V

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Ramiro arregalou os olhos:

- Eeeeê, eu não ronco!

- Ah, amor, ronca sim - soltou Kelvin, apertando os lábios para conter a vontade de rir.

O moreno olhou para o namorado franzindo a testa:

- Mas ocê nunca falou nada...

- E que ele tá apaixonado, daí até o ronco é bonito - Berenice foi quem respondeu, no seu tom mais estridente.

O cantor fuzilou a amiga com os olhos:

- E você tá com inveja, né, Berê?

Mas ela levantou o queixo, com ar de desdém:

- Inveja do quê? Eu também tenho meu moreno gostoso, o Enzo.

- Ah, é, tinha até esquecido que aquele santo te aguenta... - o loiro retrucou com bastante sarcasmo.

Luana parou bem entre Berê e Kelvin:

- Vocês querem parar com isso? Vamos tomar café em paz, por favor? Ramiro, senta aí, toma café com a gente

- Vô aceitá causa de quê to atrasado já pro serviço - o peão concordou, já puxando uma cadeira e servindo-se de pão.

O pequetito sentou-se ao lado dele e ficou admirando seu amado ali dividindo a refeição com aquela turma que era a família que a vida lhe deu. Uma família meio maluca, que tinha seus atritos, mas onde todos sentiam-se acolhidos, embora nem sempre compreendidos. Kelvin lembrou de quando viajou para Nova Iorque... Os amigos foram tão insensíveis a sua dor quando Ramiro reagiu mal ao pedido de casamento, que o cantor até pensou em não voltar mais para Nova Primavera. Se não fosse pelo seu ursinho, talvez tivesse ficado de vez nos "states". Mas a saudade que sentia do peão começou a deixar tudo sem graça, até a carreira que parecia um sonho parecia perder o brilho. Agora ele tinha certeza que foi certo voltar. Tanto pelo amor que finalmente estava vivendo com seu Rams, quanto por essa família doida, que a cada dia estava mais unida.

Kelvin foi despertado de seus pensamentos por um toque suave do namorado em seu queixo:
- Ocê não vai tomá seu café? - o moreno perguntou com ternura.

- Vou sim - o cantor sorriu - Só estava lembrando de umas coisas e pensando no quanto eu sou feliz de ter você aqui.

- Eu também tô muito feliz - o peão passou o dorso dos dedos na lateral do rosto do outro - É estranho eu sentí que tô em casa aqui no bar?

- Nada estranho. Isso é bom - o mais novo ficou otimista com aquela informação, e serviu-se de café, ainda mais animado.


Enquanto a turma tirava a mesa do café e limpava a cozinha, Kelvin foi levar seu ursinho até a caminhonete. Parados ao lado da porta do veículo, o cantor pediu de um jeito cuidadoso:

- Pensa no que a gente conversou, sobre você vir trabalhar aqui...

- Vô pensá, sim - Ramiro deu um sorriso carinhoso e tocou com a ponta do indicador no nariz do namorado - Pequetito - ele pronunciou o apelido devagar, contemplando o loirinho e concluindo um beijo suave nos lábios.

- Te amo - sussurrou Kelvin, com as bocas ainda bem pertinho uma da outra.

- Te amo - retribuiu o peão, também num sussurro.

Só então o maior entrou no carro e se foi.

O pequetito voltou para dentro do bar com um olhar enlevado, parecia até flutuar.

Nando, muito brincalhão, começou a cantarolar, enquanto desenhava corações no ar ao redor de Kelvin:

- Estou apaixonado, e esse amor é tão grande

Garradinho, garradinho...Onde histórias criam vida. Descubra agora