XI

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Enquanto Cacá fazia a maquiagem e o cabelo de Kelvin, e Luana checava roupa, sapatos e acessórios do amigo, Ramiro estava vestindo-se no quarto de Nando, com a ajuda de Rodrigo, que fez o nó da gravata do noivo.

- Ah, esse troço tá me enforcando, não quero usá, não - resmungou o maior, já afrouxando o nó.

- Acho que não precisa mesmo. Também vou tirar a minha - concordou o advogado, imitando o gesto do outro.

Eles livraram-se das gravatas, e o mais velho foi até o espelho, ajeitando a gola da camisa.

- Acho que to bão, né?

- Tá elegante, agora é só esperar por um toque do Cacá no seu cabelo.

- Ah, tá faltando mais uma coisa - Ramiro pegou o perfume que tinha ganhado do amado, e gostado tanto que só queria andar perfumado. Espirrou a fragrância na barba, e deu uma espalhada - Agora sim, tô como o Kevinho gosta.

Rodrigo sorriu:

- Tô pra ver alguém mais apaixonado do você, Ramiro. O Kelvin te laçou mesmo.

- Ah. dotô Rodrigo... o Kevinho mudô minha vida. - o olhar do outro ficou iluminado - Amo tanto, tanto, que parece que vai rasgá meu peito. Mas ocê também tem os quatro pneu arriado pela Luana, todo mundo sabe.

- É, eu amo demais a minha preta - o sorriso do advogado ficou mais largo.

Mas o ex-peão parecia um menino curioso:

- Posso fazê uma pergunta? - Rodrigo assentiu com a cabeça, e Ramiro prosseguiu - Ocê nunca se importô pela Luana não sê uma mulher como as otras?

Rodrigo encarou o amigo com seriedade, mas falou pausado e calmo:

- E quem disse que ela não é mulher como as outras? Só porque o corpo é diferente? Nós não somos todos diferentes uns dos outros? Eu me apaixonei pela pessoa maravilhosa e cheia de vida que ela é. Por acaso a Lu é uma mulher trans. E como isso interfere na nossa relação, só diz respeito a nós dois.

- Desculpa, dotor, eu não queria ofendê... - o maior parecia um cachorro de orelhas murchas.

- Tá tudo bem, amigo. Ninguém nasce sabendo. O importante é não insistir numa visão errada das coisas - o advogado suavizou a expressão.

- É, eu tô aprendendo essas coisa. Aprendendo e guardando aqui tudo que ocê falô - Ramiro tocou com o indicador na cabeça.

Foram interrompidos pela entrada de Cacá:

- E aí, noivo, vamos finalizar esse cabelo?


No outro quarto, Kelvin estava inquieto:

- Ah, será que aquelas piranhas estão arrumando direito o salão? E o Zeza, será que vai saber botar as flores no bolo?

Luana segurou as mãos dele:

- Kelvina, respira e se acalma. A Flor tá supervisionando tudo, e nela a gente confia.

- Verdade - o rapaz olhou para a amiga com emoção - Lu, obrigada por ser nossa madrinha. A gente nem sempre teve uma boa relação, mas que bom que conseguimos nos entender.

A mulher também ficou comovida, e respondeu com suavidade, apesar do tema pesado:

- Ô, minha velha... nós duas já passamos por tanta coisa nessa vida, né? Quando chegamos nesse bar, a gente precisava sobreviver, e na selva, se você não é predador, acaba sendo a presa. Acho que nada foi rivalidade pessoal, era só sobrevivência. Mas agora estamos felizes, com nossos amores, é um outro momento de vida.

Garradinho, garradinho...Onde histórias criam vida. Descubra agora