03 | 𝙾𝚙𝚙𝚘𝚜𝚒𝚝𝚎𝚜 𝚍𝚘𝚗'𝚝 𝚊𝚝𝚝𝚛𝚊𝚌𝚝

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"Arte é consolar aqueles que
estão quebrados pela vida - Van Gog"

A mulher ao seu lado parece notar a mudança em seu semblante e segura seu braço, como se estivesse protegendo-o de algo que nem mesmo ele compreende.

— Você está bem? — Ele pergunta, e sua voz quebra o breve silêncio, trazendo-me de volta à realidade. Mas, antes que eu possa responder, sinto uma hesitação inexplicável.

— Estou bem, me desculpa, não queria derramar sua bebida. — Abaixo a cabeça envergonhada, pois todos ali presentes estavam focados em nós.

— Não se preocupe com isso, só preste mais atenção da próxima vez! Pode acabar esbarrando em algo que não queira.

Sua voz é familiar, como se um dia já tivesse a ouvido antes e o seu rosto me trás uma vaga lembrança de alguém que está perdido em minha mente.

— Olha por onde anda, idiota! — Minhas atenção foi roubada pela jovem, reviro os olhos, é como se ela percebesse as pequenas faísca que saíram na nossa troca de olhar.

— Droga, droga! — Ignoro a presença deles quando me lembro da mancha. Não olho para trás nem mais uma vez, quando, rapidamente corro à procura de um banheiro.

Infelizmente, a maioria das portas estão trancada, mas de várias uma finalmente se abre, justo a que tem uma placa escrita para não entrar... Obrigada, destino... Eu entro, a ignorando completamente. É um quarto, com algumas roupas espalhadas pelo chão, uma cama bagunçada como se provavelmente tivesse passado um furacão por ali, o local em completa desordem.

Ou alguém simplesmente se divertiu.

A essa altura do campeonato, o efeito da bebida já se dissipou, eu fecho a porta atrás de mim com um senso de urgência. A corrida até o banheiro é rápida, impulsionada pela necessidade de salvar a camiseta que se tornou um objeto de valor sentimental, um presente deixado pelo meu pai. Jogo a jaqueta no chão do quarto, enquanto atravesso a porta do banheiro, bem na divisão entre um cômodo e outro, com uma urgência que me faz agir com velocidade. Em um movimento seguinte, a camiseta também é retirada, deixando-me apenas de sutiã na parte de cima.

Seguro-a nas mãos com cuidado, ouvindo o som da água correndo que ecoa no banheiro quando ligo a torneira, não hesitando em jogar a camiseta sob ela. A água fria atinge o tecido manchado de vinho, e observo nervosa enquanto as manchas começam a desaparecer, levando consigo a coloração avermelhada que ameaça a lembrança deixada pelo meu pai.

Enquanto a água flui, minha mente está em conflito entre a necessidade de preservar a camiseta e o receio das possíveis consequências. Sei que, mesmo que a salve das manchas, ela estará molhada e, provavelmente, eu também.

Mas nada é mais importante que as últimas coisas que me restam dele...

Estou pronta para sair, dou uma última torcida na camiseta para vesti-la, mas antes de conseguir, algo chama minha atenção, sorrisos, o barulho aumenta, e o desespero se aproxima de mim quando percebo que irão entrar, a maçaneta da porta gira.

Droga, eu nem deveria estar aqui.

Não faço ideia de quem seja este quarto e estou invadindo sem mais nem menos. Apressadamente, corro em direção ao closet ripado que está em frente à cama e me escondo entre as roupas, tentando ficar o mais discreta possível.

Eles não podem me ver.

A porta é aberta bruscamente, duas pessoas atravessam o batente enquanto a mulher puxa o homem com pressa.

São eles.

Minha mente imediatamente volta a minutos atrás quando esbarrei nos dois, e agora mais uma vez estou de frente a eles, o pior, um momento bem mais embaraçoso.

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora