Introdução

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O sol brilhava ao lado de fora das cortinas transparentes cor rosa claro. Eu ainda permanecia deitada em minha cama, mesmo sabendo que já deveria estar quase pronta para o café da manhã. Eu não poderia evitar a apreensão que enjaulava qualquer possibilidade de tranquilidade e leveza que costumava tomar o meu corpo nas manhãs lindas como as de hoje. Já cansada de sentir pena de mim mesma, levantei-me de minha cama confortável e me aprontei para o colégio. Minha franja estava livre, assim como meus cachos. Duas mexas foram presas por um laço rosa na parte de trás da cabeça, os pequenos saltos que me faziam sentir elegante e o vestido pouco abaixo do joelho me fizeram recuperar minha confiança há pouco abalada. 

Ignorei a mesa do café da manhã, pois já estava atrasada. Saí de minha casa me esforçando para acompanhar os passos de meu irmão, que não fazia questão alguma de me esperar. Não pude deixar de ouvir o sermão de minha mãe antes de seguir caminho. Foi como um "Não pense que eu não reparei esses saltos. Nem pense em ir assim amanhã, Michéle!". Apenas a ignorei, como fazia com 90% das coisas que ela dizia.

- Então... - Encarei curiosa o meu irmão, que iniciou um diálogo nada esperado por mim. - A Simone irá para a mesma sala que você? - Ele me perguntou, sem me encarar. Eu fingia não notar seu interesse completamente em evidência por uma de minhas melhores amigas. Interesse este que era totalmente recíproco. 

- Eu espero que sim. Seria terrivelmente chato se ficássemos separadas. - O caminho até o colégio do meu irmão e agora meu não era longo e eu agradeci mentalmente, pois não seria muito confortável caminhar com esses sapatos maravilhosos e desconfortáveis por muito tempo. 

Assim que passamos pela entrada, Jean Pierre se afastou de mim de imediato, como o incrível irmão solícito que é. Eu encarei a entrada por alguns segundos. Olhei em volta e respirei aliviada quando vi Annick e Simone caminhando juntas em minha direção. 

- Estava esperando a gente chegar, que fofura! - Simone apertou minhas bochechas, enquanto Annick acenava para mim. 

- Achei que teria que entrar sozinha e encarar todas essas pessoas que eu nunca vi! Vamos logo, ou vamos nos atrasar! - Me coloquei no meio das duas, enquanto entrávamos pelos portões, que se tornariam minha prisão pelo restante do ano letivo. 

O anúncio inicial foi realizado. O coordenador da escola, Senhor Paul Bellanger, nos desejou boas-vindas. Era impossível se sentir bem recepcionada quando havia, pelo menos, cinco garotos nos olhando fixamente, quase como se fôssemos alienígenas. Cheguei a me perguntar se havia algo de incomum conosco, mas cheguei a conclusão de que os malucos eram eles. 

Levei um esbarrão sem igual enquanto subia os degraus até a sala de aula. Um verdadeiro idiota chocou seu ombro grande e ossudo contra meu seio esquerdo me fazendo ver estrelinhas de dor. O dito cujo correu escada acima, risonho e cantarolando "Preste atenção, loirinha" sendo seguido por seus amigos igualmente imbecis, que aparentemente ririam de qualquer coisa dita por ele. O covil dos idiotas. 

Consegui sentar-me junto com Annick, enquanto Simone ocupava a cadeira à frente das nossas. Tentei agir normalmente e ignorar a dormência que sentia no seio e tive vontade de quebrar a cara do idiota. 

A professora responsável pela classe não parecia ser nada receptiva ou ao menos educada. Mal nos direcionou um "bom dia" antes de iniciar sua aula de geografia, me fazendo encarar o quadro, tentando me concentrar no que era dito. Ao meu lado, Annick parecia compreender perfeitamente o assunto abordado, não me surpreendendo nada. Ela era a mais esperta de nós. Annick possuía uma aparência angelical, com seus olhos verdes grandes e cabeleira loira. Parecia uma verdadeira boneca com a faixa azul estrategicamente amarrada em seus fios lisos, combinando com seu vestido longo da mesma cor. 

Mixte 1963Onde histórias criam vida. Descubra agora