XVIII

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O ex-peão encheu os pulmões e juntou sua mão à do amigo de infância.

- Nessas condição, eu quero voltá a trabalhá na terra, sim. Vai sê a fazenda mais produtiva da região toda, ocê vai vê.

- Juntando nossas força, tenho certeza que sim - Caio abriu um grande sorriso.

Kelvin correu na cozinha e voltou com cerveja e taças:

- Não tem espumante, então a gente improvisa com cerveja mesmo. Mas precisamos comemorar! - ele explicou já enchendo os copos, que os três ergueram.

- À nossa sociedade, que vai dá muitos frutos! - bradou Caio.

- Ô, irmãozão, tô muito feliz da gente estar se entendendo - Ramiro estava emocionado.

O outro também ficou comovido:

- Ah, cara... acho que ninguém mais do que eu sabe como você foi tratado pelo meu pai a vida toda, desde que chegou na fazenda. E eu sempre vi e ouvi tudo calado. Também errei com você.

- Ainda bem que percebeu... - o loiro não se conteve.

- Na verdade, nós dois fomos muito saco de pancada do seu Antônio La Selva. A gente devia ter se unido há muito tempo - o produtor rural ficou com o olhar distante, claramente em lembranças dolorosas.

- Antes tarde do que nunca - Kelvin murmurou num tom sarcástico, entredentes, mas o marido ouviu.

- Kevinho... vamo tentá olhá pra frente? - Ramiro pediu com carinho, enquanto envolvia o parceiro com um braço e encarava o novo sócio de um jeito cúmplice - O Caio tá certo, aquele homi sempre humilhô nós dois, mesmo ele que é filho de sangue era tratado pior que bicho. Só que esse tempo acabô, ninguém mais vai me chamá de jumento, de burro.

- É isso mesmo, Ramiro. Estamos começando um novo tempo, de respeito - Caio retribuía o olhar de cumplicidade, visivelmente emocionado.

O baixinho suspirou, desarmando o modo de defesa. E ergueu a taça puxando um novo brinde:

- Ao respeito por todos!

Os outros dois acompanharam o movimento, e todos terminaram suas bebidas.

- Bão, vamo começar a trabalhar, sócio? Quero que você veja como tá as plantação tudo da fazenda, e mostrar o que quero mudar - chamou o La Selva.

- Só vamo! - respondeu um Ramiro empolgado, largando a taça na mesinha de centro e deixando um beijinho delicado nos lábios do esposo - Tô indo, pequetito, vô tentá não voltá muito tarde, e te conto tudo.

- Vai tranquilo, eu tenho que ir pro bar agora ensaiar com o Nando, tô até atrasado - Kelvin respondeu acarinhando a barba do outro.

- Tenho certeza que esse show tá ficando uma belezura - derreteu-se o maior, dando mais um beijo no amado, desta vez mais intenso que chegou a estalar. Só então se afastou, mas antes de sair pela porta, virou-se para um recado:

- Diz pro cara de bolacha que vô arrumá alguém pra fazê as entrega no meu lugar. Não vô dexá ele na mão. Agora, bora pra botá a mão na terra! - concluiu quase eufórico.


Naquela noite, Ramiro chegou bastante suado, com terra vermelha nas roupas e nos sapatos, mas com um brilho no olhar que Kelvin nunca tinha visto. Era um homem que tinha reencontrado sua essência. Deu um beijo apaixonado no marido e foi para o banho, cantarolando durante todo o tempo em que ficou com o chuveiro ligado, até vestir uma cueca e se jogar na cama. O mais novo banhou-se em seguida, sentindo os músculos repuxando de tanto repetir coreografias no ensaio. Quando voltou para o quarto, aninhou-se no peito farto de Ramiro, percebendo antes que ele estava com um sorriso radiante.

Garradinho, garradinho...Onde histórias criam vida. Descubra agora