26

1K 67 2
                                    

VINNIE

América preferiu continuar distante mesmo estando perto. Ela era curta e simples em cada frase, sem prolongar qualquer assunto que eu tentasse iniciar. Passou o resto do dia trancada no quarto de hóspedes cujo qual ela estava pintando. Eu ainda não era aceito para entrar e até que era bom saber que mesmo brava ela seguia com a ideia de me fazer uma surpresa.

À noite foi mais difícil. Era estranho não tê-la dormindo ao meu lado sabendo que ela estava a poucos metros. Fiquei olhando para o teto por horas, imaginando o que eu poderia fazer para acalmá-la. Talvez lhe apresentar rosquinhas fosse uma boa ideia, ela ainda não havia provado.

Ouvi a porta do meu quarto ser aberta e estranhei. Olhei para lá e vi América colocar parte do seu corpo para dentro, enquanto escondia a outra parte atrás da porta. Ela me olhou como se estivesse acanhada.

— Tudo bem? — perguntei. — Você quer dormir aqui?

— Não gosto do escuro.

— Eu sei. — estiquei-me e acendi a luz do abajur. — Melhor?

Ela assentiu positivamente e depois entrou por completo, fechando a porta atrás de si.

— Eu estava pensando sobre a minha memória mais recente. — soltou um suspiro pesado. — Por que parece que eu não me importava com nada antes? Por que eu não me lembro de sentir nada?

— A gente vai entender tudo isso logo. Eu não vou descansar até que você descubra tudo o que aconteceu com você. — garanti.

— Não quero descobrir que eu era uma pessoa ruim.

— América, isso não importa agora. Na verdade eu não acredito que você tenha sido ruim em algum momento e vou continuar acreditando nisso até que o contrário seja provado. — dei mais espaço na cama. — Pode deitar aqui se quiser.

Devagar e com um semblante de incerteza, América caminhou até a cama e sentou no colchão, acomodando-se debaixo do cobertor e em seguida deitando de frente para mim. A encarei da mesma maneira que ela me encarava e me peguei imaginando o que se passava em sua cabeça.

— Podemos distrair você com outro assunto até que o sono chegue. — sugeri.

— Não quero conversar. — falou de maneira decidida.

— Tudo bem. Ficamos em silêncio então.

Foi meio constrangedor ter ela me encarando de maneira tão séria pelos próximos segundos. Lembrei-me de quando ela fazia isso com frequência e de como foi difícil tentar fazê-la se acostumar a parar. Mas algo me dizia que naquele momento ela sabia que isso me incomodava e estava fazendo de propósito.

— Você gostou de beijar a Cindy? — ela perguntou de repente.

— O que? — franzi a testa. — Não!

— Mas você gostava quando vocês eram adolescentes? — estreitou os olhos.

Fiquei quieto porque a resposta para aquilo não seria muito legal de ser dita. América arqueou a sobrancelha como se me pedisse silenciosamente para responder.

— Eu era uma criança. — falei esperando que aquilo servisse.

— Não foi isso que eu perguntei. — retrucou. — Você gostava?

Respirei fundo e depois soltei o ar devagar.

— Eu nunca tinha beijado ninguém antes e a novidade era atraente. Mas eu quis parar assim que notei o quão estranho era.

— Hum. — murmurou.

— Quando você vai me perdoar?

— Acho que eu não estou tão chateada assim. Pode ser que amanhã pela manhã já esteja tudo bem.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora