03. Tipo de música.

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VANESSA DUNNE, 10 DE JULHO DE 1987.

Tudo transcorreu de maneira surpreendentemente fluida, superando todas as minhas expectativas. Fui oficialmente nomeada a nova fotógrafa do Guns N' Roses, embora eu desconfiasse que Axl sequer se deu ao trabalho de analisar minhas fotos antes de me contratar.

Não que eu estivesse reclamando; muito pelo contrário, eu estava incrivelmente satisfeita com a notícia. No entanto, era difícil não notar como Axl nunca demonstrou um genuíno interesse pelo que eu fazia. Ele nunca havia examinado minhas fotos ou compartilhado conversas sobre minhas paixões e gostos pessoais.

Enquanto saboreava o almoço, esses pensamentos ocupavam minha mente. Eu era a pessoa que mais se dedicava a estar presente por ele, em cada momento importante, e parecia que ele nunca retribuía esse comprometimento. No entanto, decidi deixar de lado esse peso emocional, pelo menos por enquanto.

Tentei estabelecer um contato visual com Izzy, mas ele permanecia com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos escondendo seu rosto. Percebi que não valia a pena insistir nesse momento; procurar por outra emoção não iria apagar o sentimento que agora me dominava.

Enquanto nos encaminhávamos para a van, um garçom cruzou meu caminho e lançou um sorriso pequeno e tímido na minha direção.

Infelizmente, Axl percebeu o gesto e transformou o momento em um verdadeiro episódio. Ele quase puxou o garçom pelos cabelos em meio a um acesso de raiva. Rapidamente, intervidei e consegui separá-los antes que a situação ficasse ainda mais tensa.

— Axl? O que você acabou de fazer? Meu Deus! — exclamei, com uma mistura de surpresa e preocupação.

— Você não viu a maneira como ele estava olhando para você? — justificou Axl, ainda repleto de ciúmes.

— Deixe-o olhar! É você quem eu amo, droga! — repliquei, tentando acalmar os ânimos e, ao mesmo tempo, expressar minha frustração.

Infelizmente, Axl havia conseguido estragar meu dia com aquele incidente. Subi na van e escolhi um assento distante dele, precisando de espaço para respirar e tentar recuperar a tranquilidade. Era evidente que a dinâmica do nosso relacionamento estava longe de ser tranquila.

Ao chegarmos na casa da banda, fiz um esforço considerável para esconder minha expressão de desagrado. O lugar estava repleto de drogas, garrafas de bebidas e peças íntimas femininas espalhadas por todos os cantos.

Aquilo não se assemelhava a uma residência, mas mais a um cabaré decadente. Um rápido olhar na direção de Axl revelou que ele ainda estava visivelmente irritado com o incidente anterior.

Decidi seguir para a cozinha, buscando um ambiente mais tranquilo. Comecei a lavar a louça e retirar os copos de plástico que estavam amontoados nos balcões, tentando me concentrar na tarefa como uma forma de escapar da atmosfera caótica que pairava na casa.

— Deixa, eu arrumo o resto. – Axl tirou minha mão de cima do copo.

— Tá bom. – nem olhei para ele e subi as escadas.

Subi as escadas devagar, sentindo o peso da minha câmera nas mãos. Era quase engraçado como ela se tornou uma extensão de mim, sempre presente em minha vidas.

Parei instintivamente no meio do corredor ao ouvir uma melodia suave ecoando de um dos quartos. Meu olhar curioso buscou a origem do som até encontrar Izzy deitado na cama, com um violão repousando em sua barriga.

Me aproximei cautelosamente do quarto e me apoiei no batente da porta, observando-o. Ele parecia ter sentido minha presença, mas evitou me encarar. Decidi então registrar aquele momento único e tirei uma foto sua.

— Vou cobrar por essa foto. - ele disse algo finalmente, fazendo com que eu erguesse o olhar para encontrar seus olhos.

— Posso parcelar o pagamento? - minha pergunta arrancou dele uma risada baixa, mas sincera.

— Tudo dentro das suas condições financeiras.

Um breve silêncio nos envolveu e eu pude ver os longos dedos de Izzy acariciando as cordas do violão.

— O que estava tocando? - perguntei, me equilibrando em um pé só.

— Nada. Apenas dedilhando algumas notas. - ele respondeu, sentando-se na cama e me encarando com seus olhos serenos e expressão entediada.

— Soou como uma música melancólica.

Um sorriso brotou em seus lábios.

— Gosta desse tipo de música? - continuou, em sintonia comigo.

— Acho que posso dizer que é o meu tipo favorito.

Sua resposta pareceu alegrá-lo.

— Espere um momento... - ele começou a tocar alguns acordes, até que uma melodia triste se formou.

Passei a mão pelos cabelos e sorri.

— Vanessa. - Axl surgiu atrás de mim e segurou meu braço.

Izzy interrompeu abruptamente sua melodia.

— Oi. - minha resposta foi breve, mas suficiente para indicar que eu ainda estava com raiva

— Podemos conversar?

Olhei para Izzy, que fingia não se importar com a nossa presença. Aceitei o convite de Axl e saímos juntos, caminhando em direção ao nosso quarto.

— Pode começar. – olhei para ele.

— Sei que fui rude hoje, estou tentando mudar.

– Você sempre faz isso, Axl. Faz seus showzinhos e depois vem me pedir desculpas. Cara, isso está me cansando. Não é a primeira vez que você faz isso. – le olhou para o chão fingindo se importar com que o eu digo. — Eu te amo, Axl. Mas poxa, você cansa.

Toda vez que falo "eu te amo" para axl é como se estivesse falando nada. Não consigo sentir essa emoção, não consigo amá-lo como eu deveria amar. Ele é o único aqui em Los Angeles para mim, ele já fez tantas coisas por mim. Ele é intenso.

— Vanessa, me perdoa. Vai ser a última vez. – ele me puxou para si.

— Promete? – perguntei com a voz baixa.

— Do fundo do meu pobre coração.

Axl distribuiu beijos carinhosos por meu rosto e pescoço, envolvendo-me em um abraço protetor. No entanto, quando desviei o olhar e olhei para o lado, me deparei com Izzy parado no fim do corredor, com seu olhar distante e impassível.

𝐘𝐎𝐔 𝐂𝐎𝐔𝐋𝐃 𝐁𝐄 𝐌𝐈𝐍𝐄,  𝗜𝘇𝘇𝘆 𝗦𝘁𝗿𝗮𝗱𝗹𝗶𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora