Sombras sob Malbork (Void) - Parte III

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ATO VI

Perdido em minhas lembranças, mal percebo a aproximação de Muntera, até que sua voz surge com urgência, puxando-me de volta à realidade. - Void! Void! - ela exclama, sua voz em tom de preocupação. A surpresa em sua voz me desperta, fazendo-me retornar ao momento presente.

- Hm... - é tudo que consigo articular, ainda desorientado pela abrupta interrupção de meus pensamentos.

Muntera, percebendo meu desconforto, estende sua mão calejada e a coloca sobre a minha com gentileza, uma tentativa de me tranquilizar. - Não se assuste - ela aconselha, sua voz suave contrastando com a aspereza de suas mãos de guerreira. - Kinkara não é capaz de te ferir, não com tantas correntes o segurando. - Seu olhar é firme, transmitindo segurança e compreensão.

Nesse momento, Toihid intervém com um comentário zombeteiro. - A menos que chegue perto dele - ela sussurra, soltando um riso abafado que soa mais como um desafio do que uma piada. O riso de Toihid, embora leve, carrega um tom de provocação, uma brincadeira que esconde uma verdade mais sombria.

A repreensão de Máterum chega imediatamente, seu tom de voz rigoroso cortando a atmosfera do salão. - Toihid! - ele a chama, sua autoridade inquestionável.

Toihid, surpreendida pela reação de Máterum, se apressa em pedir desculpas. - Desculpa, Pai - ela se apressa em dizer, tampando a boca com seus dedos gordos e abaixando a cabeça em sinal de respeito. Ela diz rapidamente, tampando a boca com seus dedos gordos em um gesto de arrependimento. Sua cabeça se inclina em um sinal de respeito, e seus olhos, antes brilhantes de travessura, agora refletem com misterioso temor.

- Dynes e Térax! - Máterum chama com autoridade.

Os dois se viram quase simultaneamente, seus rostos marcados pela expectativa e prontidão. - Sim? - respondem em uníssono, a sincronia de suas vozes refletindo uma disposição compartilhada para seguir as ordens do Primordial.

Com um gesto firme, Máterum os designa para uma missão: - Os dois irão a Arcríris para localizar e trazer Ózis a Primárium - As palavras de Máterum, embora breves, não deixa margem para dúvidas.

A pergunta de Térax surge então, gerada por uma tentativa mal-sucedida de leveza. - E se, quando o encontrarmos, ele não cooperar? Podemos... matá-lo? - Seu sorriso, que busca ser brincalhão, mas que não consegue arrancar risadas de ninguém, rapidamente se desvanece ao perceber a mudança brusca na feição de Máterum. O ar se torna tenso, as palavras de Térax pairando no ar como uma provocação indesejada.

A atmosfera no salão muda drasticamente com a reação silenciosa de Máterum. Todos sentem uma pressão invisível, uma força que os empurra contra as cadeiras, tão descomunal que é como se nossos corpos fossem implodir a qualquer momento pela pressão. A presença de Máterum se torna quase tangível, uma demonstração silenciosa de poder que intimida e subjuga.

Térax, agora visivelmente abalado, suas mãos tremendo levemente, murmura um pedido de desculpas. - Desculpa... - Ele abaixa o olhar, incapaz de encarar Máterum, sentindo-se encolher sob o peso de sua própria pergunta imprudente.

- Cala-te - ordena Máterum, sem ira ou elevação em sua voz. - Ide a Arcríris, e voltai aqui somente quando estiverdes acompanhados de Ózis!

Dynes e Térax se levantam rapidamente. Eles saem do grande salão com passos apressados, onde permanece com elevada pressão.

No silêncio que se segue, observo Máterum. Apesar do pouco tempo que o conheço, a complexidade de seus sentimentos é palpável. A guerra contra os deuses renegados pesa em seu coração, não apenas como um conflito, mas como uma tragédia pessoal. Há uma dor em seus olhos, uma mágoa que vai além da batalha, invadindo as profundezas de sua alma; uma dor pelo amor perdido, pelos filhos que agora enfrenta como inimigos. Filhos os quais nunca deixou de amar.

As Crônicas de Marum - O PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora