(Miguel)
— Come essa sopa, vai fazer você melhorar bem rápido. — O meu misterioso salvador diz e gentilmente traz a colher até a minha boca, ela estava um pouco quente, então soprei.
— Como se chama? — Indaguei, mesmo destruído eu estava nervoso por estar perto de alguém tão belo quanto ele. Ele tinha tudo que qualquer um queria, um rosto simétrico e perfeito, além de muitas coisas a mais, que podem serem resumidas em uma palavra, belo.
— Michael. — Eu esperava um nome mais parecido com de um príncipe, Tom ou George, mas Michael fazia bem seu estilo.
— Me chamo Miguel. —
— Eu sei, olhei na sua identidade. — Aquela frieza era assustadora, nem felicidade, nem alegria. Um rosto inexpressível, indistinguível, como um livro escrito em uma língua remota.
— Agradeço por me ter salvado. — Ainda era difícil falar, mas era preciso, se não fosse por ele talvez eu tivesse morrido ontem mesmo, afinal a forma como eles me agrediram foi com o objetivo de me matar.
— Não agradeça, apenas se recupere. — Disse.
Como ele estava perto, eu podia muito bem ver os seus olhos e cada mínima mistura de cor, azul, preto e verde, como uma pintura de Van Gogh, mas na sua íris. Era como uma galáxia ou uma nebulosa dentro de uma pequena bolinha.
— Você vai ter que ficar só, tenho que resolver meus problemas, acha que pode ficar sozinho? —
— Posso — Nesse momento lembro do meu trabalho — Ai meu Deus vou ser demitido. —
— Te ligaram, atendi e falei o que aconteceu, te deram a semana de folga. — Ele estava sendo bem prestativo, sempre tive medo dos homens, principalmente dos que eram diferentes de mim. Mas ele difere dos outros.
— Obrigado Michael, serei eternamente grato. — Ele não deu resposta, era um homem de poucas palavras, e parecia se incomodar com minha presença, como se me quisesse bem longe de sua casa.
Quando a sopa acabou, ele subiu, depois de um tempo voltou, estava terminando de vestir camisa, percebi o hematoma nas suas costas. Não quis perguntar, mas com certeza foi da briga, não havia outra explicação lógica para isso.
— Se quiser ligar a TV e assistir alguma coisa fica a vontade. — Disse e depois saiu. Com aquela roupa, percebi o quão grande seus braços eram. Ele se foi em seu carro, em algum lugar, com certeza outro mistério.
Olhei ao meu redor, ele tinha uma casa bonita, devia ter um pouco de grana, professor ou policial. Criei várias hipóteses na minha fértil mente, mas todas elas se foram, quando vi a foto dele vestido com uma farda.
— Militar, isso explica muita coisa. — Se encaixava bem com sua personalidade rígida e fria.
Peguei meu celular, estava com a tela trincada, ainda pensei em ligar para minha mãe, mas ela perceberia que havia algo de errado com minha voz, e me faria um milhão de perguntas.
Tive um susto quando vi meu reflexo na tela do aparelho, e depois de ligar a câmera chorei feito um coitado. Meu resto estava um lixo, cheio de hematomas, arranhões. Eles acabaram comigo, com minha autoestima que era alta, agora eu me odiava, odiava ver meu reflexo.
Chorei bastante e por muito tempo, quando o Michael chegou, eu ainda estava chorando. Ele caminha até mim com algumas sacolas na mão, larga essas coisas na mesa, e depois vem até mim, se ajoelha e pergunta:
— Que foi? —
— Eles deixaram meu rosto um lixo, olha para minha cara, melhor não olha para minha cara. — Chorei ainda mais, seu olhar demonstrou pela primeira vez uma emoção, pena, pena pelo meu deprimente estado. Escondi meu rosto, não queria deixá-lo ver.
— Está na hora de tomar banho. — Foi o que disse, logo em seguida foi guardar as sacolas.
Meu corpo doía, minhas pernas doíam ainda mais, acho que eu não seria capaz de dar um passo a mais.
— Pode me ajudar a ir ao banheiro? —
Ele vem até mim, segura meu braço, tento levantar, com muito esforço consigo, mas não suporto a dor que isso causou, tanto que gritei.
— Calma, calma, vou te deixar lá. — Inacreditavelmente ele me pega em seus imensos braços, e me suspende levando-me por suas escadas até o banheiro.
— No chuveiro não vai conseguir. — Disse ao olhar para dentro, ele parecia não se esforçar com meu peso. Eu me sentia humilhado por estar nessa situação, mas infelizmente era preciso.
Ele me levou pelo corredor até um quarto que julgo ser o seu, era grande bem arrumado, ele passa direto pela porta e entra no seu banheiro. Lá havia uma banheira, era pequena, mas para mim servia.
— Olha só, não vou dar banho em você, ok? Então tome seu banho e quando acabar me chame. —
— Obrigado. — Ele saiu e fechou a porta, olhei ao redor, era até luxuoso se comparado ao meu padrão de vida. Tirei minha roupa, estava um pouco suja, era a roupa que eu usava no trabalho.
Eram tantos hematomas, tanta violência sem necessidade, nunca fiz mal a ninguém, nunca mereci um castigo assim. Mas fui castigado.
Com muita dificuldade tomei banho, me divertir um pouco com a espuma, mesmo assim eu não conseguia esquecer o estado que estava meu rosto. Fiz escultura com a espuma, algumas até bonitinhas.
Quando terminei, o chamei. Ele demorou um pouco mas chegou. Ele olhava para parede, com certeza pensando que eu estava pelado.
— Estou de cueca. — Falei muitíssimo envergonhado, ele veio até vim, e me pegou nos braços novamente. Ele se molhou todo, caminhou para fora. De seu quarto, entramos em outro. Ele me deixou em cima da cama, sob uma toalha de algodão.
— Arrumei o quarto, agora ficará aqui, vou trazer uma peça de roupa minha, e grande, mas é melhor do que nada. —
Dito e feito, ele voltou com uma peça de roupa, uma camisa verde, parecida com a usada por soldados, e um calção preto.
— Aí atrás na cômoda tem um pacote de cueca, não vou te emprestar as minhas. — Disse e pegou outra toalha para mim. Mesmo ele sendo ríspido em alguns momentos, eu estava imensamente grato por tudo que ele estava fazendo por mim.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO
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Amor além das fronteiras
RomanceA história de amor entre um ex-militar e um imigrante mexicano.