12 | 𝙳𝚎𝚖𝚘𝚗𝚜 𝙽𝚎𝚟𝚎𝚛 𝙳𝚒𝚎

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Draven Kavintz
Dias atuais

A dor pulsante nas minhas mãos é uma lembrança constante da consequência dos meus atos. Limpar os nós dos dedos machucados e sujos de sangue é um gesto mecânico, quase automático, quando me viro em direção a mesa, dando as costas ao homem amarrado no pilar que sustenta o teto do porão da casa em que estávamos.

— Por favor... Eu não fiz nada com ela. — A voz do homem reduzida a murmúrios desesperados demonstra exaustão nas pernas depois de horas em pé. A situação não me parece mais que um exagero, considerando que há apenas alguns ossos quebrados em seu rosto, não é para tanto assim. Seus apelos por misericórdia ressoam como um eco distante, uma trilha sonora que preenche meus ouvidos.

Deixei Loiry aos cuidados de Louise no dormitório, consciente de que o sono dela não se dava apenas ao excesso de álcool em seu corpo. A inquietude me envolve enquanto pondero sobre as escolhas dela, realmente quero entender qual é a porra do problema que ela tem na cabeça para aceitar bebida de qualquer um. A necessidade de compreender a raiz dessa autodestruição me atormenta.

Senti meu sangue borbulhar quando os vi no bar da boate, então depois o vi colocando a porra de um boa noite cinderela na bebida dela. Eu não poderia simplesmente deixar que ele saísse sem receber as consequências das suas atitudes imundas.

— Devo admitir, não foi fácil te encontrar... — É impossível não soltar a camada de ar de frustração pelos lábios. Sem falar nos problemas que tive para verificar as filmagens de segurança da boate.

O homem diante de mim, com o rosto desfigurado pelas sessões de espancamento, é o resultado direto das suas escolhas. Minhas mãos, que começavam a cicatrizar devido ao último incidente no internato, agora estão novamente machucadas. No entanto, aceito o desconforto físico.

A luz fraca do ambiente escuro e sufocante deste lugar esconde o passar do tempo, não sei quantas horas se passaram desde que arrastei esse homem para cá. A música alta de Tyler, The Creator sai pelas caixas de som, perfeita para o momento, perfeita para abafar os gritos dele. Os equipamentos da banda estavam todos cobertos por longos panos brancos. Era o porão da sala de música da casa de Eliza, devidamente todo o local estava sob o meu domínio.

— Eu quero entender por que todos tentam tirar de mim o que me pertence. — Falo suavemente, indo em direção à caixa de ferramentas para guardar o alicate, cujas mandíbulas que estavam ansiosas para agarrar e destroçar, agora estão banhadas de sangue.

— Eu não sabia que ela era sua, cara. — O homem tem dificuldade ao falar, se contorcendo de um lado para o outro devido aos vários ferimentos em seu corpo, tentando se livrar do amarre das cordas, que apesar de finas, eram fortes. — Por favor, me deixa ir embora.

— Eu não vou te matar, fica tranquilo. Não entendo por que está fugindo de mim. — Peguei a guitarra que estava suspensa no suporte, era a minha preferida.

Preta, com detalhes dourados e uma figurinha feita pela gráfica exatamente como eu queria, um par de olhos castanhos âmbar, nunca me esqueceria desses olhos, já que são justo da cor dos olhos dela.

Achei que seria algo poético, me sentei com a guitarra entre meus braços, afrouxando as cordas para enfim soltá-las.

— Essas cordas são feitas de aço, com um núcleo resistente por dentro e um revestimento de níquel, o que eu mais gosto nelas é que proporciona um som nítido e durável, costumam ser bem resistentes, até mais que as de um violão. — Observo bem as cordas, ouvindo os murmúrios do homem. — As cordas mais finas são ideais para tons agudos, enquanto as mais grossas para sons mais graves.

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora