Capítulo 5 - Pelas filhas

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Boa leitura!

.....

Capítulo 5

Kocho Shinobu

Não pode ser.

Em chamas

Minha casa está em chamas.

— Mamãe! — Naho corre na minha direção, agarrando minhas pernas. Eu estou tão em choque, que não consigo me mexer. Minha pequena filha chora como o bebê que é. Olho desesperada para Kanae, que chora junto da Kanao.

Então noto uma coisa:

Onde está a Aoi?

Entro em desespero. Junto Naho no colo e corro até Kanae. Desesperada, digo:

— Kanae, onde está a minha filha? — ela abaixa a cabeça. — Kanae, eu não tô brincando. Cadê a minha filha? Cadê a Aoi?!

Ela suspira. Se vira para um bombeiro.

— Por favor, fique de olho nelas.

Kanae me puxa entre os bombeiros, até que chegamos perto de uma maca. Minha alma sai e volta ao corpo em segundos.

Aoi está com várias queimaduras. Nesse momento, os paramédicos estão fazendo os primeiros socorros.

— E-Ela... m-morreu? — à essa altura, lágrimas grossas escorrem dos meus olhos.

— Não, senhorita. Ela só desmaiou por causa da dor. — Quero agarrar a mãozinha da minha filha, mas vejo as queimaduras. Deve estar doendo. E vai doer se eu tocar.

— Como... como foi que o incêndio começou? — Kanae toca meu ombro.

— O botijão de gás explodiu na cozinha. A Aoi estava lá, por isso foi a única que se machucou gravemente. As queimaduras são de terceiro grau. — arregalo os olhos.

— Ela vai ficar com cicatrizes?

— Provavelmente. — diz o paramédico. Começo a chorar muito.

Minha filhinha...

— Mas ela vai sobreviver, moça. Só vai ter marcas. Mas encare as cicatrizes como marcas de uma guerreira.

Com um leve sorriso, concordo.

— Quando ela vai acordar? E o que vão fazer com essa seringa? — minhas perguntas não param.

— É morfina. Para ela não sentir dor. E ela vai dormir bastante. Mas não se preocupe, acordada ela estaria sofrendo.

— Entendo. — acaricio o cabelo dela. — Você vai ficar bem, minha filhinha. Tenho certeza disso. — Começam a colocar a Aoi na ambulância. — Kanae, cuide da Naho. Eu vou com a Aoi. — ela assente.

— Mamãe, quando você vai voltar? — pergunta Naho.

— Rapidinho. Tchau, tchau. — entro na ambulância e me sento ao lado da maca. Começo a rezar todas as orações que conheço, enquanto estou com a mão na cabeça dela. — Você vai ficar boazinha logo, filhinha. Tenho certeza disso.

O trânsito está horrível.

— Precisamos chegar ao hospital logo para ver se as queimaduras causaram mais danos. — diz o paramédico. Assinto.

— Você deve entender muito disso... — digo tentando puxar assunto para me distrair.

Meu coração está tão acelerado que acho que vou morrer de infarto.

— Moça, eu sou estagiário. Por isso quero que chegue logo. Se acontecer alguma emergência estamos com o pé na cova.

Só consigo dizer:

MALDITO BRASIL!

Mas para a nossa sorte, chegamos logo no hospital. Entramos pela emergência, mas levo um susto ao ver tantas pessoas em estado crítico.

— Mais uma para o corredor da morte! Abre espaço aí!

Fico horrorizada.

O tempo vai passando, me sento no chão e protejo a minha filha de qualquer um que queria tocar nela. Pareço um leão cuidando do seu filhote.

— Mãe... — quando escuto sua voz, me levanto de supetao. Aoi está me encarando com os olhinhos cheios de lágrimas. — Eu esqueci de desligar o botijão de gás. Me perdoa...

— Calma, filha. Você não tem culpa.

— Mãe, não me deixa sozinha. Estou com medo.

— A mamãe não vai sair daqui. Pode dormir o quanto quiser.

— Queremos ser atendidos! — grita um paciente. E lá vou eu, chorar por não ter dinheiro para pagar por um plano de saúde, onde ela certamente já estaria sendo atendida.

Pensa, Shinobu. Deve ter alguma maneira.

Num lampejo, me lembro daqueles dois homens do dia que o moreno me deu duzentos reais.

Se eu conseguisse falar com ele... poderia fazer um empréstimos. Eu paragaria com meu corpo se necessário. Tudo para ver ela bem.

Mas como não posso fazer isso no momento, só me resta uma infeliz escolha.

Aperto em ligar no celular.

Enquanto a ligação espera ele atender, me encosto na parede e lentamente escorrego até o chão, chorando.

— Olá, querida Shinobu. Precisa de algo?

E lá vou eu, me vender pelas minhas filhas.

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