eu coloquei o meu dedo indicador em um dispositivo que ficava a um metro da cela e senti uma agulha espetá-lo. A lanterna que ficava sobre a cela se acendeu em uma luz verde e o barulho da parede de vidro sendo aberta fez a Amy olhar para mim com um rosto assustado. Antes que eu pudesse pensar, ela correu para fora e segurou os meus braços, me olhando com os olhos arregalados antes de me dar o abraço mais apertado que eu já conheci.

— Isso não é uma alucinação? É mesmo você, Maria? — segurou o meu rosto entre as suas mãos.

— Sim. — assenti. — A gente tem que sair daqui agora.

Segurando a mão dela, eu corri para fora do lugar e nós não paramos até termos que nos esconder ao ver os outros membros da Colmeia andando pelo prédio. Zyan me garantiu que as câmeras de segurança estavam mostrando imagens do dia anterior já que ele invadiu o sistema antes de partir e hackeou a conexão. Nosso trabalho era chegar até o antigo dormitório dele sem sermos vistas.

Nos esgueirando pelos cantos e nos escondendo sempre que necessário, saímos dali e fomos direto para a ala dos dormitórios que naquele horário ficava praticamente vazia, já que a maioria das pessoas estava trabalhando em suas tarefas.

Assim que entramos no dormitório de Zyan, eu tranquei as portas e fechei todas as persianas. Ofeguei tomando todo o ar que podia de volta para os meus pulmões. Amy também respirava fundo e quando eu a observei estava olhando em volta para todos os cantos daquele quarto.

— Ele está bem? — ela perguntou pelo Zyan.

— Ele foi liberado hoje, mas antes deixou tudo esquematizado para sairmos daqui.

— Achei que você tinha ido para a reabilitação. — ela sorriu e seus olhos se encheram de lágrimas. — É tão bom ver que eles não tiraram a sua essência de você.

Ela chegou perto para me abraçar novamente, mas dessa vez eu segurei os seus pulsos para impedi-la.

— Algo que você precisa saber. — comecei a dizer. — Eu não lembro de nada, eles tiraram as memórias que eu tinha sobre você e tudo o que me ensinou.

— O que? — entreabriu os lábios. — Não... não pode ser... — sua voz embargou.

— Não se preocupe, ok? Eu acho que o método que usaram não é eficaz, eventualmente eu lembrarei de tudo.

Amy assentiu positivamente, mas o seu rosto era tristonho. Talvez eu fosse pensar em tentar fazê-la pensar positivo, mas realmente não havia tempo sobrando e qualquer palavra que tivesse que ser dita, seria no momento certo, no mundo exterior, quando estivéssemos seguras.

Como instruído por Zyan, eu fui até a sua escrivaninha e abri a gaveta falsa. Peguei a bússola na qual ele trabalhou por semanas e li o recado que ele deixou junto a ela.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora