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VINNIE H

Pela primeira vez, resolvi fazê-la assistir TV. Não tinha certeza se era uma das poucas coisas que ela entendia, então resolvi testar. América ficou o tempo inteiro estática, suas pernas cruzadas e o olhar curioso enquanto assistíamos a um filme de ação. Ela me perguntou sobre várias cenas e eu expliquei pacientemente cada uma de suas dúvidas.

— O que eles estão fazendo? — ela perguntou quando os personagens se abraçaram.

— Estão se abraçando.

— Por que? — ficou confusa.

— Porque abraços são bons.

— E para que servem?

— Para muitas coisas. Você pode abraçar alguém para dizer olá, se despedir, parabenizar por algo, para confortar quando a pessoa está triste ou simplesmente para dar carinho a quem você gosta.

— Carinho? — franziu o cenho.

— É. — assenti. — Quando você gosta de alguém, você é carinhoso com a pessoa nos gestos, palavras, ações...

— Eu acho que eu nunca fiz isso.

— Claro que fez. — quem nunca recebeu um abraço? — Você só não se lembra.

— Você pode me abraçar? Eu gostaria de saber como é.

O pedido me pegou de surpresa. Ela não sabia que aquilo poderia ser algo estranho e mais íntimo do que deveria, já que mal nos conhecíamos e não havia um motivo concreto para o contato além da curiosidade dela.

— Eu não sou muito fã de abraços. — abaixei a cabeça.

— Por que?

— Os últimos que eu dei não foram por um bom motivo...

— Qual foi o motivo?

— As pessoas queriam me confortar. — expliquei sem olhar para ela. — Porque eu estava triste.

América tomou fôlego para mais uma pergunta, porém eu quis fugir daquilo.

— Mas eu posso te abraçar só pra você saber como é. — falei erguendo a minha cabeça.

Ela assentiu e ficou de pé. Eu levantei também, ficando de frente para ela. América colocou suas mãos em meus ombros e me observou antes de envolvê-las em meu pescoço e chegar mais perto. A abracei de volta e fechei os meus olhos.

Quando ela deitou sua cabeça na curva do meu pescoço, eu respirei fundo e senti o cheiro natural que vinha dela. Seu cabelo roçou em meu rosto e eu percebi o quanto estava macio. Nem me dei conta de que acabei prologando o contato, mas afastei-me ao notar e a olhei de maneira desconcertante, mesmo sabendo que ela não entenderia a minha expressão.

— Eu achei bom. — ela disse.

— O que? — franzi o cenho.

— O abraço.

— Ah, claro. — assenti e cocei a nuca. — Como eu disse, abraços são bons.

Ela balançou a cabeça positivamente e tornou a se sentar no sofá, continuando a assistir ao filme. Eu a observei por alguns segundos, soltei um suspiro e sentei ao seu lado. Ainda era confuso tê-la ali, mas de repente eu me vi começando a gostar disso. Decidi que iria ajudá-la a tentar recuperar as suas memórias, ou pelo menos fazê-la se sentir parte deste mundo de uma maneira mais tranquila e normal. Isso seria bom para nós dois.

[•••]

Mais um dia se passou e eu levantei naquela manhã sentindo o cheiro de bacon vindo da cozinha. Quando abri os meus olhos e olhei para o outro quarto, notei que America não estava mais lá. Levantei da cama, calcei os meus chinelos e fui para o andar de baixo.

Survival ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora