13. Família Dunne

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VANESSA DUNNE 18 DE JULHO DE 1987.

Atualmente acomoda na poltrona do jatinho dos Guns, contemplo o percurso da turnê com um sorriso estampado no rosto. A alegria se intensifica ao constatar que o destino de hoje é Nova York. É uma saudade profunda do lar, por vezes percebo que as lembranças de como é viver ali desapareceram da minha mente. É uma sensação peculiar, pois, apesar disso, não consigo mais reconstruir uma memória inteira de lá.

Retirei os pés da mesinha, deixando o papel sobre a poltrona, e me encaminhei até o pequeno bar. Agora são 9 horas da manhã, e todos ainda estão entregues ao sono. Instalei-me em um banquinho, tomando um gole de vodka enquanto contemplava a paisagem pela janela. Uma culpa silenciosa paira em mim por seguir rumo a Nova York sem avisar aos meus pais, mas a distância entre nós cresceu ao longo do tempo sem diálogo.

Minha partida de casa foi motivada por Axl, o que compreensivelmente os deixou zangados. À época, mal o conhecia, e embarcar para um destino desconhecido foi, de fato, uma decisão louca. No entanto, eu desejava que confiassem plenamente em mim. Não apenas deixei meus pais e minha irmã para trás em Nova York, mas também abandonei minha melhor amiga. Uma onda de tristeza me envolve; é a primeira vez que penso nisso em muito tempo, e sinto uma vontade imensa de chorar.

Raramente ouvimos sobre a verdadeira natureza da saudade de casa, sobre viver sem a presença dos pais. Embora a liberdade seja uma sensação boa, a saudade se sobressai. Minha mãe, Camilla, sempre foi tão compreensiva e carinhosa, enquanto tudo o que retribuí foi uma preocupação imensa. Às vezes, desejaria que Deus surgisse diante de mim e dissesse: "Ei, Vanessa, pare com isso. Volte para casa e ouça seus discos enquanto chora por Axl novamente." No entanto, suspeito que, se isso tivesse acontecido, nenhum dos meus sonhos teria sido realizado.

— Pensando no que? – Izzy ficou em minha frente.

— Nova York.

— Feliz de estar indo pra casa? – ele sorriu ficando ao meu lado. Izzy nunca dorme ou é impressão minha?

– Sim, mas não sei... faz tanto tempo que não falo com minha familia. – terminei a bebida.

— Família é família, nunca vão parar de te amar.

Fixei meu olhar nele com um sorriso, e a expressão dele se iluminou ainda mais com os cabelos desgrenhados e alguns botões da roupa deixados abertos.

— Eu... vou tentar dormir um pouco. Tchau, Izzy.

Passei minha mão por seu braço e fui para minha poltrona. Ele me deixa tão feliz que vira tristeza.

***

Ao chegarmos, fomos recebidos por fãs histéricos, mas conseguimos nos dirigir ao hotel. Surpreendentemente, meu quarto e o de Izzy estavam agora lado a lado de novo. Eu odiei pois sinto que deveria parar com isso, mas não conseguia evitar. Gostava da sensação de estar com ele, apesar de saber que estava sendo tola. Estava brincando com fogo e isso não deveria ser assim.

— Axl, eu quero ir na casa dos meus pais. – falei enquanto nos sentávamos na cama.

— Tá bom.

Mordi meu lábio.

— Eu quero te apresentar para eles.

Axl me olhou com os olhos arregalados, ele sabe quem é meu pai.

— Hoje não dá, tenho que ensaiar com a banda.

— Axl, mas é agora de manhã, não vai ser de tarde e você pode vir embora depois.

— Hoje não, Vanessa. – ele se levantou. — Porra, não é não.

Odeio quando ele me trata como uma criança e odeio como sinto vontade de chorar.

— Ainda bem, porque ninguém suporta sua companhia.

Saí do quarto com raiva e nem reparei quando esbarrei em Izzy.

— Desculpa. – não olhei pra ele e entrei no elevador.

— Vanessa, está indo pra onde?

Izzy entrou no elevador comigo.

— Para a casa dos meus pais.

— Axl não vai?

Fiz que não com a cabeça.

— Quer companhia?

Minhas mãos agitavam-se ansiosas, desejando tocar em Izzy e abraçá-lo com força, mas essa não era uma opção. Olhei para ele e apenas acenei com a cabeça. A verdade é que eu não queria enfrentar isso sozinha; havia um receio latente de não ser bem-recebida em casa. Pedimos o táxi e me surpreendi quando falei o endereço correto para o taxista.

Quando chegamos, paguei o táxi e olhei para minha casa com medo deles não morarem mais aqui. Izzy segurou minha mão.

— Vamos?

Ele me conduziu até a porta e bati três vezes, como sempre faço. Meu pai tem esse hábito, e bater três vezes pausadamente significa que sou eu. Torci para que ele ainda reconhecesse esse sinal. Ao abrir a porta, ele me recebeu com um sorriso caloroso, um sorriso que eu nem sabia que precisava tanto.

— Joaninha! – ele estendeu os braços e me envolveu em um abraço apertado. Correspondi ao abraço enquanto as lágrimas fluíam pelo meu rosto. Quando ele me colocou no chão, segurou meu rosto delicadamente com as duas mãos. — Você está tão linda, meu amor. Senti tanto a sua falta... –, dizia enquanto enxugava as lágrimas que escorriam.

— Pai... — sussurrei, abraçando-o novamente. — Me desculpe, por favor. Eu não deveria ter ido daquele jeito.

— Claro que eu te perdoo. — Ele acariciou minhas costas com ternura.

— Amor, quem é? – minha mão apareceu atrás de Billy, quando me viu correu para se juntar ao abraço.

Quando terminei de falar com eles, chamei Izzy para dentro.

— Pai, mãe, esse é o Izzy, meu amigo. – Izzy sorriu e cumprimentou eles.

— E o Axl? — minha mãe perguntou, me fazendo querer chorar mais ainda.

– Ocupado com a banda.

Segurei as lágrimas novamente e fui para a sala com eles.

𝐘𝐎𝐔 𝐂𝐎𝐔𝐋𝐃 𝐁𝐄 𝐌𝐈𝐍𝐄,  𝗜𝘇𝘇𝘆 𝗦𝘁𝗿𝗮𝗱𝗹𝗶𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora