Como esperado, a sua roupa ficou enorme no meu corpo, sua blusa principalmente, chegou a cobrir uma boa parte da minha coxa.
— Acho que ficou um pouco grande —.
Digo. Ele olhou por um momento e me ignora completamente.
Eu não entendia nem um pouco o que aquele homem fazia, muito menos o que se passava pela sua cabeça, parece que tudo que fazia era por obrigação, eu me sentia um estorvo na sua presença.
— Estou incomodando, não estou? —
— Vou trazer sua sopa —. Ele saiu, ao que parecia ele era um daqueles que amavam fugir de uma conversa. Uma montanha de músculos, mas covarde.
Peguei um creme de cabelo que havia na cômoda e passei nos meus cachos, eles estavam tão maltratados. Se tinha uma parte que eu amava no meu corpo era o meu cabelo. Desde pequeno eles sempre foram enormes.
O estranho era que esse creme era para cabelo cacheado, e o Michael não tinha cabelo cacheado, sem falar que o creme estava lacrado. Então possivelmente ele comprou para mim. Achei isso tão atencioso de sua parte, preocupar-se com o bem-estar de meu cabelo.
— Aqui está sua sopa, creio que já possa tomar sozinho —. Ele colocou a bandeja sob a cama e depois saiu. Ele parecia sempre possuir alguma coisa para fazer. Pelo que eu percebi, ele tinha um jeito de se vestir bem reservado, sempre com roupas neutras. Às vezes parecia que tinha assaltado o armário de um idoso.
Bebi toda a sopa, pelo menos ele sabia cozinhar, com certeza para não morrer de fome. Quando acabei coloquei a bandeja sobre a cômoda, peguei meus fones e meu celular e fui escutar um pouco de música para acalmar os ânimos. Me virei de lado e fiquei olhando a janela e pensando um monte de bobagem. Fiquei acho que meia hora assim.
De repente sinto um toque no braço que me assusta e me faz gritar. Eu ainda sentia muito medo, desde que aconteceu naquela noite maldita. Me virei e o Michael me olhava com uma cara nada boa.
— Não está ouvindo eu falar com você garoto? — Sua expressão de impaciência era evidente.
— Não, eu estava ouvindo música. — Ele não deu muita atenção, apenas me perguntou se eu queria mais sopa, eu disse que não, ele pegou a bandeja e se foi. Que cara mais maluco, certeza de que ele tem um parafuso a menos.
— Vai dormir agora? —. Indagou a porta, olhei um pouco assustado novamente. Às vezes eu tinha a impressão de que ele nunca ria.
— Estou sem vontade de dormir agora —. Digo.
— Se quiser te levo para sala e você assiste TV —.
— Não, não quero incomodar. — Não sei qual língua aquele troglodita falava, mas ele veio até mim e me pegou novamente nos braços, e me levou até o andar de baixo.
— Assiste o que quiser, e quando for dormir me fala. — Ele se sentou no outro sofá, e ficou mexendo no seu celular.
Liguei sua TV, mas não encontrei nada interessante, então coloquei a senha da minha conta da Netflix para assistir minhas séries.
Escolhi uma que comecei recentemente, não tinha terminado nem de assistir o primeiro episódio, então coloquei tudo do começo afinal não lembrava.
Depois de assistir uma boa parte do episódio olho para o outro sofá e vejo que Michael estava prestando atenção no que acontecia, ou melhor estava assistindo também.
Tudo corria bem até que começou uma cena de sexo bem quente. Eu fico um pouco constrangido, ele olhar para mim por um momento e depois volta a assistir como se nada tivesse acontecido.
Fiquei aliviado dele não ter dito nada, mas não tinha nada a ser dito, ambos éramos adultos.
Ainda consegui assistir a uns quatro episódios, até que o sono começou a me perseguir, quando vi Michael estava me levando para dentro do quarto. Ele me deixou na cama, me cobriu com o cobertor e depois saiu desligando a luz.
(Michael)
Eles dois se parecem demais, talvez isso seja coisa da minha cabeça, eu o amava tanto, mas agora esse amor parece não ter mais sentido.
Coloquei o garoto na sua cama, e desci para a sala, olhei a televisão por um tempo pensando em desligá-la, mas continuei a assistir aquilo, eu precisava muito saber o final da história.
Depois de viver muitos anos, nada parecia ter sentido, acho que essa é a pior parte em ser adulto.
Talvez pela semelhança entre os dois o salvei daqueles cães da Klan. Ele era tão importante para mim, mas agora é apenas uma lembrança, uma dolorosa lembrança.
Com aquela surra eles queria matá-lo ou deixá-lo gravemente ferido, e quase conseguiram isso. Não o levei para o hospital, pois eles chamariam a polícia, e a polícia desse lugar acoberta a Klan, dizem que um dos chefes trabalha na polícia e observa cada passo que eles dão.
É doloroso ver que eles dois se parecem, é como tê-lo mais uma vez aqui por essa casa que um dia foi feliz. Quando terminei de assistir, olhei no relógio e vi que era muito tarde, então fui dormir, mas antes passei em seu quarto para ver se estava tudo bem.
Ele dormia tranquilamente, ainda com muito hematomas no rosto, mas já estava bem melhor. Desliguei a luz e fui para o meu quarto. Olhei uma última vez nossa foto de tempos atrás antes de dormir, como aquele dia foi bom. Só queria matar um pouco da saudade que me consumia por dentro.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.
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Amor além das fronteiras
Storie d'amoreA história de amor entre um ex-militar e um imigrante mexicano.