É certo que os transtornos mentais afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Entretanto, o número de casos em mulheres vem aumentando consideravelmente. A produção hormonal é um dos motivos para que elas se tornem mais propensas a desenvolverem problemas psicológicos. Enquanto os homens são conduzidos pela testosterona, o hormônio ligado ao vigor, apetite sexual e agressividade, as mulheres passam mais dias produzindo estrogênio e progesterona. E quando ocorre a queda do estrogênio, o emocional se desregula. Porém, há um outro ponto a ser mencionado aqui: além da parte hormonal, fatores sociais interferem diretamente e podem ditar como a mulher se enxerga na sociedade. Visto que elas costumam ter uma maior pressão e anseios culturais, resultando em baixa autoestima, medos, tristeza e insegurança.
A pressão psicológica do casamento, por exemplo, é um desses fatores sociais. Apesar de ter diminuído com o passar dos anos, ainda continua sendo um dos principais anseios das mulheres, tanto pelos padrões impostos pela sociedade em relação ao que se espera da mulher, como o falso dever de que elas precisam ser mães e construírem suas próprias famílias.
O vestido branco, o buquê, a música tocando dentro da igreja... essa cena clássica de novela invade o imaginário feminino, criando uma série de expectativas. Aí vem o medo dos anos passarem, o que leva muitas mulheres a se casarem por impulso. Porém, aquelas que não conseguem encontrar um parceiro compatível acabam desenvolvendo ansiedade e depressão. Elas se tornam angustiadas e inquietas, o que compromete suas futuras relações.
Segundo a psicóloga e psicanalista Cynthia Boscovich, a crise dos trinta anos é real e causa angústia em muitas mulheres, por vezes devido às suas próprias cobranças. Nessa faixa etária, elas sentem-se ainda mais pressionadas em atender a expectativas da sociedade, a qual intitulou que aos trinta anos já devem casar e ter filhos.
A vaidade também entra na crise dos trinta, porque a ditadura da beleza criou um universo independente, somente feminino, onde as mulheres são obrigadas a estar sempre impecáveis. Dessa forma, ao envelhecerem, elas começam a ficar preocupadas com a aparência, e se comparam com meninas muito mais jovens. É onde a autoestima diminui, a insegurança aumenta e surgem os transtornos mentais. Mas como superar tudo isso?
Em primeiro lugar, o autoconhecimento é fundamental. É preciso equilibrar todos os setores: família, lazer, trabalho, dinheiro, mente, corpo e espiritualidade. Defina seus objetivos e pergunte a si mesma se o que você planejou é realmente o que quer. Tenha confiança, avalie suas prioridades e veja se está no caminho certo. O próximo passo deve ser o foco no momento; não exagere nas cobranças e respeite o momento, entendendo que as suas decisões precisam ser pautadas no que você pensa, não no que a sociedade acha.
Quando escrevi esse capítulo, confesso que tive receio de contextualizar o assunto. A minha inspiração feminina mais forte sempre foi a minha mãe, uma pessoa dedicada aos filhos, amorosa e altruísta, mas que teve dificuldades em se tornar independente. Giulia me ajudou, no entanto, ela também deixou claro que estava longe de ser inspiração e a representação máxima de resiliência para outras mulheres. Então não me restou outra escolha, a não ser mergulhar em pesquisas até encontrar as personagens ideais. Mencionarei algumas do universo ficcional e outras do mundo real. E mais tarde explicarei como suas vidas tão distintas se cruzam e nos levam ao mesmo assunto.
Sarah Brendlove nasceu em 23 de dezembro de 1867, em Louisiana, filha de Owen e Minerva Brendlove, e irmã de cinco irmãos. Foi uma empreendedora americana, filantropa e ativista política, registrada como a primeira mulher que se tornou milionária nos Estados Unidos. A sua biografia se encaixa na história, já que ela se casou algumas vezes e enfrentou grandes obstáculos.
Sarah fez sua fortuna desenvolvendo e comercializando uma linha de cosméticos e produtos capilares para mulheres negras. Antes do sucesso, porém, teve que lutar e trabalhar muito. Os pais dela e seus irmãos mais velhos foram escravizados por Robert W. Burney em sua Plantação da Paróquia de Madison, o que a fez a primeira filha de sua família nascida em liberdade após a assinatura da Proclamação de Emancipação.
Sua mãe morreu em 1872, provavelmente por cólera. E o pai morreu um ano depois. Órfã aos sete anos, Sarah mudou-se para Vicksburg, Mississippi, aos dez anos de idade, onde morou com sua irmã mais velha, Louvenia, e o cunhado Jesse Powell. Sarah começou a trabalhar ainda criança como empregada doméstica, por não ter quase nenhuma oportunidade. Além disso, sua educação formal se resumia apenas às aulas de alfabetização na escola da igreja que frequentou durante a infância.
Em 1882, Sarah casou-se aos quatorze anos com Moses McWilliams, para escapar dos abusos de seu cunhado. Três anos depois eles tiveram uma filha, A'Lelia Walker. Moses morreu dois anos depois e Sarah se casou novamente, com John Davis. Mais tarde ela se separou de Davis e se mudou com A'Lelia para St. Louis, Missouri.
Sarah trabalhou como lavadeira, ganhando pouco mais de um dólar por dia, almejando dar uma educação para filha melhor do que recebeu. Nessa época, viveu em uma comunidade voltada a música Ragtime, cantou na Igreja Episcopal Metodista Africana de São Paulo e começou a vislumbrar um futuro melhor ao ver a ação de outras mulheres em sua igreja. Acabou sofrendo caspa severa e outras doenças do couro cabeludo, devido a distúrbios da pele e à aplicação de produtos agressivos que foram incluídos nos sabonetes para limpar os cabelos e lavar as roupas.
Em janeiro de 1906, Sarah casou-se pela terceira vez, com Charles Joseph Walker, um vendedor de publicidade de jornais que conheceu em St. Louis, foi onde ficou conhecida como Madam C. J. Walker. Após o casamento, transformou-se em uma cabeleireira independente e varejista de cremes cosméticos, vendendo produtos de porta em porta, e ensinando mulheres negras a cuidar e pentear seus cabelos. Como defensora da independência econômica das mulheres negras, abriu programas de treinamento para sua rede nacional de agentes de vendas licenciados que recebiam uma ótima comissão, tornando-se uma das maiores empreendedoras de sua época.
Assim como tantas mulheres, Walker precisou lidar com diversos agentes estressantes que poderiam ter impactado sua saúde mental, mas a sua forma de viver mostrou como alguns fatores sociais são enviesados pela sociedade, não sendo sinônimo de prosperidade. Da mesma forma, as ameaças não são sinônimos de fracasso.
A exemplo disso, a carreira de Sarah só começou a decolar após todos os seus divórcios. O seu segundo casamento com John Davis, o qual durou dez anos, revelou-se destrutivo e opressor. Quando perdeu os cabelos, ela não deixou que sua insegurança lhe impedisse de sair do mesmo lugar, ao contrário, foi o motivo para que começasse a empreender. Ao ser mãe pela primeira vez, permitiu-se ser forte, motivada pela vontade de dar uma educação melhor para a filha. Nesse aspecto, casamentos são importantes quando construídos por admiração, amor e respeito. Porém, não deve existir pressão alguma, ou limite de idade para que eles aconteçam. Além disso, medos e inseguranças podem ser contornados pelo esforço, coragem e dedicação.
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Psicologia em Jogo
خيال علميNeste livro, os problemas do mundo moderno são abordados de uma forma leve e criativa. Os autores sugerem quais as melhores estratégias para conseguir superar os desafios, gerir o tempo e a saúde mental, e como ser emocionalmente inteligente. Ser fe...