Draven Kavintz
Dias atuais— Onde ela está? — Seus ombros estão tensos. Ele inspira profundamente, visivelmente desconfortado com a minha pergunta.
— Pedi que ela fizesse um favor para mim. — Sua resposta é vaga. Espalmo a mesa sentindo o leve ardor nas palmas das minhas mãos. — Durante os próximos meses, ela atraira novos alunos para Cosllet, sendo em exposições, campeonatos ou feiras de artes. — Suas palavras saem como se Cosllet estivesse a beira da decadência. — Ela os trará até mim, algo que você não faz desde que ela chegou nesse maldito internato... Estou apenas fazendo o justo. Se ela está te atrapalhando, então vou usá-la para conseguir o que quero. — Sinto meu estômago embrulhar, suas palavras são como um soco. Em sua mente, tudo é um jogo, mas eu sei que esse jogo tem regras sujas, e ele está tentando manipular ela como se fosse uma simples peça, uma marionete.
— Ela não é a Louise e nem a porra de um objeto para você usar, deixe essas suas mãos podres longe dela. — Outro espalmo na mesa, dessa vez mais forte.
— Fique tranquilo, não tenho vontade de ultrapassar os limites com ela como você está fazendo... — Sorriu nasalado.
A essa altura a paciência que eu tentava controlar já havia se soltado, poderia ser a pessoa mais paciente do mundo, mas todo esse controle se esvai quando me vejo de frente a ele, jogo todo meu peso sobre minhas pernas, minhas mãos procuram desesperadas pelo seu colarinho e a mesa era o que nos impedia de estar mais próximos. Eu o puxei em minha direção segurando a gola de sua camisa cor gelo por baixo do blaser preto, encarando o sorriso alinhado em seu rosto, aquele sorriso que me fez cerrar os punhos para não quebrá-lo.
A pessoa que batia na porta ainda estava lá, chamando por Gideon, mas ele pouco dava atenção para quem quer que estivesse ali do outro lado.
— Você não vai enfiar a Loiry nessa porra nojenta que vocês fazem. — Sentia a raiva consumir meu corpo, meus pelos arrepiarem.
— Ela já está envolvida nisso, simplesmente por ser filha de Christopher. Estou apenas adiantando o inevitável, quer você queira ou não... — Loiry está longe de ser uma garota inocente, mas ela é boa. Não deveria ser corrompida assim, muito menos fazer parte desse jogo neste maldito internato.
Engulo a saliva rascante, cerrando ainda mais o tecido da camiseta de Simons em minhas mãos, por um segundo, suspiro fundo, então encaro seus olhos, tentando recuperar a sanidade que aos poucos me deixava.
— Eu vou cortar a sua garganta antes que tenha tempo de pensar em fazer com a Loiry o mesmo que o desgraçado do Christopher fez.
— Me ameaçando, é? — Ele estreita os olhos, apertando meus pulsos com força antes de soltá-los, exibindo um sorriso diabólico. — Se eu não seguisse ordens, eu mesmo daria cabo de você. — Finalmente, livra seu colarinho das minhas mãos, massageando o pescoço, agora vermelho pelo atrito do tecido.
A verdade é que tudo o que eu queria era afundar a cara dele nessa mesa, apenas para descobrir qual racharia primeiro: se seria sua cabeça ou a própria mesa. Meus punhos cerrados, a raiva borbulhando sob a superfície, eu me vejo lutando contra o impulso primitivo de agir violentamente. O verniz recém-aplicado na madeira parece provocar, como se desafiasse minha capacidade de manter a compostura. Cada batida do meu coração parecia como passos que me aproximavam a dar um soco nesse seu sorriso presunçoso.
Respiro fundo, reprimindo a fúria que ameaça transbordar. Não posso me dar ao luxo de perder o controle agora. Sigo em direção a porta, à saída da sala é uma libertação momentânea, mas a sensação continua a martelar em minha mente. Tudo está longe de terminar, e sinto que a partir de agora só vai piorar. Ele deu o primeiro passo, mais cedo do que imaginava, possivelmente graças a Noemia, aquela vadia ruiva que a denunciou.
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A ARTE DO DESEJO
Roman d'amourOs opostos se atraem, mas se repelam como água e o azeite. Uma jovem pintora desperta após três meses em um coma, resultado de seus problemas com álcool após a perda do pai. Por mais que ela acreditasse que fosse graças ao coma, na verdade um trauma...