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VINNIE

A noite estava gélida e eu senti um arrepio quando o vento soprou sobre mim. Cindy também pareceu com frio, então eu retirei o meu paletó e coloquei sobre os ombros dela, que me olhou de forma agradecida. Nos aproximamos da mureta da varanda e observamos o jardim da frente.

— As flores estão morrendo. — ela constatou. — Lin odiaria isso. — suspirou.

— Está frio. É difícil fazê-las ficar de pé. — eu disse. — Foi difícil cultivá-las em Siasconset e eu tive que voltar para cá logo quando elas começaram a germinar.

— O que você estava fazendo por lá?

— Era menos barulhento e não tinha ninguém me dado os pêsames a cada cinco minutos.

— Eu entendo. Foi por isso que eu preferi não vir ao funeral. — olhou para as suas mãos sobre a mureta. — Às vezes me pergunto se eu fiz uma boa escolha, mas acho que teria sido muito mais difícil se eu tivesse que encarar ela daquela maneira. Minha última lembrança tinha que ser com ela viva.

— Eu queria que essa tivesse sido a última imagem que vi dela também. — lamentei.

— Sinto muito não ter vindo te apoiar. — colocou a sua mão sobre a minha. — Desculpe se pareci egoísta em pensar no meu bem estar primeiro.

— Eu já estava muito mal, Cindy. Se você não estivesse cem por cento, não conseguiria me apoiar. A melhor coisa que eu fiz foi ter me isolado no vilarejo.

Muito disso porque eu encontrei a América.

— A primeira coisa que eu pensei em fazer quando cheguei aqui foi te dar um abraço. — sorriu fraco. — A gente ainda pode compartilhar bons momentos mesmo sem a Lin. Nos afastamos por causa do meu trabalho, mas por ela podemos reaver a amizade, não acha?

— Isso seria ótimo se você não estivesse do outro lado do mundo. — ri fraco.

— Recebi uma proposta para voltar a trabalhar em Boston. Só preciso de um bom motivo para decidir.

— Eis-me aqui. — dramatizei abrindo os braços. — É sério, isso seria incrível. Você faz muita falta pra todos nós e eu adoraria voltar a sair com a minha prima favorita.

— Lembra-se quando eu roubei um dos vinhos do vovô e coloquei a culpa em você? — começou a rir.

— Eu queria te matar! — acompanhei a sua risada.

— Claro que não, você era apaixonado por mim.

— Eca, nunca! — fiz careta.

— Então por que assumiu a culpa sem nem piscar? — olhou-me com desconfiança.

— Você é minha prima. — eu disse como se fosse óbvio.

— Vinnie. — deu um passo na minha direção. — Lembra-se de quando tínhamos treze anos e você estava reclamando de que todos os seus amigos já haviam beijado uma garota e você não? — seu tom se tornou mais sério.

O rumo daquela conversa começou a ficar estranho e eu fiquei incomodado.

— Cindy, a gente prometeu. — a adverti.

— Dezessete anos sem tocar no assunto. — suspirou. — Qual o problema em eu ter sido o seu primeiro beijo?

— Você é minha prima. — repeti aquela frase pausadamente. — É errado e estranho.

— Você contou a todos que o seu primeiro beijo foi com a sua namoradinha do acampamento de verão e isso me encheu de ciúmes.

Franzi a testa a encarando.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora