Capítulo XXII

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Flores são possivelmente as coisas mais belas do mundo, suas cores intensas e seu formato único trazem alegria ao encher de cores as paisagens, muitas vezes associadas ao amor, mas também as saudades e ao luto.

Mike colocou um buquê de flores bem em cima do túmulo de sua mãe, o dia estava frio, ventava bastante, as árvores dançavam conforme o soprar do vento, os cabelos de Mike eram castigados pelo vento, assim como os meus.

Seus olhos transpareciam uma frieza maior do que a neve que caí em dezembro, sua postura ereta demonstrava o respeito que ele tinha por sua família. Coloquei meu braço junto ao seu e meu apoiei minha cabeça sobre o seu ombro. Ele me abraçou. Percebi o quão abalado ele estava naquele momento.

Antes de visitar o homem que matou sua família ele estava tão bem, até pensei que ele havia esquecido de tudo, mas estava tudo adormecido, escondido no mais profundo de sua mente. Conversamos por longas horas na noite anterior, ele me disse tudo o que ocorrera no hospital. Por mais que ele demonstrasse certa satisfação em finalmente ter assistido a morte do assassino de sua família, ainda assim ele não estava bem.

A mente de um homem é composta por muitos sentimentos complicados, amor, ódio, inveja, medo. E eles sempre andam de mãos dadas, o amor gera medo, que pode se transformar em medo, violência. As proporções desses sentimentos variam muito em cada pessoa. Mas tenho certeza de que no meu Mike ele sentia mais amor do que ódio. Pois embora tenha conseguido realizar seus desejos, ainda assim ele apenas queria sua família de volta.

— Vem meu amor, vamos para casa. — Disse-me ao puxar-me pelo braço e beijar meu pescoço. Ele estava tão distante de mim, e eu sabia muito bem onde estava, entretanto se havia um lugar e um momento em que não posso alcançá-lo era em seu passado.

Os dias seguintes foram quase todos iguais, ele sempre calado, constantemente o via sentado na varanda olhando para a rua, como se a qualquer momento seus familiares pudessem chegar. Sentei-me ao seu lado, o beijei rapidamente na bochecha. Ele me olha com ternura.

— O que foi? — Questionou-me voltando a sorrir suavemente.

— Nada, só queria saber como você está, além de beijar o meu namorado. —

— Estou bem — Sorriu enquanto deslizou o dorso de seus dedos na pele de meu rosto — E você? —

— Estou bem, só um pouco preocupado com você. —

— Só estou um pouco abalado pelas coisas que aconteceram, mais uma vez não ocorreram da forma como planejei, pelo menos não tive de sujar minhas mãos. —

— Eu fico tão feliz que isso tudo tenha sido resolvido sem que você tenha destruído sua vida. —

— Também fico feliz. Só acho que vai demorar um pouco ainda para essa ferida sarar completamente, quero seguir em frente na minha vida, quero seguir com nossas vidas. — Ele beija-me suavemente e depois em abraço fico brincando com o cordão de seu moletom.

— Você não sabe o quanto eu te amo. — Ele afagou meu cabelo, sorri de canto, ele estava mais leve.

Certo dia no trabalho, eu estava arrumando as prateleiras dos enlatados, quando alguém aparece na minha frente, olho para cima e vejo um rosto encapuzado com uns óculos escuros.

— Cadê meu dinheiro garoto? — Pela voz e por falar em espanhol soube instantaneamente quem era.

— Calma, fica calmo. Eu tenho o seu dinheiro, tenho o seu dinheiro inteiro, mas não está aqui comigo, está em casa guardado, em um lugar bem seguro. Se voltar amanhã eu trago para você, pode confiar. —

— Eu te dei um mês para em pagar, faz quase um ano. —

— Eu sei, você também não me procurou antes, e eu não sabia como te encontrar —

— Sorte sua que a imigração estava no meu pé e eu tive que sumir, mas eu preciso desse dinheiro agora. —

— Agora nesse momento? —

— O que agora significa para você? —

— Eu já te falei que seu dinheiro está em casa. —

— Então garoto vai buscar, quero meu dinheiro agora. Você teve todo tempo do mundo, e outra eu cobro a vista, só fiz fiado para você porque sou amigo da sua família. —

— Ramirez, aqui eu tenho trezentos dólares, você não quer receber isso e pegar o resto amanhã? —

— Você é burro ou o quê? Quero meu dinheiro agora, ou então se você não quiser pagar, vai quitar sua dívida de outra forma. — Ele levantou sua camisa e mostrou a arma de fogo escondida, naquele momento meu corpo congelou. Respirei fundo, me levantei, caminhei até meu patrão pedi para sair um instante e ele me deu permissão.

Eu só tinha que ir em casa com ele pegar o dinheiro e entregar em suas mãos. Ele me conduziu até um carro, onde na frente havia outro homem.

— É melhor ter meu dinheiro, ou então eu vou estourar os seus miolos e mandar empacotado para sua mãe. — Dentro daquele carro eu estava nervoso demais, com medo de que alguma coisa de ruim pudesse me ocorrer.

Era final de tarde quase noite, nesse horário Michael não estava em casa, então seria até melhor, afinal ele não veria àqueles homens suspeitos junto a mim. Desci do carro quando chegamos em frente a casa. Ele desceu comigo, junto de seu compassa.

— Esperem aqui, o dinheiro está lá em cima. —

— Sobe lá garoto, se tentar fugir a gente te acha e te mata do mesmo jeito. — Subi as escadas com pressa com o coração na mão. Fui até o armário procurei nas gavetas até que achei o dinheiro muito bem guardado dentro de um envelope. Desci as escadas, como envelopes em mãos, ambos estavam sentados no sofá.

— Aqui Ramirez, seu dinheiro pode conferir. —

— Toma, conta. — Entregou para seu compassa contar e ele assim o fez, fiquei extremamente nervoso, pois podia faltar algum valor.

— Quinze mil dólares. — O compassa falou e respirei aliviado.

— Cadê o resto do meu dinheiro garoto? —

— Você disse que eram quinze mil, aí estão os seus quinze mil, não lhe devo mais nada. —

— Te falei que eram quinze mil mais os juros, como você passou muito tempo para me pagar, você me deve trinta e dois mil, com os quinze mil que você acabou de me entregar faltam dezessete mil, e eu te pergunto onde está o meu dinheiro? —~

— Eu não tenho esse dinheiro todo, o máximo que eu tenho são mais cinco mil. —

— Cinco mil não são dezessete mil, onde estão meus outros doze mil? —

— Eu não tenho esse dinheiro todo. — Falei desesperado.

— Então vou te dar o direito de escolha, onde quer o tiro? No peito, na barriga, ou na cabeça? É uma pena matar uma pessoa de quem sou amigo de sua família, mas negócios são negócios. —

— Ramirez por favor, me dá um pouco mais de tempo, eu te pago os vinte mil agora, depois pago mais doze. —

— Sem tempo, você teve todo o tempo do mundo, sou um homem de palavra. — Ele apontou o revólver para mim e puxou a trava de segurança. Seus olhos miravam em mim, naquele momento eu sabia que ia morrer, com uma arma direcionada a minha cabeça a ponto de ser disparada.

Amor além das fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora