Há alguns meses, um seguidor escreveu-me agradecendo por compartilhar o contato telefônico de Giulia. Ele disse o seguinte em uma de suas mensagens privadas: "não conheci nenhuma psicóloga tão boa quanto a sua namorada. Eu sei que faço parte de uma geração deprimida e ansiosa, e não posso escapar disso sozinho, mas ela me salvou".
Não tive tempo de corrigi-lo e dizer que Giulia não era minha namorada. Isso parecia pouco importar. Ele não estava ali para saber das nossas vidas, e sim porque não tinha mais vontade de viver. Sem motivação, a sensação era de que a vida perdeu o sentido. Sair para festas ou ficar em casa com a família, trazia vazio semelhante. O seu mundo perdeu a vivacidade, sendo, em sua concepção, impossível trazê-la de volta.
Giulia o atendeu com o mesmo entusiasmo de sempre, dando suporte e o auxiliando em seu tratamento. Mais tarde, ela adiou o pedido dele de ir a um psiquiatra quando percebeu que o caso não era tão sério e a terapia teria um sucesso considerável, se seguida corretamente.
Dias depois, enquanto navegava pela web, percebi como os jogos revelam as emoções mais ocultas das pessoas. Dessa forma, compartilhei o tema com a minha amiga e encontramos a maneira perfeita de associar os problemas modernos, com algo que pudesse evocar bons presságios. Em seu discurso que ministraria para alunos graduandos em Psicologia, Giulia não desejava falar sobre ansiedade e depressão através de uma ótica cinzenta. Ela queria falar desses temas sem parecer algo triste demais.
— Celeste lhe ajudará com boas dissertações — afirmei.
— Obrigada pela recomendação, amigo. — respondeu Giulia.
— Você já começou a escrever o seu artigo científico?
— Não. Mas já tenho a ideia inicial.
Celeste é um jogo eletrônico desenvolvido pelos canadenses Maddy Thorson e Noel Berry. Ele conta a história de Madeline, uma jovem garota que resolveu, em um ato imprudente, escalar o topo da montanha apenas para provar a si mesma suas próprias habilidades. Ao longo do árduo caminho até o cume, a personagem principal descobre que precisa encarar o seu maior inimigo: ela mesma.
Eu recomendei Celeste por dois motivos: primeiro, por se tratar de um jogo aclamado pela crítica. E segundo, por transbordar emoções que muitos se identificam. Durante o desenrolar da trama, o jogador acaba descobrindo as motivações e os problemas de Madeline; ansiedade, depressão, insegurança e ataques de pânico. A história trata desses temas com precisão, conseguindo desenvolvê-los tão bem ao ponto de pessoas reais se inspirarem nela, enquanto conduzem a protagonista pelos desafios.
Cada fase do jogo aborda uma dificuldade diferente, fazendo paralelos interessantes entre os problemas mentais e os problemas físicos que Madeline precisa vencer, se quiser chegar ao topo da montanha. Além de pular, escalar paredes por um período limitado de tempo, podemos realizar traços no meio do ar, nas oito direções cardeais. Ao longo das fases, encontramos mecânicas adicionais; molas que lançam penas que permitem um breve voo, e objetos mortais, como espinhos assassinos. Mesmo com a camada previsível de fantasia, a humanidade está lá. O clima entra em harmonia com a trilha sonora, as músicas aventureiras cantam simpáticas composições e efeitos sonoros aconchegantes. Celeste traz beleza em meio a dor, mostra como as doenças mentais afetam o mundo de quem as sofre, e quão desafiador é lidar com elas. No entanto, admite que é possível vencê-las com esforço.
Uma comparação interessante que Giulia fez entre o jogo e os problemas mentais foi a escalada íngreme da montanha e a escalada que nasce durante a exposição dos transtornos mentais. Ela interpretou o cume misterioso e os demônios internos como metáforas. Nesse caso, os medos e inseguranças de Madeline refletem a caminhada de autoaceitação e superação, fornecendo um enredo inspirador.
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Psicologia em Jogo
Fiksi IlmiahNeste livro, os problemas do mundo moderno são abordados de uma forma leve e criativa. Os autores sugerem quais as melhores estratégias para conseguir superar os desafios, gerir o tempo e a saúde mental, e como ser emocionalmente inteligente. Ser fe...