A visita de um homem fardado com trajes militares não era nada agradável, pior ainda não sendo o meu Mike. Aquela visão não era nada agradável, eu sentia que pouco a pouco eu estava perdendo o meu amor.
— Bom dia, me chamo Coronel Roosevelt, poderia me ceder um pouco do seu tempo? —
— Queira entrar por favor. — Abri a porta e ele adentrou dentro de nossa casa, olhou por um tempo as fotos da família de Michael, assim como a decoração da casa.
— O senhor aceita um café? — Questionei, ele aceitou com a cabeça, indiquei uma poltrona para ele sentar-se enquanto eu ia servir seu café.
— Muito bem, Sr... —
— Miguel, pode me chamar de Miguel. —
— Senhor Miguel, sinto em ter que visitá-lo, ainda mais com notícias tão desagradáveis, vou ser direto, acredito que o senhor já esteja inquieto e desesperado com minha presença aqui. Muito bem — Ele colocou a xícara em que bebeu café em cima da mesinha e me olhou profundamente com um imenso pesar — Michael Neumann faleceu em combate. — Aquelas palavras tão curtas e diretas destruíram meu coração como se eu houvesse me atirado em um mar de espadas.
Mesmo já esperando que isso pudesse acontecer e sabendo do que aquela visita poderia se tratar no fundo eu tinha esperança, esperança de ele voltar para mim, mas aquele homem de cabelos brancos e rosto enrugado dizia que não, que ele não iria voltar, que ele havia morrido.
Meu corpo ficou estático, imóvel, senti lágrimas descendo por meu rosto, após a forte pancada daquelas palavras. Fiquei boquiaberto, as sombras e as trevas me envolveram em uma espiral de desolação e desalento. Queria não acreditar naquelas palavras, queria que tudo aquilo fosse mentira, que fosse ele a conversar comigo, não sobre morte, mas sobre a vida, sobre o nascimento de nosso filho, um milagre, uma nova parte de um amor que era vívido, mas que apagou pelas incertezas e traquinagens da vida.
— Sinto muito por sua perda, eu não o conhecia bem, mas pela sua ficha ficou claro que ele era um homem de honra, de caráter, poucos são assim nos dias de hoje, lamento que os bons vão e os maus ficam. —
— Ele morreu em combate? — Questionei. Minha mão repousava na minha barriga, onde repousava o nosso bebê, que agora cresceria sem pai, na verdade ele nunca chegará a conhecer o seu pai, um pai que certamente seria o melhor de todos. Meu Mike nunca chegou a saber que ele seria pai.
— Sim, dias atrás o Sr. Neumann foi enviado em uma missão, em um comboio até uma região de alta periculosidade, quando o comboio em que ele estava foi atacado por terroristas. Só os encontramos horas depois, tudo o que sobrou foi um monte de cinzas e os cordões de identificação de cada soldado, entre esses estava o cordão do Sr. Michael Neumann. — Ele morreu e nem sequer restou um corpo para eu me despedir, nem o seu rosto morto eu veria, por mais aterrorizante que isso fosse, mas era um adeus, uma forma de despedir do homem que amei em vida.
— Eu compreendo. — Disse totalmente desconcertado, eu nem me esforçava em segurar as lágrimas, pois aquele momento era um momento e imensa dor. Ele nunca mais voltaria para mim, nem que eu esperasse por toda minha vida. Fui condenado a amar um homem que não está mais vivo, que não sobrou nada dele, a não ser o bebê que estou gerando dentro de mim. Acreditei que os problemas da minha vida haviam sido resolvidos simplesmente por consegui um visto temporário, mas tudo isso foi uma grande mentira. Pois daquele dia em diante minha vida seria de grande sofrimento.
— Vejo que está esperando um filho, suponho que seja do Sr. Neumann. —
— Sim é dele, nosso filho, um menino, que nunca vai conhecer o pai. Michael nunca soube que seria pai, descobri depois que ele foi para o exército, depois nunca consegui conversar com ele, e agora nunca vou poder conversar. —
— Sinto muito por seu filho. Mas ele não os deixou na mão. — Ele me entregou aqueles envelopes que trazia consigo.
— O que é isso? —
— Nesse envelope está um testamento, em que o Sr. Neumann deixou tudo, exclusivamente todas suas poses para o senhor. E aqui está uma carta dele, creio que ele esqueceu de enviar — Sr. Miguel, mas uma vez lamento por sua perda, quero dizer, ou melhor lhe prometer que o seu filho terá uma vida digna, ele receberá os seus direitos pela morte do pai em combate, o que é uma quantia considerável, sei que isso não substitui a presença de um pai na infância, mas é uma forma de atenuar os prejuízos. —
— Muito obrigado Coronel. —
— Obrigado pelo café, tenha um bom dia, não precisa se incomodar de me levar até a porta. — Ao dizer isso ele se levantou e caminhou até sair de dentro de nossa casa. Quando ele saiu eu finalmente pude desabar, caí sobre o sofá, chorando em plenos pulmões, com o barulho sendo abafado por uma almofada.
Não sei quanto tempo fiquei ali daquele jeito desidratando de tanto chorar, no fundo do poço, em um estado de depressão profunda. Quando minhas lágrimas secaram, agarrei um porta-retrato com uma foto sua, em que ele estava sério vestido com uma farda, com certeza ele havia morrido daquele jeito. Peguei uma camisa sua, me agarrei com ela, seu cheiro estava nela, aquele cheiro que eu amava tanto.
Depois de chorar fui comer alguma coisa, mesmo que contra a vontade, só fiz isso pelo meu bebê, eu o queria crescendo saudável. Depois subi para o nosso quarto e me sentei no chão, com as costas escoradas em nossa cama. Fiquei olhando cada detalhe até o mais insignificante, a forma como o seu cabelo estava arrumado para a foto, a forma como os seus olhos brilhavam e como os seus lábios estavam cerrados. Tão perfeito e agora sim estava inalcançável a mim.
— Eu te amo tanto, por que você teve de fazer isso comigo, você me disse que nunca iria me deixar sozinho, agora estou sozinho, você me deixou sozinho com um filho, com nosso filho. Desculpa, mas eu te amo, sempre vou te amar. —
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Amor além das fronteiras
RomanceA história de amor entre um ex-militar e um imigrante mexicano.