Capítulo V

1.8K 185 3
                                    

(Michael)


Eu estava sentado, chovia, coisa rara naquele lugar, o calor era insuportável, mas isso nem se comparava com a saudade de casa. Saudade das pessoas que eu amo.

Eu escrevia uma carta, como sempre fazia assim que podia, era uma forma de matar a saudade.

"[...] É setembro, imagino que vocês estejam aproveitando o final do verão, quero dizer que sinto muita falta de casa. Mal posso esperar para comer mais uma fatia daquela torta de nozes [...]

— Michael, telefone para você —. Um dos meus amigos fala, ele veio até mim, e interrompe a minha escrita.

Caminho um pouco apreensivo, quase nunca recebíamos telefonemas de casa, e quando isso acontecia sempre era acompanhado de más notícias.

— Alô —. Digo.

— Michael, é você meu filho? —.

— Mãe, o que aconteceu? O que aconteceu? O QUE ACONTECEU? —.

Acordei, depois de perceber que tudo aquilo não passava de um sonho, do mesmo sonho de sempre. Olhei para o meu lado e Miguel estava com a sua mão sobre o meu rosto. Olho assustado e ofegante para ele, seus olhos estavam carregados de preocupação.

— Ei, fica calmo! Foi apenas um pesadelo, vai ficar tudo bem —. Ele acariciava o meu rosto, de uma forma que isso me acalmava aos poucos. Logo em seguida recebo um abraço. Eu podia sentir o cheiro de seu cabelo, que era muito agradável.

— O que aconteceu? —.

— Nada, aconteceu nada, já pode me largar —. Digo e me solto dele. Eu não queria demonstrar minha fraqueza, ainda mais para um desconhecido como ele. Aquele sonho não era apenas um sonho, e sim uma lembrança, de anos atrás, de quando eu perdi tudo, de quando o meu mundo desabou, como um castelo de cartas.

— Olha, eu sei que está com medo, não precisa falar nada se não quiser, só queria dizer que estou aqui, para caso precise de mim. Eu serei extremamente grato para todo sempre pelo que fez por mim —.

— Não quero a sua gratidão, me deixe sozinho —. Digo e me deito, virando-me para o lado oposto de onde ele estava.

—  Eu não vou deixar você sozinho, e não precisa fingir que é perigoso, você não me assusta —. Ele disse e se deitou ao meu lado, para minha total surpresa, ele deitou-se e me abraçou bem forte.

— O que raios está fazendo eu posso saber? —.

— Te agradecendo por cuidar tão bem de mim —. Com sua mão ele tocou o meu cabelo e o arrumou. Depois ficou fazendo carinho bem devagar. No começo eu estava um pouco apreensivo com essa proximidade, mas depois de um tempo isso passou.

— Sabe, às vezes eu fico te olhando, e chego a conclusão que você é uma das pessoas que mais me passam força, e em todos os sentidos. Eu não estou dizendo isso apenas porque me salvou de uma corja qualquer, mas também porque eu sei o quanto você é quebrado por dentro e ainda assim não desistiu —.

— Ah você não tem nem ideia do quão quebrado eu sou por dentro, estou em cacos, a tanto tempo que nem sei mais quem eu sou —.

— Você é uma pessoa incrível Michael, eu te admiro bastante sabia disso? —.

— Não, não sabia —.

— Não precisa ter medo, eu não vou morder você, eu te acho muito bonito, mas jamais tentaria qualquer coisa com você, nem mesmo em um momento de fraqueza como esse, jamais isso passaria pela minha cabeça —.

— Não é o que se passa em sua cabeça que me preocupa garoto. Se soubesse o que se passa na minha cabeça, você sim ficaria com medo —.

— Eu já te disse que eu não tenho medo de você, nem nunca vou ter, você é como um anjo na minha vida —.

— Anjo? Eu? Um anjo? Desculpa decepcioná-lo garoto, mas de anjo eu não tenho nada —.

— E você continua com essa, por que me quer longe de você? Por que fica tentando me afastar de você? —.

— O que você quer dizer com isso? —. Eu digo me virando e olhando bem fundo nos seus olhos.

— Não sei, é que você diz coisas, parece que você me quer longe de você, como se quisesse a todo custo provar que é um monstro quando eu bem sei que você não é —.

— Você acha que sabe alguma coisa a meu respeito? —.

— Não sei, porque você justamente me afasta —.

— Eu me afasto? Eu estou bem aqui na sua frente, isso parece longe o suficiente para você? —.

— Tudo bem, se quer ficar sozinho, pode ficar, eu apenas vim oferecer minha ajuda, pensei que estava precisando de um ombro amigo —. Ele se levanta e vai caminhando com dificuldade rumo ao seu quarto.

— Tenha uma boa noite Michael, se precisar de qualquer coisa, pode me chamar —.

Ele fechou a porta, eu fiquei ali deitado por um tempo pensando nas coisas que tinha acabado de falar. Eu estava com medo, por mais que eu demonstrasse ser uma pessoa forte e inabalável eu possuía muitas e muitas fraquezas.

Tentei voltar a dormir, mas não consegui, virei de um lado para outro na cama, lá fora começou a chover, uma chuva bem forte por sinal, cheia de relâmpagos que iluminavam o céu escuro.

Me levantei, fui até a cozinha tomar um copo de água, esses meus sonhos estavam se tornando frequentes demais, e cada dia estava sendo pior dormir. Eu não queria, mas se não houvesse solução eu teria de recorrer a soníferos.

Subi as escadas novamente, ao passar em frente ao quarto do Miguel, vi que a porta estava entreaberta, e pelo balançar das cortinas a janela estavam abertas, entrei e fui até elas para fechá-las.

— Desculpa eu já iria fechar —. Ele disse e sentou-se na beirada de sua cama.

— Tudo bem, só vim ver se está a tudo bem, precisa de alguma coisa? —.

— Não, e você? —.

— De nada, apenas dormir —.

— Se estiver com medo do seu pesadelo, pode dormir aqui, se acontecer qualquer coisa eu te acordo, eu sei que eu sou minúsculo comparado a você, mas eu prometo que eu te protejo de qualquer coisa —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO





Amor além das fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora