Capítulo XXXI

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As dores prosseguiram, eram insuportáveis, eu já estava desesperado, pois a ambulância não chegava. Percebi que eu estava sangrando. Sangrando sozinho em casa em um dia de chuva forte, nada poderia ser pior, na verdade podia sim, mas eu odiava pensar nas possibilidades.

Quando a ajuda chegou eu estava bem fraco, sentia minhas forças se esvaindo, minha visão estava turva, tudo o que eu ouvia estava distorcido. Quando os paramédicos chegaram ainda tive forças de dizer:

— Por favor, salve o meu filho, se tiverem de escolher salvem ele. — Depois de pedir com minhas últimas forças, sinto minha consciência se esvaindo até que apago por completo. Vaguei na escuridão e nas incertezas da minha mente, a cada segundo eu me questionava se eu estava vivo ou se aquilo era o lugar para onde as pessoas que morriam iam, para uma prisão eterna em que nada existe a não ser a escuridão e o frio.

Em certo momento tudo escureceu por completo, apenas perdi a consciência e despertei com imensa dificuldade para abrir até os olhos, ouço os apitos de aparelhos hospitalares, assim como minha própria respiração. Quando enfim abro os olhos percebo que estou em um quarto no hospital. Olhei para o meu braço, nele havia alguns acessos.

Mas foi quando olhei para o lado que fiquei completamente em choque, Mike estava lá, parado me observando com bastante atenção, com uma expressão calma em seu rosto. Eu não acreditava no que eu via, mesmo fraco não pude deixar de sorrir, afinal ele estava ali comigo.

— Mike, meu amor. — Falei ao estender a mão em sua direção, eu estava tão fraco. Ele se levanta, se senta ao meu lado no leito segura a minha mão e a beija, sinto o toque de seus lábios, seu cheiro me invade as narinas, aquele aroma forte que eu tanto amava. Era mesmo ele, em carne e osso, ele estava intacto, sem um arranhão sequer.

— Oi meu amor, eu voltei para você. — Ele se deitou ao meu lado com seu rosto virado em minha direção, ele sorria lindamente, com todas minhas forças o envolvi em um abraço. Mesmo sem entender o que acontecia eu estava feliz, pois eu estava com o meu amor novamente.

— Me disseram que você havia morrido, desculpa, mas eu acreditei nisso, ainda bem que você voltou para mim. —

— Desculpa por não ter voltados antes, acho que muita coisa que você passou poderia ter sido evitado, se eu estivesse com você, me desculpa por ter ido embora, eu precisava entender tudo isso. —

— Não precisa se desculpar meu amor, entendo o que você fez, tudo o que importa é que você voltou e que está aqui. Eu te amo tanto. —

— Se eu houvesse voltado não haveria acontecido isso. — Ele disse em seguida levantou-se e se virou escondendo o seu rosto. —

— Isso o quê? —

— Eu sinto muito Miguel, mas nosso filho não resistiu, eu nem sabia que iria ser pai e quando descubro sou a pessoa mais feliz do mundo e tudo isso para essa sensação não durar dez minutos e o nosso filho morrer. — Aquelas palavras cruéis dilaceraram o que sobraram de mim, caí em pranto, Michael veio até mim e me abraçou.

— Não pode ser, ele estava se desenvolvendo tão bem, isso não pode ser verdade, o meu filho, eu quero ver meu filho. —

— Ele era tão lindo, igualzinho a você, mas com meus olhos, ele tinha os olhos da minha mãe, desculpa meu amor, me desculpa. — Olhei para minhas vestes e elas estavam vermelhas, Mike muito assustado as levantou e disse:

— Os pontos da cirurgia se abriram! Por favor me ajudem. — Ele correu e gritou no corredor. Olhei minhas mãos e elas escorriam sangue, mas minha mente só conseguia se concentrar no meu filho.

Amor além das fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora