29 | 𝙷𝚒𝚍𝚍𝚎𝚗 𝚝𝚛𝚞𝚝𝚑𝚜

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— Fique tranquila que Lincey será punida por invadir sua vida pessoal e trazer à tona um assunto tão sensível, Loiry. — Gideon suspira, os ombros erguidos, o ego nas alturas, os olhos cintilando com malícia. Os músculos marcados pelo blaser de grife cinza, sua postura é de quem se sente superior. — Mas, agora que os dois estão aqui, irei repassar mais uma vez as nossas regras. — O diretor, um homem de semblante austero e voz grave, observa, fixo em meus olhos. Como se aquelas regras fossem ditadas especificamente para mim.

— Regras inúteis de um tirano burocrata que adora brincar de Deus deste internato. — Draven inclina ligeiramente para trás, os olhos sérios e entediados.

— E pelo visto não são suficientes para mantê-los na linha. — Gideon rebate cortando as palavras do músico. — Vocês dois arrumaram uma grande confusão na última noite, mas como não estavam dentro do internato, não é problema meu. Agora, o que aconteceu hoje foi totalmente inadmissível e eu não posso permitir que os dois fiquem vagabundeando juntos pelos corredores depois disso.

— E o que o "senhor todo poderoso" vai fazer a respeito? Riscar uma fronteira pra nós dois vagabundearmos separados? — Draven rebate com sua voz carregada de desdém. Ele está apoiado na parede próxima à porta, com os braços cruzados sobre o peito. Seu corpo está relaxado, mas há uma tensão latente em sua postura, como se estivesse pronto para agir a qualquer momento.

Eu permaneço de pé, atrás da poltrona, indecisa sobre onde exatamente fixar meus olhos, embora saiba muito bem para quem eu realmente quero direcionar meu olhar. Minha mente luta contra a tentação de encarar diretamente Draven, cuja presença dominante exerce uma atração magnética sobre mim. No entanto, uma parte de mim hesita em desafiar o olhar penetrante de Gideon, consciente das consequências de provocar sua ira. Assim, me vejo presa em um impasse, dividida entre a segurança relativa de evitar o confronto com o diretor e o desejo irresistível de mergulhar nos olhos ardentes de Draven.

— Nisso você tem razão senhor Kavintz... dentro deste internato eu sou o senhor todo poderoso, e apesar das suas ameaças, ainda tenho o controle sobre as suas coleiras.

Draven, retira casualmente um isqueiro do bolso de sua calça, fixa nele e começa a friccionar o dedo com intensidade, criando atrito suficiente para gerar faíscas que logo se transformam em chamas dançantes em seu isqueiro. Acender e apagar a chama, é isso que ele faz repetidamente, causando sequências de fogo que parecem gritar com a intenção de consumir o homem à nossa frente. Ele certamente está mais interessado no jogo de chamas do que nas palavras do diretor.

— Não duvide da capacidade que eu tenho de destruir suas vidas. — Gideon continua, sua voz gotejando veneno. — Vocês não são nada, e posso fazê-las desaparecer com um simples movimento. E você, Loiry, é melhor aprender o significado de autoridade, antes que seja muito tarde para qualquer aprendizado.

E então ele ergue o olhar em direção ao homem.

— Bom, diretor, você é velho o suficiente para saber o que acontece com quem brinca com fogo. — Draven responde, sua voz carregada com uma calma perturbadora, olhos mesmo fixos no diretor, brilham sob a luz alaranjada da chama. — Eu poderia usar das minhas influências, dizer que eu tenho contatos e tudo mais, mas você sabe que eu não preciso disso. Continue com as suas ameaças e o cheiro da sua carne queimando vai ser a última coisa que vai sentir.

Gideon solta uma risada escancarada, se jogando contra o respaldo da cadeira.

— Sabe o que eu mais gosto em jovens como vocês? — ele sorri, mas não há calor em seu gesto, apenas um vazio sinistro. — É o fato de acharem que por ter o respaldo do sobrenome, estão acima de qualquer coisa. Tão arrogante. Tão cheio de si. Você me lembra alguém... ah qual era o nome dela? Ah lembrei... Alessa, ela também chegou aqui com esse fogo todo, mas quando saiu, ela já tinha aprendido o suficiente sobre não desafiar a minha autoridade.

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora