17 | 𝚃𝚑𝚎 𝚝𝚛𝚞𝚎 𝚏𝚊𝚌𝚎 𝚘𝚏 𝚝𝚑𝚎 𝚍𝚎𝚟𝚒𝚕

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— Loiry? — sinto leves tapas em meu rosto, carícias que não chegam a ser fortes, mas que ecoam como suaves batidas nas minhas bochechas. — Me diga... Quais são as cores da noite estrelada, Loiry?

A voz ressoa distante até meus ouvidos, como se tentasse me puxar para ele, mas minha mente está em apenas um local.

— Led vermelha e azul... — murmuro, ainda presa nas lembranças do quarto de Christopher.

— Não, me responde... Quais são as cores na noite estrelada de Vincent Van Gogh? — ele insiste em perguntar, mas eu não sei como responder. Ainda sinto a leve carícia das mãos gélidas em minhas bochechas, ainda ouço a voz vinda do fundo do meu subconsciente.

Uma sensação de desespero começa a me envolver, uma névoa que ameaça me afogar. Meu coração bate descontrolado, minha respiração se torna irregular.

— É a sua pintura preferida... Você não se lembra, mas eu sei. — a voz gutural é calma e tenta amenizar o tumulto que ruge em meu peito. — O céu noturno em azul celeste e índigo... As estrelas e a lua em amarelo e ocre... Você me disse uma vez, pequena musa... Apesar da noite escura, a presença de estrelas e uma lua brilhante é como uma nota de esperança, a possibilidade de encontrar luz mesmo nos momentos mais sombrios... É o que você vê na arte como uma pintora, não é? Tenta me dizer mais uma vez... Tenta encontrar essa luz agora. — suas mãos firmes deslizam pelo meu rosto, tentando acalmar minha respiração desenfreada. — Quais são as cores?

Minha mente insiste em permanecer nas lembranças que uma vez já não me pertenceram.

— Turquesa em alguns pontos, especialmente nas áreas de movimento do céu... Estou certo?

— Branco... para realçar o brilho... das estrelas. — consigo sussurrar entre respirações entrecortadas, tentando me ancorar nas palavras familiares.

Ele me segura com firmeza, seus olhos tempestuosos fixos nos meus, transmitindo uma sensação de calma e segurança que começa a penetrar o escudo do pânico ao meu redor. Seu toque é suave, reconfortante, como se ele estivesse me guiando de volta à realidade. Seus dedos retiram os fios de cabelos que despencam sobre meu rosto.

— Você está aqui, bonequinha. Respire comigo... Respire fundo. — Sigo suas instruções, tentando me concentrar na cadência da minha respiração. Cada inspiração e expiração parecem uma âncora no presente, me ajudando a encontrar um pouco de calma em meio à tempestade de lembranças que ameaça me engolir. Sinto suas mãos, que, inicialmente gélidas agora estão quentes... Talvez por perceber que aos poucos está conseguindo me acalmar,  consequentemente o acalmando também. O toque gentil em minha pele, como se fosse um farol em meio à escuridão, guiando-me através do labirinto de pensamentos tumultuados. Seus polegares acariciam minhas maçãs do rosto com uma suavidade reconfortante.

Meus olhos varrem o redor, percebo então que não estou mais na enfermaria, mas sim em uma sala totalmente vazia, com a porta e as cortinas fechadas. A má iluminação permite que eu veja Draven à minha frente, há apenas nós dois.

— Você estava surtando na enfermaria... — a voz antes serena, agora soa áspera, mas percebo um lampejo de preocupação em seu olhar. Suas mãos deslizam até repousar em meus ombros. — Te trouxe para cá já que ninguém conseguia te acalmar.

— Já pode me soltar, eu não vou fugir. — digo um pouco mais firme agora, embora ainda esteja sentindo uma certa dormência nas minhas extremidades.

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora