15 | 𝙼𝚒𝚜𝚛𝚎𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚎𝚍

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Loiry Sartori
Dias atuais...

— Ah... Que droga. — praguejou, por fim relaxando os ombros que estavam tensos. Sua mão esquerda foi ao encontro dos fios de cabelo que escorriam sobre sua testa, ajustando-os para cima. — Vou te dar mais uma chance de voltar para o quarto, seria mais sensato se você voltasse e ficasse lá até amanhecer.

As palavras dele me deixaram confusa. Ele saberia o que estava acontecendo neste internato? Até agora, só acumulo dúvidas, e nada mais. Minha mente está a mil, como se não bastassem as memórias perdidas, ainda tinha que lidar com o fato de estar em um local onde tem apenas questionamentos me cercando.

— Você ainda não respondeu por que está aqui! — lembrei-lhe da pergunta, quando nos dirigimos em direção as grandes janelas no outro lado da sala.

— Você quer realmente saber?

— Desembucha, Noah.

— Sou sonâmbulo. — ele respondeu de maneira direta, mas mesmo com sua expressão séria, pude sentir a ironia permeando suas palavras. Arqueio as sobrancelhas, exibindo meu tédio, e finalmente ele suspira, cedendo. — Aaah, não aguento mais guardar tudo isso para mim. Preciso de algo, respostas... E sei que o diretor tem o que estou procurando.

Meus pensamentos se agitavam, alternando entre diferentes questionamentos. Havia uma enxurrada de perguntas que poderia fazer: por que o diretor? O que ele poderia saber? No entanto, havia algo mais soturno oculto por trás das palavras dele, algo que ele não estava revelando por completo. De repente, uma onda de inquietação se espalhou pelo meu corpo, como se meu próprio instinto estivesse me colocando em alerta.

— E qual era o seu plano? — perguntei, esfregando as mãos uma na outra para amenizar o frio que se intensificava nas pontas dos meus dedos.

— O mesmo que você. — ele respondeu, uni as sobrancelhas em dúvida. — Eu sei que você esteve na sala de Gideon e sei o que viu... — É possível ouvir o celular vibrar em seu bolso; ele pega o aparelho, que ilumina parcialmente seu rosto, revelando olhos negros cansados e as olheiras profundas.

Retrocedi, sentindo minhas pernas vacilarem. A simples recordação daquela cena fazia meu estômago revirar.

Já vi várias pessoas sendo manipuladas, mas nada se compara com a aflição que senti quando vi Louise ser usada daquela forma. Internamente, revivia a intensidade daquele momento, a sensação de desequilíbrio físico mesmo que visivelmente ela tenha gostado, tem algo no fundo que martela, a sensação de que ela não esteja tão de acordo assim.

Que porra de problema eu me meti. A dor nas têmporas lateja, como se fosse um coração pulsando em minha cabeça. Não há sinal de sono embora devesse, considerando que mal dormi nos últimos dias. Sei que, quando o sono finalmente chegar, será uma enxurrada de exaustão, tanto física quanto, principalmente, mental.

— O que você está procurando? — perguntei, massageando minhas têmporas. Mesmo que tentasse ocultar a expressão de dor, era em vão.

— Anos atrás, uma aluna simplesmente desapareceu... — Fecho os olhos por um momento e, rapidamente, volto a encará-lo ao ouvir suas palavras.

— Como assim? — Minha voz corta o ar abruptamente.

— Na verdade, isso é constante. — Ele faz uma pausa, suspirando e então desliga o celular, guardando-o novamente no bolso de sua calça moletom, quase idêntica à minha, cinza. Algo em seu aparelho parece tê-lo incomodado visualmente, talvez mensagens, mas ele não dá muita importância quando volta a me dirigir sua atenção. — Alunos vêm e vão. Mas eu suspeito que não sejam simplesmente idas, e na sala de Gideon deve haver algum relatório sobre para onde esses alunos são transferidos...

A ARTE DO DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora