Loiry Sartori
Dias atuais.
Eu abri a boca e falei o que não devia? Sim. E por isso agora estou correndo pelos labirintos de espelho como uma louca. Sempre que penso que estou perto da saída, dou de cara com o meu reflexo mais uma vez, e sempre atrás de mim, eu posso ver a silhueta de quase dois metros dele. Draven está em todos os lugares e em nenhum lugar ao mesmo tempo e isso está me deixando atordoada.
Meu coração parece um tambor enlouquecido, batendo tão alto que temo que ele vá saltar da minha boca a qualquer momento, sempre que dou mais um passo em busca a saída. Cada batida que reverbera através de mim envia ondas de adrenalina para as minhas veias e isso dificulta os meus sentidos.
Eu sei que, quando ele me alcançar, enfrentarei uma punição cruel por todos os meus pecados, mas ainda assim, uma parte de mim anseia por esse momento. Cada fibra do meu ser se contrai sempre que penso nesse destino inevitável.
Estou perdida na vertigem de uma perseguição que pelo olhar dele, é bem mortal. E, mesmo com o terror consumindo meu ser, uma pergunta persiste: por que diabos estou tão excitada com isso?
Apresso meus passos pelo corredor quando sinto que mais uma vez ele está próximo. Eu mal consigo respirar, estou sufocada.
Cada vez que seus dedos parecem prestes a tocar minha pele, meu corpo se arrepia, e essa maldita onda de excitação me faz correr ainda mais rápido. Meus sentidos estão em alerta máximo, cada sombra projetada pelas luzes trêmulas me fazem pensar que é ele, pronto para me agarrar e me devorar como um lobo faminto. A sensação de ser observada grita em meus ouvidos, como se seus olhos estivessem queimando um caminho direto para minha alma. E várias vezes, acredito estar à beira de ser capturada. Um som de passos mais perto do que deveria, um reflexo que se move na direção errada, a sombra de sua figura imponente a apenas alguns metros de distância, sua voz sempre como um sussurro alcançando meus ouvidos.
— Você está preocupada demais em se esconder, boneca. — a voz é rouca e grave o suficiente para me deixar sem ar. — Porque não relaxa de quatro e me deixa puxar a coleira em seu pescoço como o ótimo dono que sou?
Meus dedos tateiam o material preso em meu pescoço, sinto o calafrio subir na espinha. Minha respiração se torna mais irregular, cada inalação e exalação é uma luta constante para manter minha sanidade. As paredes de vidro parecem se fechar sobre mim, elas querem me engolir e só ele pode me tirar daqui. A ideia de ser dominada, de finalmente sucumbir ao inevitável, me eletriza, faz o fogo em meu interior arder mais forte a cada segundo que passa.
Sinto o som de sua respiração próxima, a risada baixa e sinistra reverbera pelo ambiente, apenas mais um truque, meus olhos rodam e percebo que estou sozinha. Há apenas o meu reflexo. Dezenas de mim mesma.
As luzes hora vermelhas e hora azuis brincam ao meu redor. Embora a música esteja alta, consigo ouvir sua gargalhada maquiavélica ecoando pelos corredores. Sei que fugir e correr por toda essa casa é exatamente o que ele deseja. Ele quer me caçar como um cervo fugindo da mira de um caçador, alguém que está pronto para devorá-lo assim que a bala alvejar o coração. E mesmo tendo total controle sobre a presa, ele me deixa correr por pura diversão, para sentir o cheiro do meu desespero, apenas por sadismo. E eu estaria mentindo se dissesse que não estou gostando disso. Isso é bom pra caralho.
Eu já sabia que ele viria atrás, que me caçaria como um louco insano quando aceitei o convite de Kristian e era essa a intenção desde o princípio.
— Você ativou meu gatilho usando essa fantasia, boneca. — ele sussurra em um tom suave como se estivesse proferindo um feitiço, fazendo minha espinha gelar. Olho para trás e vejo seu reflexo distorcido. Sua presença é um espectro constante, a sombra que me segue a cada passo, cada respiração acelerada.
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A ARTE DO DESEJO
Roman d'amourOs opostos se atraem, mas se repelam como água e o azeite. Uma jovem pintora desperta após três meses em um coma, resultado de seus problemas com álcool após a perda do pai. Por mais que ela acreditasse que fosse graças ao coma, na verdade um trauma...