Capítulo XXIII

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Com uma arma apontada para minha cabeça, meus pensamentos me levavam a uma profunda reflexão sobre minha vida. Foram muitos momentos, a maioria momentos desagradáveis, mas ainda assim menos do que eu queria viver.

Fechei os meus olhos, eu não conseguia continuar a olhar, preferia estar na escuridão do que enfrentar meu assassino com meus olhos. Ele não era a última pessoa a quem eu queria ver.

— Quem são vocês? — Ouvi a voz do Michael, abri meus olhos surpreso mas com medo. Eu não queria colocá-lo naquela situação perigosa.

Ele segurava uma arma e uma faca. A arma ele apontava ao compassa, enquanto a faca estava no pescoço do Ramirez.

— Cuidado com essa faca, ou então eu atiro nele. —

— Experimenta mexer um músculo sequer, ou se o seu compassado ali se mexer também, eu corto a sua garganta. Essa faca aqui eu afiada todo dia para arrancar a cabeça de outra pessoa, ela vai arrancar essa sua cabeça bem fácil. E depois eu estouro os miolos do seu compassado ali, então acho melhor vocês jogarem colocarem essas armas no chão, porque quando eu terminar de falar vou matar vocês agora mesmo se não fizerem o que estou mandando. —

— Lopez, escuta ele, coloca a arma no chão. — Os dois fizeram o que Michael falaram.

— Miguel pega as duas armas — Não demorei muito para agir, logo estava com aquelas duas coisas na mão — Aponta para eles, não hesite em atirar —.

— Quem são vocês, o que fazem aqui? —

— Viemos acertar as contas com ele, Miguel nos deve dinheiro. —

— Estou vendo dinheiro na mão do seu compassa, suponho que já tenham o seu dinheiro, então quero saber porque você estava apontando a arma para ele. —

— Ele nos deve 32 mil, e só pagou 15 mil. —

— Ele não te deve nada, na verdade você quem deve a ele, deve a sua vida, essa sua vida miserável que eu poderia tirar agora mesmo. —

— O que você vai fazer? Nos matar não vai. —

— Vocês invadiram minha casa, apontaram uma arma para o meu namorado, o que mais eu poderia fazer? Eu chamei a polícia. E vocês vão ficar bem parados aí, se não quiserem morrer. —

— A polícia, pelo visto não quer sujar suas mãos hein, nem muito menos viver longe do sua bichinha. —

— Cala a porra dessa boca. — Michael fez o impensável e com um movimento da faca arrancou uma de suas orelhas. Ramirez gritou de dor, Michael pegou sua orelha e colocou na sua boca.

— Se você falar novamente eu arranco a sua piroca e enfio no seu rabo. — Ramirez se contorcia de dor enquanto pressionava com sua mão suas têmporas  de onde muito sangue jorrava.

Não demorou muito tempo e a polícia chegou, eles adentraram dentro da casa e presenciaram a situação em que estávamos. Michael explicou a situação e eles os prenderam.

— Tá achando que vai se sair dessa? Seu filho da puta. Tá achando que vai ficar numa boa? Eu vou acabar com a vida de vocês dois — Ele berrava em plenos pulmões, até que virou para os policiais e disse: — Aquele garoto ali é imigrante ilegal, e trafica drogas. — Com essas palavras os policiais vêm até mim eu estava abraçado ao Michael.

— Seus documentos garoto. — Michael se colocou na minha frente, me protegendo dos policiais.

— Vai acreditar na palavra desses bandidos? Eles invadiram a minha casa ameaçaram a nós armados. —

— Senhor, entendo seu ponto de vista, mas sstou aqui cumprindo meu dever, e é meu dever é pedir a documentação dele, caso ele não tenha os documentos exigidos terei de chamar a imigração. E ele será conduzido a uma delegacia. —

— Eu não tenho os documentos. — Falei de uma vez, eu sempre soube dos riscos, sempre soube que aquele momento poderia ocorrer. Por isso não tentei fugir, por isso não tentei me esvair. Apenas aceitei o meu destino.

O policial veio até mim e me algemou, Michael protestou, dizendo que não havia necessidade disso. Ele mantinha a calma deve ser por isso que os policiais o trataram tão bem.

Tudo acabou na delegacia, depois de nossos depoimentos, fomos conduzidos a imigração.

— Sr. Miguel, nós somos da imigração, seremos os responsáveis por conduzir o senhor ao seu país, infelizmente o senhor não pode continuar nesse país sem visto. —

— Vamos nos casar, somos noivos, vamos nos casar no mês que vem. — Michael falou juntando nossas mãos, fiquei surpreso com o que ele disse. Eu não sabia se ele estava fazendo aquilo por nós ou apenas por mim.

— É mesmo? Meus parabéns. Entretanto isso não muda a sua situação, o senhor terá que retornar ao seu país Natal. —

— Vamos nos casar, pela lei ele ganha cidadania. —

— Isso só vale se forem casado. —

— Nos casaremos mês que vem, o que custa esperar até o mês que vem? —

— Vão se casar? Então eu gostaria que o senhor respondesse onde ele nasceu? —

— Eu não sei, ele não toca muito no assunto de onde veio. —

— Qual o nome da sua mãe? Ou do seu pai? Ou melhor ainda, me diga algo que saiba do seu "noivo". — Ele usou aspas de uma maneira que deixou Michael irritado.

— Eu sou um cidadão americano, eu lutei por esse país, esse país miserável que me tirou a minha família. E agora vocês querem me tirar isso também? —

— Lei é lei, mesmo heróis como o senhor tem que cumpri-las e a lei diz que seu noivo deve deixar esse país. A partir desse momento ele será conduzido a um abrigo, onde será mantido sob a custódia da imigração, e será conduzido ao seu país natal. Sinto muito. — Dois guardas vieram até mim, me levantaram com brutalidade.

— Vocês não podem fazer isso, eu não vou permitir essa —.

— Mike, te amo mi amor, amor de mi vida —. Digo em espanhol, o abraço bem forte ele estava com medo, estava acabado, completamente desolado. Nosso abraço não durou muito tempo. Eles me levaram embora. E assim eu o vi pela última vez, em um corredor, com os seus lindo olhos marejados.

Senti que minha vida havia acabado, talvez um tiro no coração seria menos doloroso que aquela despedida.


Amor além das fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora