11 | 𝙼𝚊𝚗𝚒𝚙𝚞𝚕𝚊𝚝𝚒𝚘𝚗 𝙶𝚊𝚖𝚎

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Esforço-me para manter minha atenção no professor, que está de frente para a lousa branca; contudo, é uma tarefa inútil quando as lembranças do sonho me atingem em cheio. Meus olhos percorrem cada rosto na sala, embora eu relute em aceitar que estou procurando especificamente por ele. Não o vejo; todos os rostos são distintos, mas o dele não está entre eles. Estranhamente, Draven faltou no seu segundo dia de aula.

E se as palavras de Noemia realmente forem verdadeiras? Talvez seja por isso que ele não apareceu; talvez tenha gastado suas energias no quarto da ruiva.

Mais uma vez, involuntariamente, me vejo machucando meus próprios dedos, afundando as unhas entre minha pele, arrancando pequenos pedaços das pontas dos meus dedos. Em meu peito, uma ardência crescente se manifesta, uma sensação de sufocamento. A ideia de Draven gastar tempo com outra pessoa, especialmente com a ruiva, provoca uma desconfortável pontada em meu peito.

Na verdade, desconheço completamente a razão por trás desses sentimentos. Não é como se eu nutrisse algum sentimento por ele... Mal consigo suportar o simples ato de olhar para o seu rosto. Tenho tantas preocupações a ocupar minha mente, e certamente essa não deveria ser a única a merecer minha atenção. No entanto, algo me intriga, algo que não consigo ignorar, mesmo que queira.

As palavras da ruiva, o toque dele, tudo ressoa em minha mente como um monte de cartas embaralhadas sobre uma mesa, causando um caos em meu foco. Está se tornando difícil manter a clareza, pois esses pensamentos parecem sufocar minha capacidade de concentração.

Hoje, a turma está tomada por uma euforia contagiante, com inúmeras vozes ecoando pela sala simultaneamente, mal deixando espaço para que Matteo possa se expressar. Essa agitação é irritante; minha cabeça lateja intensamente. Deslizo meus dedos suavemente sobre as têmporas na esperança de aliviar a dor, após ingerir um pequeno comprimido para dor de cabeça. A ideia de ir à enfermaria não me atrai...

— Ei, você está bem? — É a voz de Louise sussurrando, me tirando de um transe que nem percebi que havia entrado.

— Só estou com um pouco de dor de cabeça — Minha voz sai quase latente pelos ruídos dos outros alunos —, e eu também não dormi direito.

Ela parece tão entediada quanto eu. As palavras de Matteo escapam de seus lábios, mas são inaudíveis; vejo apenas seus gestos e boca se movendo de frente ao quadro branco. Agora entendo o motivo de seu desespero para que eu participe do torneio. A tela de linho diante de mim está limpa, aguardando apenas a ordem para começarmos. Louise, ao meu lado, mexe no celular, escondendo-se atrás do cavalete. Seus dedos digitam com agilidade, mais rápidos que o sorriso fugaz que surge em seu rosto.

— Não me impressiona. Você chegou acabada pela madrugada. — Seus olhos finalmente repousam sobre mim.

É um ponto sensível que ela toca, eu arranho a ponta dos dedos com as unhas, sentindo o calor que se intensifica. Se minhas mãos não estivessem suadas devido ao nervosismo, certamente estariam rachadas pela força que aplico ao atrito. Mas não demora muito para que eu veja o pequeno fio de sangue escorrer por um dos cortes que causei pela minha unha. Isso arde graças ao suor.

Era algo que a muito tempo não fazia, mas com tudo que vem acontecendo já nem sei mais quais costumes permanecem no passado.

As noites vem me revelado algo que nem se quer lembrava de mim... A dor, a sensação após a dor. O alívio e a necessidade de senti-lo novamente, quase como uma sensação que me entorpece como uma droga.

Como a porra de uma metanfetamina viciante.

"A dor e o prazer andam de mãos dadas."

Essas palavras ressoam em minha mente como o tilintar irritante de um sino.

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora