Os segredos da felicidade

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Não se sabe ao certo se os vírus são bloqueadores mentais diretos da felicidade. Entretanto, vários estudos já demonstraram que eles podem causar os mesmos sintomas de depressão em pessoas vulneráveis. A gripe, por exemplo, é capaz de produzir uma resposta inflamatória no corpo que afeta o cérebro e desestabiliza o humor. E a COVID-19 possui os mesmos efeitos, mas em uma escala, digamos, um tanto oculta.

Essas pessoas eram independentes financeiramente e suportaram o luto, mas não suportaram a tristeza advinda de um agente patológico.

Quando Heloísa Garaldi, uma professora de sociologia do Ensino Médio, contraiu COVID-19, em setembro de 2022, ela ficou congestionada, exausta e seu olfato e paladar desapareceram por uma semana. Ela sabia desses sintomas antes de contrair a doença e não ficou surpresa. Porém, a tristeza e os problemas para dormir, que começaram meses depois, pegaram-a desprevenida.

— Nunca tive depressão antes. — afirmou Heloísa. — Para mim era algo incabível.

— Como você está se sentindo? — Perguntou Giulia.

— Sinto essa coisa aqui dentro... angústia.

— Vamos reorganizar sua mente.

Evidenciado por um estudo feito a partir de depoimentos de milhões de pessoas que usaram o sistema de saúde do Departamento de Assuntos dos EUA, mesmo depois de se recuperarem fisicamente da COVID-19, estima-se que milhões de pessoas sentem-se deprimidas, apáticas e emocionalmente fora de ordem. Há relatos de desordem nas ações, sonhos e até pensamentos.

— Fale um pouco sobre seus sentimentos — pediu Giulia.

— Eu tive uma fase ruim na minha vida, quando era adolescente, após terminar um relacionamento de anos — disse Heloísa. —, mas dessa vez é muito pior.

— O que mais lhe incomoda agora?

— É difícil explicar para meus alunos que não estou indo nas aulas porque me sinto deprimida.

Heloísa pensou que havia superado uma fase extremamente difícil, e que estava pronta para recomeçar, mas uma intensa onda de melancolia a envolveu entre junho e agosto. Então ela resolveu se consultar com um psiquiatra comportamental, que a diagnosticou com depressão.

De acordo com uma pesquisa da revista CNS Drugs, quase metade dos entrevistados relataram sintomas depressivos após a recuperação da COVID-19. E não é porque essas pessoas ficaram semanas confinadas e tiveram grandes perdas familiares, mas sim porque elas desenvolveram depressão pós-viral.

A ligação entre doenças virais e depressão não é nova, mas tornou-se mais compreendida nas últimas décadas. Um estudo feito em uma edição da revista Brain descobriu que pessoas gripadas tinham maiores riscos de ter depressão, em comparação com aqueles que não contraíram o vírus em um intervalo de três meses. A depressão pós-viral também pode acontecer com o vírus Epstein-Barr, que causa a mononucleose, e outros vírus não específicos.

Um artigo publicado na VIM descreveu que pacientes em surtos mentais causados pela COVID-19 corriam riscos acima da média de se tornarem dependentes de antidepressivos e remédios para dormir. Outro estudo publicado na edição de abril de 2022 do Journal of Neurology demonstrou que níveis elevados de ansiedade eram comuns entre os sobreviventes.

Além disso, pesquisadores da Unicamp conseguiram provar que o coronavírus infecta a parte ligada à rede neurológica. Os autores identificaram a presença de material genético do sars-cov-2 no cérebro, com focos de infecção nos astrócitos — células com diversas responsabilidades no sistema nervoso, como o suporte funcional e nutricional dos neurônios e manutenção da homeostase, uma condição estável em que um organismo deve permanecer para realizar suas funções adequadamente.

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