ATO I
No coração do céu, a imensa esfera de fogo primordial paira majestosa, sua chama colossal sendo a única barreira contra a consumação total do planeta pelo frio. Este Sol, um gigante ardente de luz e calor, banha Arcríris com sua luz tênue, lutando incansavelmente para afastar a mordida gélida do vazio cósmico.
Arcríris, um orbe de beleza congelada, jaz no confim do universo conhecido como o mais frio dos planetas. Sua superfície, um espetáculo de brilho e frieza, revestida com camadas sobre camadas de cristais translúcidos. Estes cristais, formados ao longo de eras, cobrem não apenas a superfície, mas se infiltram profundamente, entrelaçando-se com o próprio núcleo do planeta. Como veias de gelo, eles percorrem o interior de Arcríris, criando uma matriz complexa que irradia um brilho transcendental, emanando uma luz sutil que dança sobre a superfície gelada e ilumina o planeta com um esplendor congelado.
Nas vastas extensões de Arcríris, um fenômeno geológico único adiciona outra camada à sua tapeçaria natural: a areia vermelha. Espalhada por suas terras como um manto rubro, esta areia é dotada de propriedades divinas. Ela parece gerar um calor próprio, sutil mas persistente, que permeia o solo do planeta. Este calor, originário da própria areia, atua como um contraponto ao frio dominante, evitando que Arcríris se transforme em uma esfera completamente congelada no cosmos.
Esta areia vermelha, em sua singularidade, não só modifica o clima de Arcríris mas também lhe confere uma beleza desolada. As dunas e planícies de areia, com suas ondulações suaves e cor escarlate, contrastam dramaticamente com os cristais brilhantes que cobrem o planeta, criando um panorama de cores que é ao mesmo tempo estranho e maravilhoso.
Apesar dessa intrigante mistura de fogo e gelo, Arcríris permanece o mais inóspito dos planetas conhecidos. Até hoje, não há relatos de seres vivos que conseguiram chamar esse lugar de lar. Sua superfície, um estudo em extremos, parece repelir a vida, deixando o planeta como um enigma solitário no vazio do espaço.
No meio desse cenário de extremos, Tempórious se destaca. Com sua estatura elevada e postura ereta, sua pele alva e impecável, contrastando com a marcante sobrancelha escura e bem definida que arqueia ligeiramente acima dos olhos. Estes últimos são de um cinza cintilante e límpido, cercados por longos cílios, fixados no horizonte distante.
- Vamos logo! Este frio está me matando! - Tempórious exclama, seu fôlego se transformando em pequenas nuvens de vapor no ar gélido.
Ele esfrega as mãos vigorosamente, numa tentativa vã de gerar calor. Seus cabelos prateados, mesmo em desalinho pela ventania, emolduram sua testa larga, adicionando um toque de elegância ao seu semblante cansado. Seu nariz reto e lábios finos, normalmente em expressão neutra, agora se contorcem em desconforto pelo frio. As maçãs do rosto proeminentes de Tempórious ressaltam ainda mais sob a luz tênue, e sua mandíbula definida, mas não excessivamente quadrada, alinhando-se suavemente ao queixo firme.
- Fique quieto, Tempórious! Calma, A pressa não vai acelerar as coisas aqui - respondo com uma exasperação fatigada, sentindo o peso da sua impaciência como uma carga adicional em meus ombros já sobrecarregados. Minha voz, mais baixa que a dele, reverbera com cansaço. - Sabe como os cristais arcririsianos são resistentes. - As palavras saem de minha boca enquanto continuo a bater a lâmina da adaga contra os cristais teimosos. Cada golpe é firme, metodicamente calculado, mas os cristais parecem rir de meus esforços, reluzindo friamente sob o fraco brilho da colossal esfera de fogo no céu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas de Marum - O Primordial
FantasíaNeste fascinante épico mitológico, mergulhamos no início dos tempos, onde o Universo nasce de uma união transcendente, emergindo como uma entidade de poder e consciência absolutos. Em meio à vastidão do nada, ele enfrenta a solidão primordial, dando...