Acordei zonzo, seria hoje o dia em que eu seria levado de volta ao meu país, aquele lugar era extremamente insalubre, a sujeira, a água e a comida, tudo isso contribuiu para o meu mal-estar. Tudo começou com uma febre, eu queimava por dentro enquanto tremia de frio, as dores espalhavam-se por todo o meu corpo, nas minhas articulações, era insuportável, acho que eu havia contraído alguma infecção alimentar. Mesmo assim eles não se importaram com minha situação.
Fazia duas semanas desde que fui levado até àquele lugar e desde que cheguei só conseguia pensar no meu amor, em como ele estaria sozinho, se estaria bem, comendo normalmente. Certamente ele estaria mal, ele não consegue muito bem lidar com essas crises.
— Todos vocês, hoje é o dia, vocês vão voltar ao seu país. — Um dos guardas disse ao aparecer no corredor. Um a um fomos sendo algemados, eles nem sequer perceberam que eu estava febril. E assim fui conduzido a um ônibus, subi com dificuldade, eu tremia. Em meu sofrimento acreditei que dali para frente estava sozinho, sozinho sem ninguém.
No último degrau do ônibus minha visão e meus músculos falharam, tudo ficou escuro apenas senti meu corpo desfalecendo. Pensei por um breve momento que aquilo era a morte chegando, mas me desenganei ao abrir novamente os olhos e me ver em um quarto de hospital, eu estava sem algemas, mas com dois guardas do lado de fora.
Eu ainda estava nos Estados Unidos, acho que eu estava muito doente mesmo. Fiquei em silêncio, queria ficar sozinho, tudo que menos queria era aquelas pessoas no meu quarto me tratando como se eu fosse um criminoso.
Minutos depois uma enfermeira chegou, ela trazia consigo uma bandeja, ela sorriu para mim, retribui, pois, gostava de gente simpática. Ela tocou minha testa com o dorso de minha mão e perguntou:
— Você está bem? — Fiquei receoso em responder afinal se soubessem que estou bem poderia me levar para o meu país.
— Pode falar, não vou contar a esses idiotas de farda que não me deixam trabalhar direito. —
— Estou, um pouco, que dia é hoje? —
— 18 de agosto. Sim, você dormiu um dia inteiro. —
— O que eu tenho? —
— O médico virá dizer após chegarem os exames, provavelmente uma infecção. Mas não importa, o importante agora é comer tudinho. — Ela sentou-se ao meu lado no leito e começou a servir a minha comida.
— Está muito bom. — Falei sorrindo.
— Milagre, dizem que a comida daqui tem gosto de Dipirona vencida. Mas me conta sobre o seu país, sempre quis conhecê-lo, dizem que tem praias fantásticas. —
— É tem, mas eu nunca as conheci, morava longe do litoral. —
— Entendo, todo mundo acredita que todo estadunidense foi em Miami ou na Disneylândia. — Sorri, ela era muito simpática e engraçada.
— Todo mundo acha que os Mexicanos vendem drogas e coisas bobas. —
— Eu não acho. Mas me diz, você vende? — Ela fez uma piadinha suja, sorri novamente.
— E você vai em reuniões da KKK? —
— Somente aos domingos, os outros dias não há vagas no estacionamento sabe. Que tipo de pessoa não constrói vagas o suficiente, um monstro certamente. — Sorri e quase me engasguei com a comida.
— Sinto muito por estar sendo expulso dessa forma do nosso país. Você me parece ser apenas um bom garoto. — Ela disse falando um pouco mais seriamente.
— Tudo bem, já sobrevivi a coisas piores. —
— Essa carinha de tristeza me diz que você está de coração dilacerado, quem é a sortuda? — Fiz um breve silencio lembrando do Mike — Hum, sortudo então. —
— Ele é um ex-militar, se chama Michael, ele é tão lindo, alto, loiro, musculoso, ele é um amor, tão doce e corajoso também. Eu o amo demais, acho que percebeu isso. —
— É isso é bem nítido, se quiser dou um jeito de ele te visitar, ou se quiser falar com ele pele meu telefone também. —
— Isso não vai te prejudicar? —
— Que nada, é só eles não saberem. — Ela estava sendo um anjo na minha vida, sorri como forma de agradecer, mas essa felicidade se esvai ao ver dois homens entrando no meu quarto, um deles de jaleco e o outro fardado, era da imigração.
— Senhor Miguel, aqui tenho o resultado de seus exames. —
— Vamos diga de uma vez. — O homem que estava ao lado do médico estava inquieto, eu o conhecia, havia sido ele quem havia me interrogado, havia sido ele quem conversara com Michael.
— Aqui eu me dirijo apenas ao paciente, não me importa o seu cargo, nesse hospital temos liberdade. — Falou impaciente o homem ao seu lado suspirou enfurecido.
— Senhor Miguel, diante dos exames constatamos que o senhor está com uma infecção em seu trato urinário, precisará ficar internado por alguns dias. —
— Após isso você será levado de volta ao seu país. — O agente da imigração disse.
— Continuando Senhor Miguel, diante de seus níveis hormonais também constatamos que o senhor está gerando um filho, e após uma ultrassonografia constatamos também que trata-se de um lindo menininho de três meses e algumas semanas. —
— Perdão? — Fiquei em choque ao receber aquela última notícia, coloquei a mão em meu abdômen, realmente ele estava maior, mas acreditei que apenas seriam alguns quilos extras.
— Sim, o senhor está esperando um filho. Meus parabéns, é raro, mas acontece. Ao contrário do meu amigo aqui, não gosto de me intrometer no trabalho dos outros, mas se eu fosse o senhor entrava com uma ação a partir de agora se o pai de seu filho for um cidadão americano, pois ambos têm o direito de permanecerem no país, também como cidadãos. —
— Não é bem assim que funciona, temos incialmente que ter um acompanhamento psicológico e social, para sabermos se ele quer mesmo continuar com a gestação. — O agente falou.
— Fica bem mais fácil para se livrar dele, convencendo-o a abortar uma criança. —
— Que contraditório, pensei ter visto o seu nome em uma carta que defendia o aborto, mudou de ideia? —
— O aborto é legal para aqueles que desejam o fazer. Mas eu não serei conivente com essa violência. —
— Eu não vou abortar o meu bebê, ele é meu, meu. Só eu tenho esse poder de decidir. —
— Vou chamar o advogado do hospital, acho que ele vai gostar bastante desse caso. — A enfermeira disse e saiu pela porta. O agente me olhou com desdém e logo em seguida falou:
— Isso adia um pouco as coisas, mas seu eu fosse você não criava muitas expectativas. —
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Amor além das fronteiras
Roman d'amourA história de amor entre um ex-militar e um imigrante mexicano.