Os raios de sol filtrados pela cortina invadem o quarto, revelando lentamente a paisagem da manhã. Minha cabeça gira em uma velocidade que faz meu estômago embrulhar, enquanto meus olhos se abrem gradualmente para encarar o teto. Um calafrio percorre minha espinha ao perceber que não estou sozinha. Draven está ali, sentado em uma cadeira ao lado da cama, seu olhar cansado contrasta com a luz do dia.
Os olhos sempre sombrios...
— A pequena musa ainda está viva... — Ele fala lentamente, soltando um tom de voz áspero. — Bom dia, bonequinha.
— O que você está fazendo aqui? — Minha voz soa rouca e ríspida mesmo que eu não queira, mas a dor na minha cabeça não ajuda. Minha mão instintivamente vai para a região dolorida, é como se eu tivesse levado uma paulada ou caído de cara no chão, algo assim.
— Bom dia para você também, Draven! — ele diz a si próprio como uma forma de sarcasmo, mantendo a expressão indiferente.
Os músculos da minha costela protestam enquanto tento me endireitar na cama, e Draven mantém seu olhar afiado sobre mim. A confusão borbulha e minhas pálpebras piscam várias vezes antes de conseguir focar no rosto dele mais uma vez.
Ao se aproximar, meus instintos me fazem automaticamente recuar, mesmo não tendo para onde correr sobre a cama de solteiro.
— Relaxa, não vou morder... pelo menos não agora. — Ele sorri de canto, mas seus olhos permanecem frios. — Estava apenas me certificando de que você não iria se engasgar com a própria língua enquanto dormia.
Confusão envolve meus pensamentos, e minha mente parece um quebra-cabeça com peças fora do lugar. Eu o encaro, tentando entender o que aconteceu. Draven suspira como se já esperasse aquilo, desviando o olhar para a janela.
— Estávamos em um bar, você bebeu demais, como sempre... E eu, fiquei a noite toda com você.
— Não precisava se preocupar... — uma sensação estranha se instala enquanto tento recordar os eventos da noite anterior.
Eu não consigo me lembrar...
— Não é preocupação, é conveniência... Além disso, você é mais interessante viva. — Usando uma expressão vazia, ele percebe meu desconforto sob suas palavras. No entanto, uma risada baixa escapa de seus lábios logo em seguida.
Não devo esperar nada de alguém que deixou claro o quanto sou irrelevante, especialmente quando seus próprios amigos alertaram sobre seu comportamento de usar e descartar, algo que parece estar fazendo com a garota ruiva e agora, comigo... Mas, por algum motivo, minha mente insiste no contrário.
— Por que está tão agitado lá fora? — Minha voz vacila enquanto a atenção é desviada, e o som das sirenes invade meus ouvidos.
Ainda estou com a mesma roupa, e há vestígios de sangue...
A lembrança se insinua lentamente em minha mente, como uma névoa dissipando-se. É apenas então que me recordo de cada palavra trocada na sala do diretor, a discussão intensa e em como ele tentou me apagar com clorofórmio.
— O que aconteceu com Gideon?
Há algo mais que assombra cada centímetro dos meus pensamentos, algo que hesito em perguntar, com medo de parecer uma lunática e pior ainda, fazer Draven pensar que tenho sonhado com ele, mas eu não quero acreditar que ele seja o garoto da floresta.
Balanço a cabeça para afastar o arrepio que ameaça percorrer meu corpo. Talvez em outro momento eu encontre coragem para questionar.
Draven inclina a cabeça quando se volta para mim, como se esperasse essa pergunta e então se levanta.
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A ARTE DO DESEJO
RomanceOs opostos se atraem, mas se repelam como água e o azeite. Uma jovem pintora desperta após três meses em um coma, resultado de seus problemas com álcool após a perda do pai. Por mais que ela acreditasse que fosse graças ao coma, na verdade um trauma...