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AMÉRICA

Na manhã seguinte, eu acordei no horário padrão e comecei a fazer as minhas higienes pessoais. Depois de pronta, pedi para que Zi me passasse a minha agenda do dia e todas as atualizações necessárias sobre a evolução das minhas turmas. Eu teria que dar aula para três dezenas naquela manhã.

Antes de sair, Zi preparou um café da manhã para mim. Dei um gole em meu café e fiz uma careta ao notar o quanto estava amargo. Mas aquele não era o jeito como eu sempre tomava o meu café? Por que de repente eu senti a necessidade de algo mais doce?

— Coloque mais açúcar da próxima vez. — a alertei.

— Ok, Doze.

Café terminado, eu saí do meu dormitório.

Estava caminhando até a sala de música quando notei que estava sendo seguida por Zyan.

— Você não é nada bom em disfarçar quando quer alguma coisa. — eu disse parando de caminhar. — O que foi?

— Pediu para a sua assistente virtual avaliar o seu sangue esta manhã?

— Eu acabei de sair da ala médica, então não vejo a necessidade disso. — franzi levemente a testa. — Por que esse questionamento?

— Só checando. — após dizer isso, ele deu as costas e saiu andando para outra direção.

Por que tudo parecia tão estranho agora que eu estava de volta? Não que Zyan fosse uma excelência em comportamento, mas ainda assim não era comum de sua parte perguntar sobre a minha saúde. Ignorei aquilo e segui para cumprir a minha tarefa.

Os alunos já estavam na sala quando eu entrei. Fui direto para a frente da lousa para que todos me vissem.

— Estou de volta e ciente da lentidão em que se acomodaram desde que eu fiquei ausente. Isso não vai mais ser um problema e eu espero que vocês se esforcem mais do que estão fazendo. — peguei uma caneta piloto para escrever. — Vamos falar sobre a personalidade artística de Tchaikovsky.

Após a aula, nós colocamos em prática a lição principal. Eles deveriam tocar o Lago dos Cisnes no piano enquanto eu observava se haveria algum erro para assim corrigir.

— Vamos, Sessenta, não temos o dia todo. — eu disse para a garota quando ela sentou ao piano, mas apenas olhou para as teclas. — De repente você não conhece mais as notas?

Ela começou a tocar e os dez primeiros segundos foram certeiros, mesmo com atraso em algumas notas.

— Está atrasado. Comece novamente. — mandei.

Ela fez o que eu disse e até melhorou, mas ainda havia atrasos. Mandei que ela começasse de novo e dessa vez a garota errou uma das notas. Ao alcançar o número máximo de erros, ela entendeu que aquela era a hora da correção.

Fui até o armário da sala e procurei pela caixa de agulhas, mas não havia nenhuma.

— Com licença, Doze, não informaram de que os métodos mudaram? — um outro aluno disse.

— Mudaram?

— Não há mais agulhas, apenas bofetadas.

— Ah, ok. — dei de ombros. — Sessenta. — fiz sinal para que ela se aproximasse.

A menina parou em minha frente e eu ergui a minha mão para lhe bater. E como um baque dentro da minha cabeça, minhas sensações mudaram completamente e eu travei. Olhei para aquele rosto rosado em minha frente com os olhos apertados esperando pela dor e senti uma coisa ruim. Minha mão tremeu ainda no ar e eu desviei a minha atenção brevemente para a câmera da sala. Eu não podia hesitar.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora