16. Artimanha psicológica.

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IZZY STRADLIN, 19 DE JULHO DE 1987.

Enquanto me esgueirava embaixo da cama de Vanessa, testemunhei o íntimo momento em que os dois se beijaram e trocaram palavras sussurradas. Surpreendentemente, a cena não me causou raiva. Acomodei-me no chão frio e, ao sentir algo duro cutucando minha barriga, não pude resistir à curiosidade. Ao tatear, descobri uma pequena caixinha vermelha. Ao abri-la, me deparei com um reluzente anel de diamante, deixado ali com evidente propósito. Era claro que Axl planejava pedir Vanessa em casamento.

Eu segurei a caixinha com firmeza, sentindo meus olhos lacrimejarem involuntariamente. Saber que Vanessa ainda mantinha uma chama de amor por Axl era um peso que eu carregava naquele momento. A certeza de que ela aceitaria o pedido dele me atingiu como uma onda de realidade. A tentação de simplesmente correr dali, deixando os dois entregues ao seu momento, era avassaladora, mas a verdade era que eu não sabia se conseguiria viver sem os lábios de Vanessa.

Com um misto de emoções, coloquei a caixinha cuidadosamente no bolso da minha calça jeans. Uma parte de mim ponderou que aquele anel não deveria ter sido algo caro; talvez Axl o tivesse adquirido de maneira não convencional, talvez até mesmo com a cumplicidade de Slash, sempre envolto em suas escapadas criativas. Vanessa me chamou suavemente assim que Axl adormeceu.

Levantei-me e troquei com ela algumas palavras escassas, reiterando os sentimentos que já eram conhecidos entre nós. Caminhei em direção ao meu quarto e me deitei, segurando o anel entre meus dedos, perdido em pensamentos sobre como seria a vida de Vanessa sem a minha presença. O dia amanheceu e eu não consegui dormir, mais uma vez.

Às oito da manhã desci em busca do café matinal. Deparei-me com Axl e Vanessa, imersos em uma conversa enquanto comiam. Observando Vanessa, notei que ela vestia um elegante vestido preto e uma ousada bota de cowboy, conferindo-lhe uma estatura ainda mais alta. Solitário, acomodei-me em uma mesa, apreciando um café preto. A caixinha do anel permanecia discretamente em meu bolso, uma questão pendente em minha mente. Uma ponderação silenciosa se desenrolava: devolver ou não? Um suspiro profundo escapou de meus lábios, e, em busca de clareza, levei mais uma xícara de café aos meus lábios.

— Oi... – Vanessa se sentou em minha frente.

– Oi.

Ela delicadamente colocou o cabelo atrás da orelha, seus olhos evocando uma melodia triste que eu costumava tocar na adolescência.

— Vamos embora hoje, mas antes, farei uma parada na casa dos meus pais. – disse ela, cruzando as pernas com graça e apoiando a bochecha em sua mão.

— Eu tenho algumas coisas para fazer, não vai dar para te acompanhar.

— Tudo bem, eu não estava pedindo por isso. Eu só estou avisando. – ela sorriu.

Sorri e continuei a tomar meu café. Ela saiu da mesa e a observei andando para fora com meu coração acelerado. Depois do café, fui até o quarto de Duff que incrivelmente não estava com nenhuma mulher.

— Qual é a boa? – perguntou enquanto eu acendia um cigarro em sua varanda.

Mostrei a caixinha e isso foi o suficiente para ela saber o que estava acontecendo.

— Larga essa mulher, Izzy. isso só vai trazer confusão. — Ele disse pegando a caixinha. — Mesmo que isso foi claramente roubado, a confusão não vai ser sobre isso.

Dei risada.

— Eu não consigo... eu não sei o que fazer.

Duff deitou minha cabeça em seu ombro. Olhei para Nova York me perguntando se ela está pensando em mim, ou se importa com o que aconteceu ontem.

***

Entramos no avião à tarde, e Vanessa não dirigiu uma palavra a mim desde então. Acredito que a tenha tratado de maneira um tanto áspera pela manhã. O anel ainda repousa em meu bolso, pesando como um lembrete constante. Poderia tê-lo descartado ou tomado qualquer outra atitude, no entanto, parece que só consigo mantê-lo ali, adicionando uma dose extra de nervosismo ao meu estado de espírito.

Acomodei-me confortavelmente em minha poltrona, ciente de que nossa jornada se estenderia por longas oito horas. Optei por fechar os olhos, concedendo-me um breve cochilo para enfrentar as horas pela frente. Despertei com beijos delicados em meu pescoço, e, inicialmente surpreso, meus olhos se abriram rapidamente. No entanto, ao perceber que era Vanessa quem estava ali, um sorriso espontâneo se desenhou em meu rosto, transformando-me momentaneamente em um tolo.

— Porque você está estranho comigo? – ela se sentou ao meu lado.

— Eu só estou cansando, me desculpa.

— Entendi.

Vanessa pegou o manual de sobrevivência do jatinho e me mostrou.

— Sabe para que servem as máscaras de oxigênio? – ela perguntou.

— Para a gente respirar?

Ela fez que não com a cabeça enquanto me olhava.

— Mesmo com essa máscara, a realidade é inescapável. A queda que nos aguarda é vertiginosa. Essas máscaras, na verdade, são apenas uma artimanha psicológica para manter nossas esperanças vivas, uma tentativa de nos impedir de ceder ao desespero enquanto aguardamos a possibilidade de sermos resgatados.

Uau, isso me deixou secretamente excitado.

— Confesso que eu iria cair nesse truque.

Rimos juntos.

— È, eu também.

𝐘𝐎𝐔 𝐂𝐎𝐔𝐋𝐃 𝐁𝐄 𝐌𝐈𝐍𝐄,  𝗜𝘇𝘇𝘆 𝗦𝘁𝗿𝗮𝗱𝗹𝗶𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora