Capítulo 6

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===== > Emma < =====

Acordei logo cedo, o que era muito comum para mim, e a imagem de Regina veio imediatamente à minha cabeça. Havia alguma coisa nela que me chamava a atenção. Parecia que ela estava em perigo e eu sentia que precisava fazer algo para ajudar. Mas uma mulher como ela era independente demais para precisar ser salva. Rindo desse pensamento, eu me apresso em levantar, decidida a ir tomar café no Granny's. Assim, poderei me despedir de Regina antes que ela vá embora da cidade.

Saí de casa animada, resolvi ir caminhando até lá. Estava fazendo um lindo dia ensolarado, um domingo perfeito para uma caminhada ao ar livre, sem contar que eu não queria chegar cedo demais na pausada. Enquanto sentia o sol da manhã aquecer minha pele, não conseguia deixar de pensar em Regina na noite anterior, e isso me trazia uma sensação completamente nova, diferente. Era como se eu a conhecesse desde sempre. Nem dava para acreditar que eu a tinha conhecido literalmente no dia anterior e, para falar a verdade, eu achava isso bastante reconfortante apesar de estranho.

O Granny's House não fica muito longe da minha casa, então, não precisei andar muito para chegar. E a primeira pessoa que vi foi, claro, a dona Célia que veio ao meio encontro já começando a me interrogar:

— Bom dia, sumida! Procurei por você ontem mas a Ruby me disse que já tinha ido embora. Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais, Vovó. Só precisei sair para ajudar uma amiga — respondi, antes de dar um beijo de bom dia no rosto dela. — E a Ruby, onde está?

A verdade era que eu queria perguntar pela Regina, mas não podia ser tão óbvia assim.

— Ainda está dormindo. Dei uma folga para ela como presente de aniversário.

A vovó piscou para mim e eu pisquei de volta, antes de varrer o restaurante com o olhar em busca de Regina, mas nem ela nem Robert estavam por ali. Me sentindo um pouco decepcionada, avisei que iria subir e corri para o quarto de Ruby sem esperar por resposta.

Ela realmente ainda estava dormindo.

Eu pretendia acordá-la com delicadeza, mas quando caminhava para dentro do quarto, tropecei nos sapatos que ela estava usando na noite anterior e caí com tudo bem em cima dela. Ruby acordou assustada, gritando, e me empurrou para o chão e, apesar do susto, não consegui segurar uma risada, mesmo que minha bunda estivesse dolorida por ter caído sentada no chão duro e frio. Ruby sentou-se na cama e me olhou assustada, usando todo o seu repertório para me xingar por ter invadido o seu quarto.

— Tá maluca, Emma! Como você entra no meu quarto e pula em cima de mim desse jeito? Eu quase infartei, menina!

— Foi mal, Rubs. Não era assim que eu queria acordar você, mas acontece que tropecei e caí. Não fiz por mal — Eu disse, entre risadas, ainda massageando o lado direito da minha bunda.

Ruby não aguentou e acabou rindo também.

— Bem a sua cara mesmo — Disse ela, abrindo espaço para eu me sentar na cama também. — E por que você veio me acordar tão cedo? Veio me contar o que aconteceu ontem a noite?

— Vou contar, sim. Mas não agora. Preciso falar com a Regina primeiro, você sabe onde ela está?

Nesse instante, o sorriso da minha amiga sumiu e ela segurou minha mão por cima do seu edredom, fazendo uma expressão de quem iria me contar algo que eu não iria gostar de ouvir. Eu sei disso, porque ela ficou em silêncio por um momento, o que é bem estranho vindo da Ruby que é uma tagarela de primeira linha.

— Emma, ela e o Robert foram embora, ainda de madrugada — ela disse, de repente.

— O quê? — Levantei da cama com um salto. Não podia ser verdade! Isso significaria que eu não a veria de novo? — Mas, porque de madrugada? Ela tinha me dito que sairiam pela manhã!

— Não sei, acho que eles brigaram. Nós ouvimos uma gritaria vinda do quarto deles, depois eles colocaram as coisas no carro e foram embora. Ele nem se despediu de mim — Ruby parecia um pouco chateada nessa última parte. — Achei bem estranho que isso acontecesse. Nunca o tinha visto do jeito que estava ontem. Parecia fora de si quando soube que a esposa tinha saído sem avisar. O que sua amiguinha fez com ele, hein?!

Não dei importância ao tom de implicância na voz de Ruby. Só conseguia pensar em Regina, em como ela estava triste quando a encontrei no banheiro, as lágrimas nos olhos dela ao esfregar o pulso no local onde Robert tinha segurado. Depois, a mesma tristeza voltou ao olhar dela logo antes de nos despedirmos, na frente do Granny's, de madrugada. Ai, meu Deus!

— Foi minha culpa, Ruby. Eu causei a briga deles!

Ela pareceu não entender o que eu estava dizendo.

— Como assim? Por que você teria culpa nisso? Provavelmente ela fez alguma coisa para deixá-lo nervoso daquele jeito.

Balancei a cabeça negativamente enquanto ela estava falando.

— Não, Ruby. Fui eu que a convenci a sair comigo sem que ele visse. Ele não deve ter gostado disso. Acho até que eles já tinham brigado antes de sairmos, porque ela não estava muito bem quando a encontrei no banheiro.

A essa altura eu já estava uma pilha de nervos, andando de um lado para outro do quarto enquanto minha amiga tentava me acalmar dizendo que eles provavelmente tinham continuado a briga de antes e que eu não tinha culpa de nada. Tentei me convencer de que ela tinha razão e que casamentos deviam ser assim mesmo. Aquela era provavelmente só mais uma briga de casal, portanto, não havia com o que se preocupar. Só que eu continuava preocupada.

Ruby e eu descemos juntas para tomar café-da-manhã. Eu mal falava. Apenas ouvi a minha amiga contar, feliz da vida, tudo o que tinha perdido da sua festa de aniversário. Eu estava feliz por ela se sentir tão realizada, mas minha felicidade não estava completa.

O restaurante estava um pouco mais cheio do que de costume por causa dos convidados de Ruby. Alguns deles, inclusive, decidiram passar o dia conhecendo a cidade antes de ir embora, então, Ruby mantinha sua animação me contando sobre os planos para aquele dia com seus amigos de Manhattan. Ela até me convidou para ir junto, e eu até cogitei a possibilidade de conhecer melhor os amigos da minha melhor amiga, mas eu sabia que não seria a melhor companhia para ninguém naquele dia. Então, apenas terminei meu café da manhã, dei a desculpa de que tinha combinado de almoçar com meus pais e voltei para casa.

Regina tinha me passado seu número de celular na noite anterior, então, até pensei em ligar para ela, mas acabei decidindo não fazer isso. Era bem possível que ela nem me considerasse sua amiga de verdade, e poderia ser invasivo ligar assim, do nada. Quando cheguei em casa, sentei diante da tv e fiquei zapeando os canais em busca de algo que pudesse me distrair. Porém, não consegui me segurar e acabei enviando uma mensagem para Regina.

"Espero que tenha feito uma boa viagem".

Passei o resto da manhã vegetando na frente da tv, sem realmente prestar atenção no que estava assistindo. Foram muitas as vezes em que me vi olhando para o celular, esperando receber uma resposta que não chegava nunca. Muitas vezes quando quis falar com a Ruby, ela demorava horas para me responder, e isso nunca me incomodou.

Por que a falta de resposta de Regina estava me incomodando tanto?

Quando finalmente vi a tela do meu celular acender, tive uma pontinha de esperança que durou apenas meio segundo. Era uma ligação da minha mãe. Ela queria saber o motivo do meu sumiço na festa. Felizmente, ela aceitou minha explicação, a mesma que eu tinha dado para Ruby antes de saber que Regina tinha ido embora da cidade sem se despedir. Minha mãe sempre se preocupou muito comigo, e mesmo que eu não morasse mais com ela há anos, ainda gostava de saber de cada passo que eu dava. Eu não a culpava por isso. 

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