37 | 𝙸'𝚖 𝚠𝚊𝚝𝚌𝚑𝚒𝚗𝚐 𝚢𝚘𝚞

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Loiry Sartori
Dias atuais.

Ele realmente já estava com tudo resolvido. Isso incluía uma bronca no namorado da minha amiga, mandando-o controlar a situação com ela, até onde ele mesmo me contou durante o voo. Em poucos minutos ele perdeu a apresentação da banda, comprou as passagens de avião, me arranjou um café da manhã e fez as malas.

Eu poderia ter discutido, dito que não queria que ele fosse junto comigo, mas além de ser palavras jogadas ao vento e uma completa perda de tempo, eu apreciava esse tipo de atitude dele. Quer dizer, ele não estava apenas mandando em mim desta vez, mas também me dando um apoio que eu não esperava... Pelo menos não vindo dele.

Agora eu só tinha um problema: apresentar Draven à minha mãe.

O carro de aplicativo para em frente à minha casa, e um sentimento de hesitação começa a crescer. Olho para a fachada imponente e me pergunto se deveria ter tentado persuadi-lo a desistir de me acompanhar.

— Chegamos — o motorista avisa enquanto o carro encosta suavemente ao lado da calçada.

A casa à minha frente se impõe como uma fortaleza contemporânea, toda em vidro fumê e aço polido, um monumento frio de linhas retas e ângulos cortantes. Parece mais uma obra de arte futurista do que uma moradia. Na verdade, esse lugar nunca me passou a sensação de lar. Se me perguntarem, a cafeteria no centro, com seu cheiro de café torrado e conversas abafadas, é muito mais acolhedora do que esses muros gelados. E para ser sincera, é quase engraçado pensar que um simples deputado, com o salário esculpido para sua função, conseguiria bancar algo assim... Tem mais segredos escondidos aqui do que nos corredores do parlamento. Quanto mais rápido eu resolver o que vim fazer, melhor. Tem coisas muito mais interessantes acontecendo no lugar onde a verdadeira bagunça está.

Saímos do carro, e mal coloco o pé no chão, já sinto o peso da apreensão apertar meu estômago. A viagem foi curta, mas parece que a exaustão me atinge com força no exato momento em que respiro o ar deste lugar. Talvez seja só minha mente pregando peças... ou talvez seja esse lugar, que parece sugar minha energia, drenando-me assim que coloco os pés aqui.

— Você pode me fazer um favor? — pergunto, olhando para Draven ao meu lado, enquanto minha mão paira a milímetros da campainha.

— Se estiver dentro do meu alcance — ele responde, seus olhos me perfurando, como se estivesse tentando desvendar meus pensamentos.

— Não diga nada que eu vá me arrepender. — As palavras saem antes que eu possa reconsiderar. Eu sei que é inútil cobrar algo assim dele, mas tento mesmo assim.

Draven ergue uma sobrancelha, claramente se divertindo. Ele não é do tipo que faz o que pedem, muito menos quando pode causar caos. Na verdade, é o oposto: ele vive para ir contra o que esperam dele, só pelo prazer de provocar. E conhecendo bem o homem ao meu lado, tenho certeza de que ele fará exatamente isso — só para me ver perder a paciência. A sensação de arrependimento me atinge em cheio, como se tivesse sido atingida por um tijolo caindo do céu. Eu deveria ter mantido a boca fechada... Mas, é claro, quando o assunto é Draven, sabedoria nunca foi meu ponto forte.

Ele apenas sorri, sem dizer uma palavra. Apesar de tudo, eu ainda me agarro à esperança de que, lá no fundo, ele talvez acate meu pedido... Ou não. Com um suspiro, toco a campainha.

Já são quase sete horas da noite, o que significa que ela provavelmente está fazendo o jantar. Os segundos parecem se arrastar, e eu posso jurar que sinto cada um deles ecoando no meu cérebro, lentos e intermináveis.

Finalmente, a porta se abre.

— Loiry! Querida, que surpresa boa te ver! — A voz de George soa como chiclete mascado, revestida de uma doçura pegajosa e artificial, o que quase me faz revirar os olhos. Ele nunca me enganou com esse teatrinho. Se há algo que eu detesto mais do que falsidade, é a forma ensaiada e plástica com que ele tenta se mostrar encantador. George é do tipo que sorri para você, mas te apunhala pelas costas na mesma fração de segundo. Cada palavra que sai de sua boca tem o sabor amargo de veneno disfarçado de mel. O homem me enoja.

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora