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  Confesso que estou morrendo de medo. Mas o que eu poderia fazer? Estou sem opções e por mais que eu possa amanhecer em uma vala ou prostíbulo não tenho outras alternativas.

Desde o dia em que larguei tudo para cuidar da minha mãe nenhum outro foi fácil. Eu tinha uma boa vida não era rica mas não passava fome fui uma criança bem inteligente e sonhava em ser médica, então me dediquei a vida inteira para isso e no último ano do ensino médio eu consegui uma bolsa, não era em uma das melhores faculdades mas eu fiquei muito feliz! Porém quando estava chegando no fim do quarto semestre , minha mãe teve um desmaio consegui levar ela ao hospital e  foi então que fizeram uma tomografia e lá estava.

Adenocarcinoma , câncer no pâncreas.

Não pensei duas vezes e larguei a faculdade, peguei todas as minhas economias para tentar aumentar as chances ou ao menos o tempo de vida da minha mãe, eu não podia aceitar e graças a radioterapia ela viveu porém uma semana antes do meu aniversário de vinte e um anos ela passou muito mal e fomos mais uma vez parar no hospital, minha mãe ficou internada por três meses e eu fiquei desempregada,  usei tudo o que tinha para pagar as despesas médicas mas não foram o suficientes para manter ela viva.

Então eu me vi órfã com vinte e um anos , sem um emprego me mudei para um barraco no subúrbio para tentar cortar gastos ,  o trabalho que consegui quase não pagava minha moradia.

Eu estava a beira do colapso.

Nunca entendi minha má sorte , sempre fui boa , minha mãe dizia que pessoas boas recebem coisas boas. Mas no meu caso recebi a orfandade e uma Glock no meio da fuça.

Desisti de ser uma boa menina com um mês vivendo no subúrbio, aprendi a me defender e não confiar em ninguém.

"Aqui só sobrevivem os fortes menina"

Era o que Abner me dizia todos os dias até o dia em que foi morto em um confronto entre gangues.

Com a morte dele perdi um amigo e a única pessoa que matava minha fome, então , passei noites sem comer e até mesmo vasculhei caçambas atrás de qualquer coisa para matar a fome em momentos de desespero, não cheguei a morar literalmente na rua porque consegui me mudar as escondidas para o antigo barraco que era de Abner, meu emprego na lanchonete não me dava um salário mas os trocados ao menos serviam para alguma coisa.

Mudei muito com tudo que passei, confesso que até mesmo deixei de me compadecer com a dor do próximo afinal na sobrevivência o mais piedosos morrem, cansei de ver pessoas serem arrastadas para os becos para pagarem suas dividas com a vida, adolescentes se prostituindo por uma carreira de pó e criança serem abandonadas por mães que tinham o maridos na cadeia.
Mas eu não fiquei de todo ruim , claro que não! Lembrar do olhar da minha mãe me manteve lúcida, pensar no que ela acharia de mim.

No dia em que encontrei Bruce,  eu havia escondido comida na caçamba de lixo, aquele velho gordo não poderia sonhar que eu pegava a comida e escondia dentro do sacos de lixo para depois ir buscar, mas naquele dia Bruce estava lá e eu tentei ajudar não por vontade ou por me importo com ele, foi mais pela minha consciência que começou a pesar. Mas ao que parece essa minha ajuda está me gerando uma recompensa,  sei que esse cara pode está me enganado e meu destino será o pior possível, mas o que eu tenho a perder?

Saio dos meus pensamentos quando o carro entra dentro do estacionamento interno de um prédio.

— Vamos.

Edgar Rakovsky é um tremendo de um pé no saco!

Mesmo assim o segui, fomos até o elevador e ele apertou um botão e em poucos segundos a porta se abriu e me vi de frente a uma porta madeira , Edgar a abriu e entrou e eu obviamente fui atrás.

Bruto - Fora Da Curva Onde histórias criam vida. Descubra agora