XIV

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- Não é medo, Kevinho... só não confio nesse bicho, não! - o grandão parecia ter aumentado ainda mais o bico.

- Ah, que fofinho - Kelvin acarinhou as bochechas do maior, fazendo com que desmanchasse a cara feia - Você vai ver que não tem perigo. Eu fui até pro estrangeiro, e voltei inteirinho, não voltei? E vou estar do seu lado, segurando sua mão.

- Tá bão, então - admitiu Ramiro, ainda meio desconfiado - E o que a gente vai fazer no Ridijanero?

Os olhos do mais novo brilharam como se um filme encantador passasse diante deles:

- Ah, tem um monte de lugar bonito pra gente conhecer... Tem o Cristo Redentor, que eu até queria ter ido quando fiz show no Rio, mas não deu tempo. Vamos andar de bondinho no Pão de Açúcar! E tem as praias, né, que são lindas. Eu só vi passando de carro, nossa parece coisa de filme.

O maior ficou pensativo, com um sorriso sonhador:

- Praia... Eu nunca que fui, só vi em foto e na televisão.

Kelvin segurou as mãos do marido, empolgado:

- Então, Rams! Imagina nós dois, tomando banho de mar em Ipanema? Igual nas novelas? Eu desfilando com minha saída de praia linda, que você chama de rede de pescador? Ah, vai ser lindo!

Com um olhar apaixonado, o moreno respondeu bem perto dos lábios do esposo:

- Se é pra vê ocê feliz assim, eu vô em qualqué lugar desse mundo.

Encontraram-se num beijo delicado, depois o baixinho repousou a cabeça no peito generoso do outro, e olhou para a amiga, que tinha ficado só observando a conversa:

- Lu, a gente vai pro Rio!

- Bem gatas cariocas! - devolveu a mulher num tom vibrante.

- Siiim! - confirmou o cantor, sorrindo de um jeito que deixava seus olhos miudinhos.


Naquela semana, Kelvin praticamente obrigou Ramiro a irem até o shopping da capital. Compraram algumas bermudas e camisetas para o mais velho, roupas de banho, calçados abertos, protetor solar.

Estavam passando diante de uma loja de presentes, quando o loiro puxou o marido pela mão:

- Ah, faltou uma coisa! - Kelvin entrou na loja indo direto na prateleira das almofadas de pescoço, e como se tivesse olhar de raio-x, logo pegou um acessório marrom com uma cara de ursinho estampada - Essa é perfeita pra você - deu um risinho - A viagem fica bem mais confortável com uma almofada dessa, vai por mim.

- Tá bão, ocê vai comprá de qualqué jeito... - murmurou Ramiro, com os olhos já perdidos na direção de uma estante cheia de bichinhos de pelúcia. Ele foi na direção dos brinquedos, seguido pelo esposo. Então puxou um coelhinho branco vestido com um tricô amarelo - Ó, é ocê... branquinho, rabinho, levinho.

- Que gracinha... - o mais novo até soltou um suspiro, enquanto também percorria os bichinhos com o olhar. Abriu um sorriso quando encontrou o que procurava: um ursinho marrom, fofo como seu Rams - E esse é você, meu ursinho dengoso.

Parecendo duas crianças, eles fizeram os bonecos encostarem os focinhos, como se trocassem um beijo. Riram juntos daquela brincadeira, até que Kelvin arregalou os olhos nitidamente tendo uma ideia:

- Vamos levar dois de cada, a gente deixa um coelho e um ursinho na cama do Bob, porque assim nosso filhote vai poder dormir agarradinho aos papais dele enquanto estivermos fora! Bora, Rams, me ajuda a achar outros iguais a esses.

Vasculharam as prateleiras, e Kelvin saiu para o caixa com os braços cheios, carregando os quatro bichinhos mais a almofada. Ramiro até ajudaria se já não estivesse cheio de sacolas. E também estava distraído, contemplando a alegria do pequetito com aquela compra. Até parecia uma criança feliz com brinquedos novos. Mas aqueles bichinhos eram mais do que brinquedos, eram metáforas de todo aquele afeto que eles tinham construído.

Garradinho, garradinho...Onde histórias criam vida. Descubra agora