ATO I (Réslar)
Lésnar, com uma expressão preocupada, amarra seus longos cabelos ruivos, evitando que caíssem sobre o rosto e atrapalhassem sua visão. Ela vasculha rapidamente as pequenas bolsas em sua cintura, verificando se suas armas estavam prontas para uso imediato. - Cuidado, Réslar, eles podem te ver - sua voz é um sussurro urgente.
Ignorando o alerta, foco minha atenção na conversa distante. Meu coração bate rápido, a adrenalina aguçando meus sentidos. Escondida entre as pedras de areia de Primárium, luto para entender as palavras arrastadas de Máterum, que o vento teima em levar. Suas instruções soam como um enigma, quase inaudíveis. - Vai a Arcríris... obtenha o máximo de... filhos... - a voz de Máterum flutua até mim, fragmentada e incerta.
- Réslar... - Lésnar chama, mas a interrompo.
- Shiu! - repreendo-a em um sussurro. - Estou tentando ouvir o que eles estão dizendo - esclareço, focada nas vozes.
- Sim, Máterum! - responde uma voz desconhecida, firme e obediente.
A próxima ordem de Máterum chega até mim, mais clara, embora ainda envolta em mistério. - Não deixes esta espada cair nas mãos de ninguém, ela possui muito valor para mim. Por favor, protege-a! - Sua voz em um tom de seriedade que não deixa espaço para dúvidas sobre a importância daquela espada.
O vento sibila ao meu redor, uma sinfonia incessante que leva as palavras de Máterum para longe. A curiosidade pulsa forte, entrelaçando-se com um medo crescente. Apesar disso, a necessidade de compreender os planos de Máterum se torna mais urgente a cada momento. Sei que preciso me aproximar, mesmo que isso signifique enfrentar o perigo.
Meu corpo se move quase por instinto, navegando silenciosamente entre as pedras de areia de Primárium. Cada passo evitando qualquer ruído que possa delatar minha presença. A areia sob meus pés parece conspirar a meu favor, amortecendo meus movimentos.
- O que você está planejando? - a voz de Lésnar emerge baixa e tensa, quebrando o silêncio momentâneo.
- Vou chegar mais perto! - respondo, minha voz tão suave quanto um sussurro, mal ousando respirar alto. - Daqui só consigo ouvi-los.
Percebo a hesitação em Lésnar. Seu corpo se tensiona, uma clara demonstração de preocupação. - É muito arriscado! - ela adverte, mas há uma aceitação em seus olhos, sabendo que não pode me impedir.
Com cuidado, escalo a grande pedra de areia, os movimentos precisos para não chamar atenção. Ao atingir o topo me deito de bruços observando cautelosamente o cenário abaixo.
A visão que se desdobra diante de mim faz meu coração saltar. Duas estranhas criaturas estão em pé próximas a Máterum. São figuras imponentes, cuja aparência é ao mesmo tempo familiar e totalmente ímpar.
- O que são essas criaturas? - questiono a mim mesma, a voz sumindo em minha garganta. Meus olhos se arregalando enquanto tento absorver cada detalhe de suas formas exóticas.
Assemelham-se aos deuses em sua fisionomia, as criaturas exibem uma pele bastante chamativa. A primeira, de estatura mais baixa, tem uma pele esverdeada bem escura e um corpo compacto com rígidos trapézios. A segunda com traços femininos, ainda que quase imperceptíveis, contém um corpo ainda mais robusto que o esverdeado, com uma pele de um branco puro. Ela é alta em comparação a mim, com coxas e costas excessivamente trincadas e uma saliente barriga, mas ainda definida.
Apresentando as duas criaturas relevantes semelhanças, como suas variadas cicatrizes, em sua maioria compridas e grossas; a falta de pelos no corpo e cabeça e; os esbranquiçados olhos.

VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas de Marum - O Primordial
FantasíaE se o universo tivesse uma consciência? E se, na vastidão do vazio, ele sentisse a dor da solidão? 'O Primordial' começa onde tudo começa: no sacrifício de dois seres que dão origem à entidade suprema, Máterum, o criador de mundos e deuses. Mas o q...